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Escrevo hoje a última coluna de um ano que não foi melhor nem pior do que os anteriores. Até porque nosso calendário universal é apenas um entre tantos que seguem seus próprios ritos – como o chinês, judaico, muçulmano –, esses mais esotéricos do que convencional. A verdade é que a roda (ou a bola) está sempre girando e a vida em si é mais do que calendários, órbita gravitacional e futebol.

Seguindo o hábito, sento de frente para a folhinha que marca 11 de dezembro (gregoriano), dia em que se comemora o nascimento de Noel Rosa. Noel, que dispensa quaisquer adjetivos, morreu cedo, aos 26 anos. Pouco tempo de vida na proporção do brilho de sua obra. Como ele, Castro Alves, nosso poeta maior, morto aos 24 anos. Bastam poucos anos, meses, até minutos para fazer história. Em 1958, Djalma Santos jogou apenas a partida final na Copa do Mundo da Suécia e foi eleito o melhor lateral-direito do mundo.

Não é necessário viver muito, desde que se viva intensamente. É a roda da vida. Perpetuar é assunto para a Academia Brasileira de Letras. Aliás, o que me faz refletir sobre as eleições do Atlético neste sábado. Em que o descontentamento geral com Mario Celso Petraglia está no fato de que técnicos e jogadores – que devem criar vínculo – são negociados como peças de brechó, enquanto ele não larga o osso.

A entidade Clube Atlético Paranaense é imaterial. Gostar do Atlético como torcedor é para muitos. Ter orgulho pelo Atlético, como paranaense, é para todos. Excetuando apenas os fundamentalistas, mas aí é outra história. Lembro-me de Abílio Ribeiro, presidente do Rubro-Negro, distribuindo carteirinhas de sócio juvenil para os alunos do Colégio Estadual do Paraná. Pessoal e gratuitamente.

A generosidade do clube, na época, foi tão bacana, que nós, estudantes – torcedores do Ferroviário, Coritiba e do próprio Atlético, claro –, assistimos a todos os jogos na Baixada durante a campanha e o título daquele ano. De graça, evidente, e protegidos pela acanhada marquise das sociais. Muitos que não torciam pelo clube passaram a torcer. Aqueles que mantiveram sua fidelidade de origem criaram, no mínimo, uma enorme simpatia.

Ao vencedor das eleições deste sábado, a prudência recomenda que se resgate tão logo a popularidade e a simpatia atleticana. O perfil, a alma, a essência atual, não é a mesma da apaixonante entidade Clube Atlético Paranaense. O movimento na Baixada, antes irreverente, criativo, alegre, colorido, mudou o tom, a cor e a voz. Tem sido ao longo dos últimos anos estressante, acinzentado, amedrontador. Um pote até aqui de ódio.

O Atlético precisa de um comando que tenha mais consistência que aparência. Mais fundamentos do que argumentos. E que não deixe florescer em si a mosca azul.

A vida está sempre girando e nós fazemos parte desse movimento cíclico.

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