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Paraná Clube, maior ganhador da década de 1990, é hoje o campeão mundial de perdas patrimoniais. Acaba de ‘doar’ o Érton Coelho Queiroz por R$ 11 milhões – o que significa o valor absurdo de R$ 176,00 por metro quadrado (66 mil metros quadrados sem computar benefícios). Arrematado no leilão de quinta-feira, o estádio de jogos memoráveis já abrigou até 18 mil torcedores, numa das cinco finais de campeonato.

O que aconteceu foi um mix de pouco caso, inexperiência e desorganização. Isso tem ocorrido em vários clubes com relação ao próprio corpo jurídico, que geralmente não é ouvido, ou é mal conduzido. O Coritiba caiu para a Série B em 89 por entender que uma liminar não o obrigava jogar contra o Santos, em Juiz de Fora. Por teimosia, pagou um preço altíssimo. A Portuguesa, em 2013, escalou um jogador sem condições contra o Grêmio e naufragou. Foi um caso de negligência do jurídico, avalizada pela presidência. A Lusa sobrevive na bacia das almas. Os clubes não investem forte para ter advogados ótimos. Pagam caro por isso.

No caso do Paraná, foi uma sucessão de erros. Atolado em dívidas, deveria – e foi aconselhado sobre isso – compor um ato trabalhista, com todas as execuções centralizadas numa única área, blindando assim o patrimônio, que se vendido, seria a preço de mercado. Nunca pelos míseros R$ 10 milhões que devem sobrar, quitando apenas nove ações. Na proposta, o clube seria beneficiado ainda com a carência de três meses, livrando-se de qualquer penhora imediata. Pura indolência.

Têm mais. Há dois meses diziam que Ricardo Pinto era amigo e que seria fácil compor a dívida. Não aconteceu. Também foi delegada a alguns vereadores, uma ajuda política – o que teria lógica, se houvesse tempo. E havia. Só que deixaram para a véspera do prazo final. Por zelo, um plano B sempre é prudente. Não havia.

Enfim, a tese da inalienabilidade, solicitado ao apagar das luzes, foi indeferida, deixando clara, no mínimo, a inabilidade jurídica. Estranho.

Bem, no momento, o clube expressa a mesma linguagem do boleiro que está perdendo o jogo durante o intervalo. “É, tomamos um gol de bobeira, mas vamos reverter no segundo tempo”. Claro que é isso que o torcedor quer ouvir e espera. Todos nós queremos também que o Tricolor anule o leilão. O arrematante, porém, é poderoso e no momento está dono do jogo. “Leilão perfeito, acabado e irretratável”, concluiu o Juiz.

Torço pela virada em segunda instância e que o Paraná não perca mais uma. Enquanto isso, pela frequência modulada do rádio, Chico Buarque provoca: “Diz que Deus dará/Não vou duvidar, ô nega/ E se Deus não dá/ Como é que vai ficar, ô nega/ Diz que Deus diz que dá/ E se Deus negar, ô nega/ Eu vou me indignar e chega? Deus dará, Deus dará...

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