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Vivemos outra crise, a falta de elegância. E que afeta todas as áreas, do campo político ao planalto do futebol. E que passa por artistas e chefes de estado. E que se alastra. É raro ver nas pessoas elegância de comportamento. Especialmente entre aquelas que se destacam. A elegância pelo menos faz bem e ameniza.

No dia de hoje (ontem), completou dois anos da morte de Nilton Santos, o mais completo zagueiro de todos os tempos. Foi o símbolo da elegância, da classe, do trato com a bola. Tive a graça de vê-lo jogar algumas vezes pela seleção e pelo Botafogo. Nilton Santos encantava a todos, fossem eles brasileiros ou não.

Guardo com muito carinho o livro “Minha bola, minha vida”, que recebi do próprio mestre, personalizado com singela dedicatória. Foi no dia do lançamento em Curitiba, quando tive a felicidade de levá-los (ele e a esposa Maria Célia) na TV Educativa para uma entrevista dentro do programa “Cartão Verde”, com Juca Kfouri e Flávio Prado comandando de São Paulo.

No prefácio do livro, o talento de outro craque, este da palavra, o jornalista Armando Nogueira. “Tinha [Nilton Santos] o dom de aveludar a bola quase sempre áspera que ronda uma pequena área. Dominava, como ninguém, tanto a arte de fazer como de evitar um gol. Antes dele, nenhum zagueiro ousava ir à frente, com galas de atacante. Pois ele cometia essa doce imprudência com espontaneidade dos gênios da bola”.

Mais adiante: “Seu segredo? Ele próprio me confessaria, minutos depois de sagrar-se bicampeão do mundo no Chile, em 1962: Armando, sou amigo de infância de todas as bolas deste mundo”.

A elegância do comportamento somada ao talento natural é admirável. Nilton foi assim dentro e fora de campo. Ser elegante no comportamento, é ser sincero sem agressividade. É ser gentil sem afetação. É não usar um tom superior de voz. É uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, seja cada vez mais rara.

A semana política, porém, foi marcada por frases onde o escárnio venceu o cinismo, como bem definiu a ministra Carmen Lúcia, do STF. À vulgaridade de trechos da gravação que indignou o país – “O japonês [policial Nilton Ishii] é bonzinho”, “Por uma questão humanitária (sic) queria que ele [Cerveró] saísse da prisão”, “Eu acho que nós temos que centrar fogo do STF”–, e por aí vai, soma-se uma pérola vinda do futebol.

Del Nero, que preside a CBF, e que tem medo de ser preso caso deixe o país, disse na cara dura: “Deixo o Comitê Executivo da Fifa para dar atenção integral aos debates e temas do futebol brasileiro”. Sem comentários.

Apesar de tudo, os deuses falam mais alto. Moribundo, aos 99 anos, Havelange (em vida) sabe que Nilton Santos, morto aos 88 anos, ele sim, eterniza seu nome no “Engenhão”. Patente que já foi do cartola.

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