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Nesta parada técnica de final de ano, nós, da comunicação esportiva, saímos do campo para beber fora dele a água sagrada de outras áreas e respirar o ar fresco de diferentes segmentos. Depois então entramos no ritmo do jogo.

Livros, filmes e peças teatrais de qualidade ajudam a relaxar e refletir. No cinema, entre outros, assisti nesta pré-temporada a O garoto de Liverpool, biografia da adolescência de John Lennon, entre seus 15 e 20 anos. Retrata de passagem a importância de Mc­­Cartney em sua vida, mas o foco principal é sua conturbada relação familiar. A mãe o abandona, o pai vai embora e é a tia quem lhe dá abrigo. John tinha apenas dois anos.

Como todo adolescente, o ex-beatle cometeu excessos. Surfou em ônibus, brigou, bebeu. Nada porém na dimensão das feridas provocadas por um sofrimento emocional tão profundo. Sem mágoas, ele sublima a dor e po­­tencializa na música seu imenso ta­­lento. Perdoou tudo e todos. Foi um forte.

No futebol, como em outras á­­reas, muitos carregam suas feridas sem torná-las públicas. Al­­guns superam; outros, não. O gênio, porém, não tem sangue de barata. Ele reage, embora só o fa­­ça quando se esgotam todos os graus de tolerância.

Garrincha e Pelé, torturados pelos marcadores, reagiam. Sem choro, sublimaram a injustiça com atuações geniais. Ganharam os títulos e foram eleitos os me­­lhores de cada Mundial. Na dor, o gênio busca obsessivamente, a perfeição. E entre eles há uma sintonia fina.

Paul e John foram imbatíveis enquanto juntos. Com Pelé e Garrincha no mesmo time o Bra­­sil nunca foi derrotado. Solo, John venceu tudo, menos a arma fatal de um psicopata. Garrincha na seleção perdeu apenas um jogo, o último, e em Liverpool. Foi em Liver­­pool também, que os dois maiores jogadores de todos os tempos se despediram juntos na seleção. A seleção ganhou por 2 a 0 da Bulgária. Um gol de cada.

Estes quatro talentos tinham algo em comum nos anos rebeldes. Por outro lado, Liverpool foi uma cidade mágica, de dor e compaixão, de futebol e som, de ge­­nialidade. Provocou em mim a lu­­cidez. O filme recarregou mi­­nhas baterias. É ótimo.

Do sagrado ao profano

Agora é hábito os atletas rezarem no túnel de acesso. No campo, outra vez fazem um círculo fechado e curvam-se como jogadores de rúgbi. Deve ser a prece de reforço. Mas a bola rola e ninguém mais perdoa quem os tenha ofendido.

Esta semana testemunhei Rafinha, Jéci, Javier Méndez, Ma­­noel, Iván González e Tcheco quebrando o pacto. Todos foram ex­­pulsos. Que pecado!

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