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 | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

Quando entrar na Arena Baixada quarta-feira, para assistir ao primeiro jogo oficial do Atlético em seu estádio após 1.004 dias, o torcedor rubro-negro deve um agradecimento duplo a José Carlos Farinhaki. Presidente do clube de 1990 a 93, foi ele quem bancou a volta do Pinheirão para o Joaquim Américo. Um desafio para um Atlético quebrado e inquilino de Onaireves Moura, então presidente da Federação Paranaense de Futebol. Em 2011, sua articulação junto aos conselheiros foi fundamental para que Mario Celso Petraglia conseguisse aprovar o modelo de negócio da reforma do estádio, com autogestão ao invés de parceria com uma grande construtora. No fim do mesmo ano, ele fez campanha para a volta de MCP à presidência do Furacão. Seu último ato na vida política rubro-negra.

Entre 2012 e 2013 dedicou-se a cuidar da esposa, Yara, que morreu de câncer ano passado. Na sexta-feira à tarde, ele recebeu a Gazeta do Povo no seu apartamento, a duas quadras da Arena. Contou histórias de um Atlético que não existe mais, lembrou da volta para casa em 1994, falou das transformações no estádio nas duas últimas décadas e, claro, engrossou a expectativa por voltar a apoiar o clube de perto, agora no Caldeirão padrão Fifa.

O torcedor tem muito nítida a imagem do Atlético moderno, da Arena, do CT do Caju. O que era o Atlético em 1990, quando você assumiu o clube?

Eu virei presidente do Atlético no Beck’s Bar [na Água Verde]. Estava tomando uma cerveja com o Valmor Zimmerman [presidente] e o Mário Henrique [radialista]. O Atlético estava sem dinheiro nenhum, na Série B e ninguém queria ser candidato. Eu trabalhava com jogador e tinha acabado de vender dois, o Paulinho McLaren e o Zé Humberto. Peguei US$ 600 mil na mão naquele dia. Falei para o Mário Henrique por na imprensa que eu ia ser candidato. A ideia era mexer com os atleticanos ricos e fazer um deles ser candidato. Não apareceu ninguém e eu concorri sozinho. Com US$ 600 mil, falei: "Vou ser campeão paranaense e vou subir". Fui campeão e subi! Em algum momento você achou que não daria para manter o clube?

Nunca! Quando me perguntavam o que eu ia fazer, respondia: "Vou ser campeão e vou subir". Só não falei isso quando decidi fazer o estádio. Briguei com o Moura, não tinha como. Ele mandou me dizer que se eu quisesse ser campeão, que fosse jogar no Mato Grosso. Respondi: "Se o preço é esse, vou pagar". Fui o primeiro a peitar o cara. Qual foi a gota d’água para voltar à Baixada?

A gente tinha montado um time em 91 com grandes jogadores que estavam em baixa, como o Éder Aleixo, e chegou à liderança do Brasileiro. O Atlético era líder e iam duas mil pessoas no Pinheirão. Os poucos que iam se juntavam debaixo de onde eu ficava e gritavam "Baixada! Baixada!". Ao mesmo tempo, o Moura me levou no Shopping Müller para falar com o [empresário] Salomão Soifer. Ele queria comprar o estádio para construir um shopping. O Atlético pegava dinheiro e ainda ficava com algumas lojas. No meio da conversa eu falei: "O que é do Atlético ninguém vai vender. Vamos voltar pra nossa casa!" As obras começaram quando?

A gente empatou um jogo com a Portuguesa e a torcida veio me cobrar quando começava a obra. Eu respondi que na segunda-feira. Comprei um caminhão de tijolo e cimento para fazer o primeiro degrau atrás do ginásio. Depois mandei trazer o tobogã e fomos construindo. Enterrei US$ 500 mil no estádio. Saí da presidência no fim de 93 com o estádio pronto para inaugurar. O pessoal que ia entrar no meu lugar pediu para inaugurar o estádio em 1994. Nem me convidaram para a inauguração. Três anos depois, o Petraglia decidiu botar o estádio no chão para fazer a Arena. Como acompanhou essa nova transformação?

O Petraglia me perguntou se eu não ficaria chateado por derrubar o estádio que eu tinha feito. Falei que ia ficar chateado se ele derrubasse o estádio e não fizesse um novo. Ele tinha capacidade, os políticos na mão, que tocasse fogo. Sua relação com o Petraglia sempre foi boa?

Eu que trouxe ele para o Atlético. Fui na casa dele, no Capanema, buscá-lo para a retaguarda rubro-negra. Foi um bem que eu fiz. Trouxe esse cara e ele mudou a vida do Atlético. Depois, em 2011, ele voltou a te procurar durante a discussão do projeto do estádio para a Copa?

Não deram o espaço devido para ele expor o projeto no Conselho Deliberativo. Conheci o projeto e vi que era o melhor para o Atlético. A partir dali, liguei para todos os conselheiros e organizamos grupos para, às terças e quintas, ver o Petraglia explicar o projeto no Shopping Estação. De 302 conselheiros, levamos 284. Falei para ele que se 75% não votassem a favor do projeto, que nunca mais me chamasse para falar de Atlético. O projeto foi aprovado com 78%. Estava na margem de erro [risos]. Como vai ser a sensação de voltar à Baixada mais uma vez remodelada, dando sequência ao que o senhor começou em 94?

Cada vez que sento na cadeira no estádio e olho para o povo, fico feliz por saber que teve minha mão. Liderei um movimento com a participação de muitos outros atleticanos, pois ninguém faz nada sozinho, e me sinto orgulhoso por isso.

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