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Um dos maiores clássicos da literatura é 1984, de George Orwell. Muito mais do que a existência do Grande Irmão – que entrou para o imaginário popular via BBB; valeu, Bial! –, sempre me impressionou na história o funcionamento do Ministério da Verdade. É o centro nervoso do Partido, que, entre seus muitos departamentos, tem um responsável por retificar notícias e discursos do Grande Irmão. Como Eurásia, Lestásia e Oceania viviam alternando períodos de conflito e de aliança, era necessário "alinhar o discurso" para que o Soberano não fosse pego em contradição e, principalmente, sempre antevisse o futuro.

Dei toda essa volta porque lembrei do Orwell ao ler a nota oficial do Atlético em que é anunciado que Manoel não estava afastado e que a decisão de usá-lo neste ou naquele grupo era das comissões técnicas do clube. A nota é uma ofensa a qualquer um com mínima capacidade de interpretação de texto.

A nota anterior, publicada nos embalos da noite de sábado, 12 de abril de 2014, era bem clara ao dizer que "a diretoria do Atlético Paranaense não vai permitir indisciplina… comportamentos indignos… desrespeito às tradições do clube e sua grande torcida"; ao dizer que "a diretoria cobrou veementemente os jogadores"; ao dizer que "ficou decidido, em função do comportamento mostrado e das declarações constantes e claras de que pretende sair…, o atleta Manoel passa a treinar separadamente até que seja negociado com outra agremiação ou até o término de seu contrato, em 31/12/2015".

A disposição do Atlético é clara e ficou por dias exposta em destaque no site do clube. Se a diretoria acha que é hora de reintegrar Manoel – seja por convicção ou por temer um revés na Justiça –, ok. Tem todo o direito de rever sua postura. Mas não de tentar reescrever uma história que ela mesmo roteirizou. A retificação à Orwell ainda teve uma infeliz entrevista do técnico Miguel Ángel Portugal tomando para as comissões técnicas a decisão de remanejar Manoel para o sub-23. Um teatro que teve como ato seguinte a inclusão do jogador na lista de convocados para o jogo com o Cruzeiro. Diga-se, uma pedra solta para Manoel pisar e cair.

O Atlético reintegra Manoel sem o pedido de desculpas pedido pelo jogador e sem reconhecer atraso em direito de imagem ou premiação. Se Manoel viajar e jogar (é o que ele deve fazer), automaticamente aceita a retratação meia-bomba do clube e encerra o assunto. Se não viaja, dá motivo para justificar o rótulo de indisciplinado que foi colado em seu currículo. Essa parte, podem ter certeza, o Ministério da Verdade não vacilará em resgatar se assim for conveniente.

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