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Para quem é adepto do controle de informação, o Barcelona é um oásis. Quase nada passa pelo rigoroso filtro do departamento de comunicação do clube, uma estrutura de fazer inveja a qualquer redação. Seja pelo tamanho da equipe, pela atuação em diversas mídias, pela especialização de quem executa cada função. Há, por um exemplo, um curitibano, Lucas Duarte, ex-colega da Tribuna do Paraná, dez anos de Catalunha, contratado somente para a produção de conteúdo em português para a internet.

Em uma semana de Barça-Madrid, o cerco aperta ainda mais. Os jogadores são proibidos de conceder entrevistas exclusivas a menos de 72 horas do clássico. Como o Barcelona jogou quarta-feira, contra o Milan, pela Liga dos Campeões, significa dizer que ninguém deu entrevista exclusiva na semana do jogo. Ao menos não para os veículos, digamos, comerciais.

Neymar falou com exclusividade à… Barça TV, o canal do clube com forte atuação na internet e uma programação 24 horas por dia na televisão. Noticiários de todas as categorias e modalidades em que o clube se mete, transmissões ao vivo da base, videoteipes da equipe principal, horas de mesas-redondas. Para amanhã, a promessa é de um pré-jogo com duas horas de duração e um pós-jogo a partir do exato momento em que a bola parar de rolar no Camp Nou. Tudo com acessos exclusivos, alguns fora do alcance mesmo de quem paga direitos de transmissão.

Claro, há maneiras de driblar as restrições. Ontem, Messi foi capa do Mundo Deportivo, um dos diários esportivos da cidade. Vestia uma camisa do Barcelona com frases em apoio a Tito Villanova, o técnico que substituiu Guardiola e deixou o cargo para tratar um câncer. Será, também, tema do mosaico organizado pelo clube no Camp Nou. Messi posou por dez minutos para as fotos. A reportagem tem opiniões e impressões de Messi, mas não declarações de Messi. Se não há aspas, não houve entrevistas. E como a matéria é altamente positiva – poucas na imprensa espanhola não são, ainda mais em semana de clássico –, não há incômodo com o drible nas proibições.

Expediente semelhante é adotado com garotos das categorias de base, a famosa cantera do Barcelona. Eles são proibidos de dar entrevista, mas seus pais falam. Por eles e pelos garotos. Ou permitem que os garotos falem, sem que apareça uma declaração deles. Acordos tácitos para que a reportagem saia e a fantástica máquina blaugrana siga funcionando.

A essa altura, parte de vocês deve estar pensando: "Ah, como o Barcelona faz, então pode?". Não pode. Ou melhor. Pode, mas não deveria. O sistema é prático para o clube, que tem menos trabalho para apagar incêndios comuns em entrevistas exclusivas e pode concentrar esforços naquilo que for mais conveniente. Mas é inevitavelmente ruim para o público, privado de um acesso mais amplo e espontâneo ao que acontece no seu clube. Para o jornalista, não deixa de ser uma maneira de deixar o declaratório de lado e fazer aquilo que é o seu dever: jornalismo.

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