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Na quinta-feira, o vizinho de espaço e de bancada Carlos Eduardo Vicelli pediu o fim das torcidas organizadas. Para ele, a medida necessária para acabar com a violência no futebol – demanda atualíssima, como se ainda precisasse de motivo, depois do assassinato de um torcedor do Santos após o clássico com o São Paulo. Pois vou discordar do amigo Carlos e, na verdade, de mim mesmo.

Por muito tempo engrossei o coro pelo fim das organizadas. Se estava tão clara a localização do problema, então seria o caso de cortar o mal pela raiz. Mas depois de tanto tempo acompanhando essa guerra paralela ao futebol, me convenci de que fechar as organizadas renderá belas manchetes, fará alguns políticos conseguirem um caminhão de votos, fará com que todas as pessoas de bem durmam tranquilas por alguns dias e… logo tudo voltará ao normal.

O primeiro ponto é que os grupos que estão dentro das organizadas para brigar vão continuar existindo, sob algum outro tipo de organização. Ou, no máximo, clandestinamente. Se não estiverem vestindo a camisa da organizada, vestirão a do próprio clube e a violência continuará.

Ter uma organizada encobrindo essa turma oferece, no mínimo, um ponto de referência para um combate sério à violência. Esse, sim, é o ponto. E por combate sério quero dizer: sem a participação dos atuais chefes de torcida. Eles devem abrir a lista de seus integrantes, passar todas as informações necessárias e sair do caminho, para que a polícia faça a identificação de quem realmente arruma confusão e aplique nessas pessoas o Código Penal. Ah, sim, não precisamos de mais leis. Tentativa de homicídio, lesão corporal e formação de quadrilha são alguns crimes em que os torcedores violentos podem ser enquadrados. E punidos por eles.

É um processo lento, que exige planejamento, energia, inteligência e trabalho de longo prazo, quatro características difíceis de serem combinadas no Brasil. Mais simples é fechar a porta na canetada e achar que está resolvido. Não está, como ficou claro nas tentativas feitas em São Paulo.

Também é preciso rever um pouco a ideia que se tem da relação clube-organizada. Continua sendo nociva, mas há um elemento novo em times com planos de sócio-torcedor consolidados – é o caso da dupla Atletiba. Para ter lugar no estádio, o organizado se obriga a virar sócio. E se está virando sócio para entrar no estádio, ele está dando dinheiro para o clube. E se está dando dinheiro para clube, é eleitor com direito a voto, como parte de um grupo com alto poder de articulação. Ou seja, o torcedor organizado no Brasil, hoje, dá dinheiro ao clube e voto a dirigente. Uma maioria que merece respeito. Para quem quer confusão, polícia e Código Penal; nada de fazer o favor de empurrá-los para a clandestinidade.

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