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Não há hoje, no futebol brasileiro, torcida como a do Paraná. Estigmatizada pela pouca frequência na arquibancada, foi à Vila Capanema em grande número no último ano toda vez que desafiada por dirigentes ou jogadores. No mesmo período, cumpriu várias vezes uma das missões desses dirigentes: levar dinheiro para o clube. Foi assim diretamente, com o patrocínio da Fúria ou torcedores individualmente. Foi assim indiretamente, quando gente da mesma organizada meteu a pasta debaixo do braço e foi buscar patrocínio.

Não há crise no Paraná sem resposta imediata e ativa dos torcedores. Falta dinheiro para manter o salário em dia? Então faz-se uma vaquinha, por iniciativa de um torcedor (no caso, o Sérgio Bello), para juntar o dinheiro que for possível. A sacolinha arrecadou R$ 7 mil, corretamente repassados aos funcionários. O estádio ficou sujo porque não há dinheiro para pagar a limpeza? Outro paranista inicia mobilização para que, no próximo jogo, a própria torcida limpe as arquibancadas, como os japoneses fizeram na Copa e fazem na J-League.

O Paraná ainda existe por causa da sua torcida. Não fosse por ela, o futebol já teria sido formalmente entregue a um empresário ou já teriam batido na porta de um rival atrás de uma nova fusão. Continuará assim enquanto o torcedor sentir que ainda é possível sonhar com um futuro melhor.

Quem também teve sonhos com um futebol melhor foi Mario Celso Petraglia. Está no Facebook que MCP vinha mantendo sob (quase permanente) hibernação há dois anos. O dirigente elencou uma bela lista de 20 transformações para o futebol brasileiro. Até é possível discordar de algum ponto (eu, por exemplo, considero jogos de torcida única uma derrota da sociedade que não se pode admitir ou defender), mas o pacote é de encher os olhos. Muito do exposto ali está em gestação nas discussões do Bom Senso, de especialistas ou estudiosos em gestão esportiva e mesmo nos ajustes da LRFE. É o caminho para o futuro, desde que seja resolvida uma equação fundamental: como o futebol sonhado por Petraglia pode virar realidade sem matar o idealismo demonstrado por uma torcida como a do Paraná?

Principal referência de profissionalismo, a Inglaterra tornou real um futebol de sonhos de butique. Os clubes ingleses levaram ao extremo o conceito de que torcedor é cliente. Construíram estádios espetaculares onde se celebra um jogo perfeito e frio. A própria Inglaterra percebeu e tem olhado de maneira mais humana para o negócio. O caso mais claro é o estudo para permitir lugares sem assento nos estádios, um tabu no país.

A Alemanha – sempre ela – encontrou o meio-termo. Tem clubes saudáveis, jogos emocionantes, estádios modernos, confortáveis e com espaço para se torcer à moda antiga. Um futebol de sonhos, combinando o melhor de todos um mundos, que o Brasil ainda tem muito a trabalhar para, um dia, ser capaz de construir.

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