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Mano Menezes deu uma boa entrevista essa semana, à ESPN. Embora tenha pisado na bola ao tratar o envolvimento de José Maria Marín com o regime militar como algo menor, o ex-treinador da seleção foi preciso ao diagnosticar o claro atraso do futebol brasileiro em relação ao europeu. Apontou como causa fundamental a exigência absurda por resultados imediatos.

O raciocínio é simples e incontestável: pressionados a dar retorno em campo no menor tempo possível, os treinadores inovam o mínimo possível. Ao apostar sempre na bola de segurança, acabam repetindo conceitos já desbotados ou embarcando em novas ondas quando elas comprovadamente deram certo, quando já não são tão novas assim.

Há exemplos práticos recentes desse discurso de Mano Menezes. Times pequenos invariavelmente recorrem à marcação individual, algo facilmente desmontado em um futebol com movimentação intensa. Nos anos 90, a moda europeia do 3-5-2 caiu como uma bomba no Brasil. Zagueiros sem a menor capacidade de iniciar jogadas foram transformados em líberos. Laterais com DNA defensivo viraram alas que não sabiam apoiar. Na base, a ânsia de criar laterais ofensivos pariu especialistas em tomar bolas nas costas.

A onda atual é o 4-2-3-1. São fartos os exemplos de meias abertos que não sabem jogar pelo lado do campo ou atacantes incapazes de marcar. No fim, jogadores retrocedem, bons valores não se desenvolvem e os times, cedo ou tarde, caem no velho jogo da marcação individual, atletas que mal executam uma só função e equipes totalmente desarticuladas.

Na seleção não é diferente. Felipão assumiu o comando a um ano e meio da Copa. O pouco tempo virou o álibi perfeito para aquilo que o treinador faria de qualquer maneira: montar um time pragmático, capaz de vencer, mas não de deixar uma marca. Não há dúvida de que, com 18 meses de trabalho, Felipão seja o mais capacitado para encontrar uma maneira de o Brasil ganhar a Copa. O Mundial é um torneio curto. O segredo é montar um time capaz de vencer sete jogos em 30 dias. Essa é a exigência feita a Felipão. Entregar uma equipe que execute esse serviço e evite um novo Maracanazo. A obsessão é ganhar, não reconstruir o jeito brasileiro de jogar a partir da seleção.

O legado mais importante da Copa – da mobilidade urbana, dos aeroportos – já está irremediavelmente perdido. O de dentro do gramado, também. No dia 14 de julho de 2014, com ou sem a sexta estrela encomendada, o futebol brasileiro acordará exatamente como acorda hoje: atrasado.

Recesso

Embarco hoje para a cobertura da Gazeta do Povo na Copa das Confederações. A coluna segue sua periodicidade normal, mas, com os olhos e mente do colunista voltadas para a prévia de 2014, o futebol de Coritiba, Atlético e Paraná entrará em recesso também neste espaço pelas próximas duas semanas.

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