• Carregando...

Integrante do primeiro time de escritores nacionais, Ignácio de Loyola Brandão conta que sua vida mudou ao assistir a Oito e meio, filme de Frederico Fellini. Entrou no meio da exibição, não entendeu nada, comprou o roteiro e mergulhou na obra. Emergiu dela com a idéia central de Zero, um de seus trabalhos mais importantes.

"Foi quando vi que na arte podemos fazer o que quisermos. É só não ter medo, é só arriscar. Eu arrisquei em Zero", revelou o escritor, em recente participação no projeto Paiol Literário, em Curitiba.

Essa pequena introdução literária serve de muleta para falar sobre Caio Júnior e Bonamigo. Assim como na arte, no futebol perder o medo de arriscar também é um fator determinante para separar os bons dos medianos, os gênios dos ordinários (no sentido de costumeiro, habitual, é bom que se frise).

Caio parece ter captado rapidamente essa idéia. Mesmo em pouco tempo de prancheta, já mostrou que não tem medo de arriscar. Neste Brasileiro, por exemplo, já escalou o Paraná com dois centroavantes, sem jogador de área, um meia, três volantes, homem de marcação na ala, mandou peças-chave para o banco de reservas. Obteve bons resultados graças à sua ousadia (como a goleada sobre o Grêmio, no primeiro turno), também irritou muita gente por não ter pudor de fazer o óbvio: tirar do time quem está mal, sem se importar com o nome ou a origem do jogador. Em nenhum momento Caio teve medo de arriscar, mesmo sabendo que tudo poderia dar errado.

Com bem mais tempo de carreira – e um currículo mais respeitado –, Bonamigo ainda parece sofrer desse mal. Lembro que em 2003, quando eu cobria o Coritiba, vi vários treinos na véspera de jogos em que ele armava esquemas mais ofensivos, diferentes do que estava habituado a usar. No dia da partida, porém, Bona recorria às suas bolas de segurança.

E é justamente esse medo de arriscar que impede Bonamigo de ser o técnico de ponta que ele poderia ser. Bona prefere insistir mil vezes no seu conceito tático já formulado a arriscar, tentar o novo. Até suas solução para durante o jogo são manjadas. Desperdiça, assim, sua admirável capacidade de armar esquemas táticos competentes (vide o Coxa de 2003).

Pode ser que daqui alguns anos, quando Bonamigo e Caio, que são amigos, se encontrarem para revisar suas carreiras, o técnico alviverde tenha mais conquistas. Algo perfeitamente possível em um futebol cada vez mais semelhante a uma ciência exata. Mas certamente o paranista terá armado times mais inesquecíveis, daqueles que o torcedor lamenta não ter revertido seu jogo vistoso em títulos.

Frases de vestiário

Adeptos a estratégias motivacionais, os treinadores costumam recorrer com a freqüência a frases ou pensamentos impressas em cartazes colados nas paredes do vestiários. Eis uma singela contribuição deste colunista interino para os nossos clubes.

"Não há lugar como o lar." (De Dorothy, no encerramento de O Mágico de Oz, perfeito para as paredes do novo vestiário da Vila Capanema).

"O jogo só acaba quando termina." (De Neném Prancha, filósofo da bola, ideal para ficar na Arena, pertinho do armário do William).

"Você pode driblar o time deles inteirinho, até o goleiro, mas se chutar para fora já era, está morto, a torcida vai te arrancar o couro, vai te comer vivo. Vale gol de bico, de canela, peito, pescoço, cotovelo, até gol de bunda vale, o centroavante precisa é enfiar a bola lá dentro, fazer o gol, é para isso que ele serve, não é para dar passe certo, desarmar, é para fazer gol, e pronto." (De Flávio Carneiro, escritor, no conto "Penalidade Máxima", que bem poderia suceder a oração dos jogadores do Coritiba na boca do túnel do Couto Pereira).

O colunista Carneiro Neto está de férias.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]