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Li e ouvi a pergunta acima várias vezes nas últimas semanas. Surgiu a cada notícia, tuíte ou atualização de status sobre a dificuldade deste ou daquele clube em manter suas obrigações em dia. Há uma corrente numerosa de torcedores e colegas que têm pânico ao assunto. A argumentação se baseia em três pontos: 1) Vocês não falam do rival; 2) Esse tipo de informação desestabiliza o ambiente; 3) É assunto interno do clube.

O primeiro argumento é derrubado pelos fatos. Hoje, os três principais clubes do estado têm algum tipo de atraso de pagamento. Coritiba e Paraná, carteira e imagem. Atlético, somente imagem – uma diferença teórica que, na prática da Justiça do Trabalho, não existe, mas a diferenciação é sempre necessária.

Se há algum prejuízo ao ambiente, a causa é o atraso em si, não a informação se tornar pública. O ambiente pode, sim, ser arranhado se na carona da informação do atraso vier a presunção de que um time está deixando de ganhar ou se empenhar por falta de dinheiro. É o pensamento fácil, eternizado pela lei de Vampeta: "Eles fingem que pagam, a gente finge que joga". É perfeitamente possível jogar com empenho e vencer sem receber em dia, por mais que o salário atrasado provoque um strike na vida de qualquer um.

O Paraná já demonstrou várias vezes a capacidade de deixar o problema financeiro do lado de fora. O Coritiba levou essa demonstração a outro nível no Atletiba. O Botafogo venceu o Corinthians heroicamente mesmo com salário atrasado. O Olimpia, do Paraguai, foi até a final da Libertadores do ano passado sem receber havia meses. E assim por diante. Da mesma maneira que, mundo afora, times bem pagos, em dia, fracassam simplesmente porque são ruins ou não deram certo.

Tratar salário como "problema interno" é fruto de um pensamento preguiçoso e preso a um tempo que não existe mais. Clubes são empresas privadas e questões salariais dizem respeito somente a essas empresas e seus funcionários, como em qualquer outra empresa, dizem os defensores dessa ideia. Errado.

Clubes de futebol têm um número considerável de sócios e trabalham para aumentar cada vez mais essa carteira. Beiram, em determinados momentos, à chantagem emocional. Dizem que torcedor de verdade se associa e que sem esse dinheiro de sócio é impossível fazer futebol hoje. Todo esse discurso tem um reflexo. Quem é sócio tem o direito de saber para onde seu dinheiro está indo, mesmo que hoje não seja possível bancar a folha salarial apenas com mensalidade. E para quem está fora pensando em se associar, saber se o clube paga em dia é informação importante na hora de decidir pela adesão a um plano. É justo que o torcedor saiba se o uso inicial do dinheiro dele será investir no futuro do clube (jogadores, base, estrutura) ou apagar incêndio do passado.

Em suma, é informação útil para o torcedor. Por isso, faz parte do futebol. Se os clubes quiserem tirar o assunto da pauta, que se organizem para assumir apenas compromissos que tenham capacidade de honrar.

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