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Enquanto a bola rolava no Couto Pereira, dedicava toda atenção ao primeiro aniversário da minha Helena. Uma ou outra olhada na tevê permitia saber o andamento da final no Couto Pereira. Mas o jogo mesmo, por completo, só fui assistir à noite, gravado, com placar, vilões e herói conhecidos. Uma partida já despida de surpresas deixa apenas migalhas técnicas e táticas que servem muito mais a quem vive de analisar futebol. Mas o Atletiba deixou boas histórias, exemplos de dedicação e emoção que pegam desprevenido mesmo quem sabia o que esperar.

Alex é um personagem em extinção no futebol. Há jogadores identificados com seus clubes por passar a carreira inteira neles – e conquistando títulos. Rogério Ceni é o caso mais evidente. Mas Alex é diferente.

Ele deixou o Coritiba como mais uma revelação perdida precocemente e a baixo custo. Quantos não foram embora assim para cair no esquecimento? Alex contrariou essa lógica. Sua relação de amor com o Coxa e a torcida só aumentou com o tempo e a distância. Somente quem já manteve um relacionamento a distância sabe o quanto é difícil alimentar um amor sem materialidade, quanto é difícil não cair na tentação da traição nem ter a falsa impressão de que o sentimento acabou.

O de Alex se manteve firme e a volta ao Alto da Glória tornou-se a fagulha necessária para reacendê-lo. Ele mesmo disse que não se via como ídolo por não ter conquistado um título pelo Coxa. Uma formalidade desnecessária. O próprio Alex reverencia Pachequinho, um ídolo sem título. E venera Tostão, um ídolo com títulos e gol em Atletiba.

O que só prova que não há lógica na escolha de um ídolo por uma torcida. Seja qual for o caminho, Alex o percorreu com louvor. O título é muito mais uma satisfação de um torcedor privilegiado que tem a oportunidade de jogar pelo seu time.

Enquanto Alex discursava no centro do gramado do Couto Pereira, outras duas belas histórias se desenrolavam. Bruno Costa, chorando, desnorteado, chegou a ir em direção ao árbitro. Uma reação automática de quem entregou até a última gota de suor por um título que mudaria a vida dele e de todos aqueles garotos.

A de Douglas Coutinho já mudou. Ignorado pelos pais, criado pela avó, morta recentemente, o atacante relembrava emocionado sua trajetória. Coutinho já é um vencedor na vida. Driblou o mais cruel adversário de um ser humano, a indiferença dentro de casa. Ludibriar zagueiros e estufar redes é moleza. Coutinho faz isso como ninguém. Tem um futuro brilhante pela frente, como Bruno Costa, Santos, Hernani e outros garotos que já cumprem o requisito mínimo para se tornar um ídolo atleticano – o de que a camisa rubro-negra só se veste por amor.

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