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Estórias e exageros fazem parte do imaginário esportivo. No futebol, então... Encher a boca ao descrever um pequeno fato, valorizar os detalhes, dão graça aos relatos – mesmo em um jogo ou campeonato "sem sal". Por isso, normalmente, as pessoas tomam a liberdade de contar momentos do seu time em ritmo de fábula.

O momento é propício para deixar o imaginário tomar conta. Aliás, apenas com algum romantismo tem-se alguma graça nos momentos de tensão. Vale apenas então o esforço para transformar um dirigente em "super-herói", o jogador meia-boca em "deus da raça", o ídolo em "deus na terra". Puro e divertido maniqueísmo, por vezes uma rota de fuga para administrar as mazelas do clube amado.

Mas, por manipulação, burrice ou ingenuidade, certos torcedores fazem desse tipo de criação – algo tão simplório quanto historinhas de Maurício de Sousa – um dogma impiedoso. Passam a acreditar mesmo que o cartolão não erra, o atleta nota 5 só merece elogios e o craque é mais do que um filho em campo. Quem não vê "qualidades tão visíveis" nos ídolos são inimigos, falsários, ridículos, conspiradores. Merecem uma reação agressiva para "conhecer o preço da mentira".

Muito da violência nos estádios passa por essa loucura de transformar fantasia em realidade. E os grandes irresponsáveis pela pregação ficcional, em regra, são os mandatários do esporte. Apenas para eles interessam a alienação completa. Alimentar o discurso de botequim sobre a paixão clubística ajuda na desconstrução das críticas. Na garupa dessa estratégia pueril, vem a pior face da rivalidade.

O roteiro de branca de neve que envolve o futebol tem um fundo fascista incrível. Quem não adora, idolatra ou defende sua agremiação talvez nem mereça uma mão estendida. São inimigos, muitos (acredite) entrincheirados do mesmo lado. Que loucura.

Neste pacote de ilusões que envolve a bola, a Copa do Mundo, por exemplo, é uma espécie de best-seller. "Seremos outro país após o evento", pregam. "E o legado?"; "Os investimentos?". Quando alguém pede a voz para dizer que o andamento das coisas aponta para o desperdício, a falta de planejamento urbano, nenhuma herança razoável aos mais necessitados, a gritaria é enorme – normalmente por parte dos beneficiados com a bagunça.

Sábado veio à tona a seguinte declaração (não importa o autor, espécie de Christian Andersen, autor de O Patinho Feio, dos temas egocêntricos): "São 12 sedes da Copa e apenas uma não está em festa". A figura se referia a suposta insatisfação de Curitiba, embasado por questionamentos diários sobre legado para cidade e custo da Arena. Surgem as questões: alguém duvida do exagero? Será que todos estão felizes, menos os curitibanos?

E assim se faz a fábula. Uma dose cavalar de falso purismo e nenhuma reflexão.

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