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A queda do River Plate para a Segunda Divisão do Campeonato Argentino é sintomática. Representa não apenas a decadência do futebol vizinho. É um recorte da própria crise que a sociedade argentina enfrenta desde o início dos anos 2000, quando a bonança ilusória da equiparação peso-dólar foi rompida pelo pesadelo mais assustador dos países latino-americanos: recessão e inflação.

A moeda desvalorizada cobra um preço alto dos clubes hermanos. Os impede não só de manter os melhores atletas no plantel, diante das ofertas do futebol europeu, mas também de repatriar craques que estão no estrangeiro, a exemplo do que as equipes brasileiras têm conseguido fazer com certa frequência nos últimos anos. O resultado disso são jogos lastimáveis do Campeonato Argentino, que beiram a vergonha.

Com o dólar a quase 1,50 real, é muito mais fácil de montar e manter um time do que com a moeda norte-americana beirando os 4 pesos. Levando-se em conta que os direitos federativos dos jogadores viraram praticamente commodities – mercadorias primárias com cotação de preço internacional –, para adquirir o passe de um jogador no valor de 1 milhão de dólares, por exemplo, um clube brasileiro precisaria desembolsar aproximadamente 1,5 milhão de reais. Valor muito menor do que o que um clube argentino precisaria juntar na sua moeda para chegar ao mesmo 1 milhão de dólares: aproximadamente 4 milhões de pesos.

Com tamanha dificuldade, a fuga de talentos do futebol argentino nunca foi tão grande. E não só para o mercado europeu. O próprio Brasil virou o destino de boa parte dos jogadores portenhos. Inclusive de estrelas, como o meia D’Alessandro, cria do rebaixado River Plate e hoje ídolo com a camisa do Internacional de Porto Alegre.

A disparidade do mercado futebolístico argentino é tanta, que não é exagero dizer que o país virou a mais nobre prateleira para o futebol brasileiro. Tanto que os clubes daqui, em especial os gaúchos, principal destino dos gringos no nosso país, começam um movimento para tentar forçar a CBF a aumentar a cota de atletas estrangeiros de quatro para cinco por equipe. Pressão que é fruto do baixo custo que os jogadores uruguaios, paraguaios, chilenos e, principalmente, argentinos, representam atualmente ao mercado brasileiro.

Em outras palavras, enquanto que no Brasil a queda de um clube grande à Série B pode ser vista como reflexo da evolução das equipes menores, que, com economia estável, conseguem de certa forma se equiparar às grandes, na Argentina é o contrário: as equipes pequenas não estão evoluindo e as grandes estão regredindo.

Serão tempos difíceis para o River Plate.

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