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Este cartunista – e dublê de cronista esportivo – volta de férias desconfiado de que não saiu realmente em férias. Parece impossível tirar férias, férias de você mesmo. Se desse para você não levar você junto, quem sabe seria mais divertido. Mas você está sempre ali com você, colado, aborrecendo. Você é aquele chato que infelizmente você tem de levar na bagagem em seus dias de folga.

Talvez vem daí o porquê de me sentir ainda um tanto cansado, estressado, sem muita disposição em pensar em futebol. Nem mesmo uma redação daquelas de colegial, na volta às aulas, quando a professora pede para contar como foram suas férias, escreveria.

Portanto deixarei esta tarefa por conta de Tiaguinho, que está aqui do meu lado me atazanando para liberar o computador para que ele possa jogar o Winning Eleven 10. Enquanto ele não conseguir fazer um gol de bicicleta, ele não me deixará em paz.

Digo a ele que libero o computador, contanto que escreva uma redação sobre suas férias para eu publicar no jornal. Ele sorri e aceita o desafio. Toma minha cadeira e manda bola (fiz as correções, claro):

Minhas férias, por Tiaguinho

"Nas minhas férias eu fiquei me­­ta­­de em casa, fazendo tarefas pendentes, e metade fui à praia. Choveu quase todos os dias na praia e fiquei sem notícias da pré-temporada de meu time. Senti muita falta de ver meu ti­­me jogando. É muito chato ficar sem futebol. E na praia com chuva.

Levei minha bola para brincar com papai na areia. Quando parava de chover, a gente ia para lá bater uma bolinha. Havia duas traves em uma parte mais lisa da areia. Era muito longe uma da outra, e meu pai e eu encurtamos a distância. Só tinha eu e ele para jogar. Mas daí chegou uns meninos e fizemos dois times, três para cada lado. Tivemos de afastar novamente as traves. Nisso apareceu um cachorro grande, forte, branco como a areia. Queria brincar também. Corria atrás da bola onde ela fosse, tirando fácil de nossos pés. Ele daria um bom zagueiro. Chamei ele de Dunga. Seu olhar meio tristonho, meio zangado e a língua para fora me lembrava o Dunga.

Como não conseguimos mais jogar, decidimos fazer o Dunga de bobo. Nos colocamos em círculo bem aberto e num só toque botamos Dunga na roda. Mas o danado era muito rápido. Pegou a bola de mim várias vezes.

Daí aconteceu uma tragédia. Dunga furou a bola com seus dentes. Ele acabou com a brincadeira e parecia saber disso. Olhava para nós e para a bola murcha entre suas patas dianteiras. Seu olhar ficou ainda mais triste. Acho que não sabe que seus dentes furam. Então começou a chover de novo e fomos para o chalé que o pai tinha alugado. A bola furada ficou num canto do meu quarto.

Papai disse que iria consertar ela. Mas eu queria mesmo era uma novinha, como este ano que está começando".

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