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Meu filho, que é engenheiro especializado em meio ambiente, me deu de presente uma árvore para plantar. Ela já está majestosa no jardim.

Dizem que toda pessoa precisa na vida ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. Tenho dois filhos e escrevi um pequeno livro sobre futebol, sem nenhuma pretensão literária. Faltava plantar uma árvore.

Vejo esse ditado como uma metáfora. Mais importante que escrever um livro e contar uma estória é vivê-la do seu jeito. Cada um tem o seu.

Plantar uma árvore tem mais o sentido de viver em harmonia com a natureza, e não destruí-la, como tem feito o ser humano.

Ter um filho significa criar fortes laços afetivos e duradouros. Vai além de constituir uma tradicional família. Quem não teve um filho porque não pôde ou não quis, não será também menos feliz, nem menos humano ou menos solidário.

Nesses meus 60 anos, apesar de ser pouco sociável, criei fortes e poucos laços afetivos, alguns para sempre. Fiz a minha estória do meu modo, mesmo bastante incompleta. Se não fui um defensor público da natureza, a respeitei e a amei no silêncio.

Cometi também vários pecados, como todos os humanos. Uns mais, outros menos. Ninguém passa pela vida sem cometer erros, criar seus fantasmas e sem a consciência de que poderia fazer e ser melhor.

Tive várias profissões, ou melhor, várias vidas. Fui atleta profissional, médico, professor de medicina, comentarista de televisão, e agora sou cronista, colunista de jornais e comentarista de rádio. Fiz tudo com várias limitações, porém sempre com vontade de fazer melhor.

Quase me tornei psicanalista, já que completei meu curso teórico. Não me sentia capaz de desvendar os mistérios da alma dos outros, já que não conseguia compreender nem mesmo os meus.

A finitude da vida, saber que ela cada vez fica mais curta, me incomoda, às vezes me angustia, mas ser um sexagenário não significa deixar de sonhar, de procurar desafios. Não sou também obrigado a mudar. Gosto do que faço e vivo um momento encantador em minha vida.

Hoje, gosto mais do cotidiano, das pequenas coisas, de ver, sentir, sem ser obrigado a entender. Sou também mais distraído, menos convencional e menos utilitarista. Aprendi a viver melhor com os mais jovens.

Lacan disse que a vida se passa em três níveis: o real, o simbólico e o imaginário. O real é o mundo da natureza, dos instintos e dos desejos irracionais. "O real é impossível", dizia Lacan.

Para sobreviver e evoluir, o homem sublimou, reprimiu seus instintos e criou o mundo simbólico, da cultura e da civilização. É o mundo em que vivemos a maior parte do tempo. "Tudo é símbolo. Serei também um símbolo?" (Fernando Pessoa).

Mas não dá pra viver todo o tempo simbolizando e representando. É muito chato. Precisamos sonhar. Aí os homens, principalmente os artistas, criaram o mundo imaginário. Os artistas embelezaram o mundo.

Vivo a maior parte do tempo no mundo simbólico, racional, prático, porém gosto mesmo é do mundo imaginário, analógico, subjetivo, do mistério. Quanto mais envelheço, mais me refugio nesse outro mundo, sem perder a razão e a praticidade.

Tenho muitas outras coisas para divagar, mas terminou o espaço. O mundo tem uma realidade, regras que precisam ser cumpridas e respeitadas, mesmo para um sexagenário.

tostaocoluna@hotmail.com

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