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O futebol pode ser visto de várias maneiras. Todas as visões são importantes e nenhuma exclui a outra. Como comentarista, faço um esforço, mas é muito difícil ter o mesmo olhar para todas as possibilidades. Em qualquer atividade, é quase impossível ser um observador totalmente neutro.

A consciência e o raciocínio lógico não possuem também a autonomia que pensamos ter. Somos influenciados em nossas opiniões pelos nossos conceitos, preconceitos, medos, fraquezas e convenções sociais. "A consciência nos faz todos covardes" (Shakespeare).

Muito enxergam o futebol como um entretenimento prazeroso, um balé, uma metáfora da vida. As pessoas que não entendem nem querem entender os detalhes técnicos e táticos e que não têm o olhar crítico e viciado de um comentarista, costumam se deliciar mais com o espetáculo.

Mas como o futebol no Brasil e em muitos países se tornou um palco de violência, dentro e fora de campo, um show de exibicionismo de alguns treinadores – mesmo sem querer, às vezes incitam a violência – e uma disputa física e agressiva entre os atletas, uma partida é hoje mais uma batalha de hostilidades e de desrespeito do que um evento lúdico e prazeroso.

Muitos torcedores só gostam de torcer e de vitórias, e não do bom futebol. É hoje a maioria entre os que vão aos estádios.

Há ainda os apaixonados pelo futebol científico e que quase só apreciam a técnica, as estatísticas e as estratégias para vencer. Quase todos os treinadores são assim. Compreendo, por causa da tensão que vivem e da necessidade de vitórias, mas a imprensa não pode ser cúmplice dessa visão tecnicista. Temos de cobrar bons espetáculos.

A técnica, a tática e a estatística são fundamentais, mas não são tudo. Não gosto de números, mas reconheço a sua importância para a análise correta dos fatos, desde que sejam utilizados e valorizados no momento certo.

Em mais uma ótima reportagem, Paulo Cobos mostrou essa semana da "Folha", com números e conclusões, que o São Paulo é um bom representante do futebol de poucos gols do Campeonato Brasileiro, fato que acontece em todo o mundo.

Esse foi também um campeonato sem brilho técnico. O São Paulo mereceu o título, tem um bom time, porém não é uma grande equipe, comparando com os principais times da história do futebol brasileiro.

O São Paulo foi o time que fez mais gols (64), com a média de 1,7 por jogo, bastante inferior (20% a menos) às do Cruzeiro em 2003 e do Santos em 2004, que fizeram mais de 100 gols. Dos gols do São Paulo, 31% foram de bolas paradas. Por isso, mais de um terço foi marcado por defensores.

O grande número de gols de bolas paradas no futebol foi um avanço em relação ao passado. Porém, os técnicos precisam também treinar outras jogadas. As trocas de passes, tabelas e dribles, continuam eficientes e o jogo fica muito mais bonito.

Além do pouco talento individual, da insegurança e desconforto dos estádios, e, principalmente, da violência, que é um problema de todo o país, a queda de público nos últimos anos é decorrente do estilo pesado, feio, de poucos gols e de muitas faltas. Dirigentes, treinadores, atletas e a imprensa precisam ter consciência disso.

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