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Há 13 anos acompanho futebol com o técnico olhar de um analista e com o olhar de um apreciador do espetáculo. Sempre defendi e sonhei com o futebol bonito e eficiente. Sou um racional sonhador.

Como diz a linguagem do futebol, é preciso jogar e não deixar jogar. Time que não marca bem não vence. Mas para isso, não é necessário jogar feio, fazer muitas faltas nem atuar na retranca.

O Grêmio marca muito, é eficiente e ofensivo. Isso ocorre porque o time pressiona o adversário e toma a bola mais próximo do outro gol. Essa postura não acontece somente pela vontade do técnico ou pela garra dos atletas. É necessário saber fazer e treinar.

É prazeroso ver uma equipe organizada como o Grêmio. O Santos também é (não nesse último jogo), com um outro estilo. Há várias maneiras de jogar bem e de jogar mal; de ganhar e de perder.

O Grêmio não dá espetáculo porque não tem craques, e não por causa da forte marcação e do seu estilo. Já imaginou uma equipe com Ronaldinho, Kaká e outros craques jogando como o Grêmio, sem os atletas perderem os seus talentos.

Isso é possível. Essa sempre foi uma característica dos grandes times da Argentina, e recentemente, do Barcelona. A Holanda em 74 deu uma aula de como fazer isso. Foi uma revolução. Infelizmente, os medrosos técnicos não levaram isso em frente.

Nos últimos dois anos, São Paulo e Inter, mesmo sem grandes craques, também marcavam por pressão, não deixavam o adversário jogar, eram times organizados e ofensivos e foram campeões da Libertadores e do mundo.

Equipes modestas, como o Figueirense, têm o recurso de jogar mais atrás, atraindo o adversário para contra-atacar. Assim, o Once Caldas foi campeão da Libertadores e a Grécia campeã da Europa. Porém, não se pode confundir essa marcação defensiva com a marcação ofensiva do Grêmio.

A minha crítica ao Mário Sérgio não é pela maneira de jogar do Figueirense, e sim porque ele tem a mesma postura em todos os times que dirige.

Em alguns momentos do jogo, mesmo grandes times bastante ofensivos precisam saber jogar também de contra-ataque. Antes do segundo gol contra o Uruguai na Copa de 70, o Uruguai estava no ataque e o Brasil todo na defesa. Quando recuperamos a bola, eu, Jairzinho e Pelé – três atacantes – trocamos passes no campo brasileiro e o Jairzinho foi receber a bola na intermediaria do Uruguai.

Temos de compreender as dificuldades dos técnicos e as suas necessidades de vitórias, mas a imprensa possui também o compromisso com a qualidade do espetáculo. Não podemos ser apenas adoradores e comentaristas de resultados. Não é só a violência que tira público dos estádios. É também jogos ruins e violentos.

Além da beleza coletiva e individual, podemos ainda ver o futebol e os outros esportes coletivos, como um balé, uma coreografia, desvinculado de qualquer entendimento racional e intelectual. A emoção passa primeiro pelo corpo antes de chegar à consciência. O corpo fala primeiro. E o corpo não mente.

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