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Johannesburgo - Está presente em Johan­­nes­­burgo um pastor, Ansel­­mo, que se encontra com os jogadores do Brasil, nos horários de folga, para conversar e/ou rezar. Como os atletas são supersticiosos, devem gostar de sua companhia. Não só pelo prazer do encontro, como também pelo resultado. O Brasil foi campeão.

Em outras recentes Copas, estava presente um motivador, com suas palestras de autoajuda. Diferentemente do pastor, esse fazia parte da comissão técnica.

Os motivadores adoram contar histórias de campeões que ultrapassaram os limites e venceram todas as dificuldades, como se a experiência individual pudesse ser transmitida. Cada um faz do seu jeito. "A experiência é como um farol iluminando para trás" (Pedro Nava). Na frente, continua tudo escuro.

Em épocas mais distantes, o motivador era um pai de santo ou alguém com atividade parecida. No Cruzeiro, nos anos 60, havia um que ganhava prêmios pelas vitórias. Na Copa de 70, alguns jogadores se reuniam para conversar, não para rezar. Lembro que Piazza e Pelé estavam sempre presentes. Os outros se revezavam. Cada vez, um iniciava a reunião com algumas palavras, sobre o que quisesse, de futebol à filosofia de botequim. Quando Piazza falava, a reunião não acabava.

Todos esses tipos de encontros podem fortalecer os laços afetivos. Isso é bom. O que não se pode é dar muita importância a isso na conquista de um título. Com o objetivo de vencer, os resultados são os mesmos. Desconfio que, com os pais-de-santo, eram melhores que com os motivadores.

Apesar de todo o desenvolvimento científico e a presença de ótimos especialistas nas comissões técnicas, os psicólogos continuam pouco valorizados. Os treinadores e dirigentes preferem muito mais as óbvias palestras de autoajuda e outras coisas imediatas ao trabalho dos psicólogos. O futebol é machista. Acham que os homens são fortes, poderosos e que não necessitam de ajuda emocional.

O ser humano é facilmente seduzido. Envelhecemos e continuamos infantis, uns mais, outros menos. Por meio dos rituais, superstições, atos e pensamentos mágicos, nos iludimos de que todos os objetivos podem ser alcançados. É a onipotência do pensamento.

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