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Como a maioria dos leitores sabe, não sou jornalista. Sou um comentarista de futebol, um colunista, às vezes metido a ser um cronista. Se fosse jornalista, com diploma e tudo, queria ser como Juca Kfouri, José Trajano, que ficou nesses dias um pouco mais velho que eu, Fernando Calazans, José Geraldo Couto, Armando Nogueira e outros. Não preciso explicar a razão de minhas admirações. O leitor conhece.

A admiração não me impede de discordar do Juca quando ele escreve que a seleção não precisa de um centroavante, já que não há hoje um único excepcional. Juca diz que a seleção de 70 não tinha um centroavante, pois eu era um ponta-de-lança no Cruzeiro.

Na Copa de 70, eu fui o centroavante. Assumi essa função. Quando fui escalado, disse para mim mesmo: vou jogar como Evaldo, centroavante do Cruzeiro.

Funcionou bem porque Pelé e Jairzinho, independentemente de seus talentos, eram atacantes e artilheiros. Estavam sempre perto ou dentro da área para finalizar. Eu não ficava sozinho, como Vágner Love. Para jogar na frente de Jairzinho e Pelé, a seleção precisava de um centroavante mais técnico, um centroavante armador, e não de um centroavante finalizador.

Agora é diferente. Ronaldinho e Robinho não são atacantes nem artilheiros. Kaká é mais agressivo e finaliza mais, porém gosta de conduzir a bola desde o meio-de-campo.

Juca Kfouri, com sua seriedade profissional, não se aproveitou do argumento de que não é necessário um centroavante. Pelo contrário: ele disse que a entrada de Elano no lugar de Vágner Love não teve nada a ver com a goleada sobre o Equador, o que concordo.

Essa formação sem um centroavante poderá dar certo quando o Brasil estiver vencendo e sendo pressionado. No contra-ataque, os três meias terão condições de iniciar e terminar as jogadas.

Para enriquecer essa pequena e interminável discussão, nada melhor que as palavras simples e sábias do mestre Armando Nogueira: quem ataca é atacante.

Grandes times

A queda de duas equipes muito festejadas, Botafogo e agora Cruzeiro – mesmo que o time mineiro consiga uma vaga para a Libertadores –, nos ensina novamente, e não aprendemos, que não devemos nos iludir com times habilidosos, ousados, que jogam bonito, mas que não têm outras qualidades fundamentais para ser um grande time. Da mesma forma, jogador apenas habilidoso não é sinônimo de talento nem de craque.

O São Paulo, no seu estilo pragmático, com forte defesa, ótima organização tática, muita força física e regularidade, não é também um grande time. É uma boa equipe, bem melhor que as outras do Brasileiro.

Grandes times e grandes talentos são raros. São os que nos surpreendem e unem a habilidade, a leveza e a criatividade com a técnica e a eficiência. O que não se pode é, por causa de uma derrota, dizer que equipes que perderam títulos importantes, como a seleção húngara de 54, a holandesa de 74, a brasileira de 82 e outras, não são grandes times. Se o campeonato fosse por pontos corridos, seriam campeãs.

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