Rooney queria ser Drogba
Ele tem 26 anos, o nome é Jong Tae-Se. O único problema é que ele é chamado de Rooney e queria ser Drogba. "Sou mais força. Mas todos falam que sou o Rooney. Não acho, me acho mais parecido com o Drogba", afirmou o jogador, ontem.
Independente da semelhança e apelido, o fato é que Tae-Se vem acumulando gols, o que o permite as comparações. Nas eliminatórias, chegou a fazer oito gols em dois jogos. Nos amistosos, fez os dois no empate por 2 a 2 contra a Grécia e mais um, no domingo, contra a Nigéria, na derrota por 3 a 1.
Mas ontem, mesmo com a pseudo-abertura, o único futebol que se pode ver foi fora do estádio. Enquanto a Coréia treinava em segredo, ao lado a garotada de Tembisa, um bairro pobre que fica entre Johannesburgo e Pretória, jogava bola em um campo de terra batida. A Copa está aqui, a Coréia estava ali, e eles nem aí.
Para um país que está fechado há 65 anos, 15 minutos pode parecer uma eternidade. Mas não é ao menos para o futebol.
Os norte-coreanos estavam arrumadinhos como se estivessem prontos para ir a uma festa. Utilizaram o ônibus oficial da Fifa. Para o treino, foram de uniforme. Mas na hora da bola rolar, um bobinho.
Sorrisos, petelecos, chutes na bunda de quem errava, mas nada de futebol. A primeira visão da equipe socialista na sua intimidade soou falsa. Da mesma forma que o discurso poético de seu principal jogador: Jong Tae-Se, mais conhecido como o Rooney asiático.
"Todos dizem que não podemos vencer o Brasil. Mas as pessoas não nos conhecem. Temos corações valentes, jogadores valentes, e quem tem isso pode fazer milagres", afirmou o número 9 do primeiro adversário brasileiro, dia 15, no Ellis Park, em Johannesburgo. "Nós podemos vencer o Brasil!", completou.
Na verdade, Jong Tae-Se nasceu no Japão, e seus pais são naturais da Coreia do Sul. E talvez por ter de vontade própria resolvido defender o irmão do norte, o jogador tenha se transformado em uma espécie de porta voz do elenco. É sempre o Rooney de olhos puxados e cabelo espetado que tem mais liberdade para falar. Contudo, ontem, a entrevista coletiva, que deveria durar ao menos 15 minutos, acabou em seis.
Enquanto o assunto interessava, ok. Já na segunda resposta, o atleta dobrou seco à esquerda, sem dar sinalização, e relembrou da histórica participação do país em 1966, na Inglaterra.
Na época, a seleção comunista chegou às oitavas de final após vencer a Itália por 1 a 0, jogo lembrado até hoje na Coreia do Norte como exemplo de heroísmo. Depois, no mata-mata, ele foram desclassificados por Portugal. Abriram 3 a 0, mas cederam a virada por 5 a 3.
"Nos inspiramos naquela equipe. Aquele time surpreendeu a todos, nós podemos fazer o mesmo", disse o atacante, repetindo quase a mesma frase dita no aeroporto internacional de Johannesburgo, o Tambo, uma prova de que o ensaio foi bem feito.
Mas nem tudo estava no roteiro e saiu como o planejado. Lá pelas tantas (dos seis minutos da entrevista) a pergunta foi sobre o motivo de tanta segurança jornalistas chegaram a ser ameaçados por policiais. O Rooney asiático olhou para os lados, parecia ter esquecido a resposta. Então foi evasivo.
"Não sei. Sinceramente, não sei", disse.
Foi quando o chefe da comunicação, ou algo assim, fez sua intervenção para o mundo: "É apenas por segurança. Não é medo. É apenas segurança", disse.
Segurança, segredo, medo, não importa. Ao menos para o Brasil. Desde o sorteio dos grupos da Copa do Mundo, que ocorreu em 4 de dezembro do ano passado, a comissão técnica brasileira vem acompanhando o futebol dos norte-coreanos. E nem Dunga acredita que também isso servirá para alguma coisa.
"O Taffarel vai nos passar os detalhes desse último amistoso [Nigéria], mas sabemos muita coisa vista em outros jogos e em vídeos. Só que não adianta muita coisa. Contra o Brasil, todos jogam diferente", afirmou Dunga, logo depois do jogo contra a Tanzânia.
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