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Sul-africanos brincam com a bola em frente ao pomposo Soccer City, estádio do jogo de abertura, amanhã | Valterci Santos/Gazeta do Povo – enviado especial
Sul-africanos brincam com a bola em frente ao pomposo Soccer City, estádio do jogo de abertura, amanhã| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo – enviado especial

Soweto faz a preliminar

A Copa do Mundo começa oficialmente nesta quinta para a Fifa. Sem jogo, mas com um imenso show no Orlando Stadium, no mítico bairro do Soweto, foco da resistência negra contra o apartheid. Pelo palco desfilarão a partir das 15 horas (de Brasília) grandes nomes da música internacional como Shakira, Alicia Keys, o grupo Black Eyed Peas, e os cantores John Legend e Juanes. Haverá, ainda, apresentação de artistas locais. "Queríamos ter uma mistura eclética e internacional de gêneros musicais para agradar o maior número possível de pessoas no mundo todo, sem deixar de demonstrar o imenso talento do país sede", disse Niclas Ericson, diretor de televisão da Fifa, em entrevista ao site da entidade. As vuvuzelas, tradição no país, foram proibidas para não atrapalhar a qualidade do som.

Quarta à tarde ainda havia ingressos sendo vendidos. Os preços variam entre R$ 110 e R$ 270. A renda do show será revertida integralmente para a fundação 20 Centre for 2010, ligada ao desenvolvimento da África por meio do futebol.

Apesar das estrelas em cima do palco, quem deve roubar a atenção é o ex-presidente Nelson Mandela, líder da cruzada contra a segregação racial no país. Depois de um longo período de recolhimento por causa da saúde frágil, Mandela passará nesta quinta rapidamente pelo Orlando Stadium. Sexta, quando a bola rolar pela primeira vez no Mundial, na partida entre África do Sul e México, estará confortavelmente instalado em um dos camarotes do Soccer City. Mandela completará 92 anos no próximo dia 18 de julho.

Ao vivo

Festa de abertura, às 15 horas (de Brasília), na RPC TV, Band.

Agito segue até amanhã

Que o sul-africano gosta de festa, todo mundo já percebeu. Pois amanhã, antes de a seleção da casa enfrentar o México, uma nova celebração marcará o início da Copa do Mundo, no imponente Soccer City, em Johannesburgo.

A reportagem acompanhou ontem os últimos ajustes do ensaio que, segundo a Fifa, deve se concretizar cerca de uma hora antes da partida (11 horas de Brasília). E a duração da festa não deve ultrapassar os 30 minutos.

Comparar a abertura do Mundial com a da Olimpíada é quase impossível. Em Johannesburgo, não se verá nada parecido com o mostrado em Pequim, há dois anos. Mas nem por isso ela deixará de ser bonita ou emocionante. É uma festa para o mundo, com toques regionais. Como há muito os organizadores da Copa falam, esta não é uma competição apenas do país, e sim do continente – e tudo isso vai ser mostrado nesta sexta.

O evento começa com caças voando sobre o estádio e a esquadrilha da fumaça local, contornando desenhos no céu. Com a explosão de fogos de artifícios, o gramado é invadido por cores, representando as várias etnias africanas e os nove estádios do Mundial.

Os seis países africanos da Copa também ganham destaque Assim como cantores destas regiões, convidados a se apresentar. Crianças e "guerreiros" dançam em campo, numa alegria que contagiou os poucos que assistiram ao ensaio.

Já no fim, um pedido de paz e união. Centenas de negros vestidos com roupas brancas. As bandeiras de todos os países que disputaram as Eliminatórias nos últimos anos – e em destaque aqueles que se classificaram. Um mosaico formado por crianças com o símbolo da Copa de 2010 é um dos últimos atos. A África, enfim, está pronta para o pontapé inicial.

  • Conheças os estádios da Copa

A festa que os sul-africanos promoveram nesta quarta-feira (9) nas ruas das principais cidades do país para celebrar a chegada da Copa do Mundo não levou em consideração o lado B da organização do evento. Há muito a ser passado a limpo pelo governo local.

A começar pelo estouro no orçamento que, em seis anos, saltou sete vezes, passando de US$ 300 milhões para US$ 2,1 bilhões – de acordo com um estudo de mais de 250 páginas publicado pelo Instituto de Estudos de Segurança (ISS, sigla em inglês). Em reais o investimento equivale a aproximadamente 3,8 bilhões. O rombo, porém, pode ser ainda maior.

No país já se fala que o montante ultrapassou a casa dos US$ 4 bilhões – boa parte do dinheiro aplicado na construção de cinco novos estádios e na reformulação de outros cinco complexos.

Às contas que não fecham somam as suspeitas de corrupção. O mesmo levantamento da ISS indica pelo menos quatro pontos curiosos. O primeiro – e mais grave – refere-se à construção do Estádio Mbom­­­bela, em Nelspruit. Presidente da assembleia local à época, Jimmy Mohlala denunciou, ainda em 2008, a existência de fortes indícios de corrupção por parte do consórcio composto por uma empresa sul-africana e outra francesa que havia vencido a licitação para erguer a praça esportiva por 100 milhões de euros (cerca de R$ 220 milhões).

Suspeita confirmada, os representantes do poder público responsáveis pelo contrato foram demitidos. Mas Mohlala não pôde comemorar. Apareceu morto em fevereiro. O crime está sob investigação.

As concorrências para a compra de cimento e metal também estão na mira da Justiça. Existe a desconfiança de um cartel entre os fornecedores, que elevou os preços das matérias-prima em 20% antes do início da construção das arenas.

A ISS alerta ainda para a nebulosa relação entre trabalhadores públicos e as empresas gerenciadoras dos contratos. O estudo diz que muitos funcionários tinham cargos – e recebiam salários – nas duas pontas da relação, em um jogo de interesses comandado por experientes lobistas que controlou mais de 60 milhões em obras.

Por fim, quem entrou recentemente na mira das cobranças foi a prefeitura de Johannesburgo, que entregou a administração do gigante Soccer City à modesta National Stadium SA (NSSA) por dez anos. Segundo a ISS, a receita no período seria suficiente para pagar com folga o investimento aplicado no palco da abertura e da final da Copa do Mundo, algo em torno de 350 milhões euros (R$ 770 milhões).

Verba que foi pelo ralo sem a materialização de duas promessas incluídas no pacote Copa. O trem rápido de Johannesburgo até Pretória não passa de alguns viadutos e muitos buracos escavados. Levará anos para servir à população. O mesmo vale para o ônibus que ligaria o centro ao aeroporto da mais importante cidade da África do Sul – apenas um ramal, do centro ao Soweto, entrou recentemente em funcionamento.

As desconfianças, porém, não são suficientes para diminuir o entusiasmo dos sul-africanos. "Isso [corrupção] sempre existe. O importante é que o Soccer City está bem aqui [aponta o dedo] e a Copa começa na sexta-feira", disse Wesley Vanrooyen, resumindo o pensamento de muitos conterrâneos.

Lição de "como não ser feito" que deveria ser estudada pelo Brasil, sede do próximo torneio da Fifa (2014), e ainda envolto com as desconfianças relacionas aos Jogos Pan-Americanos de 2007.

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