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Gold Reef City, em Johannesburgo, onde ouro era extraído à base de maus tratos | Valterci Santos/ Gazeta do Povo – enviado especial
Gold Reef City, em Johannesburgo, onde ouro era extraído à base de maus tratos| Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo – enviado especial

Até 2007, a África do Sul foi o maior produtor de ouro do mundo. Mas a abundância foi também, por décadas, um dos símbolos da segregação racial. Não é à toa que, ao se sair de um dos passeios mais procurados em Johannesburgo, a visita a uma velha mina de ouro, se dê de cara com o Museu do Apartheid. É para lembrar que todo o glamour Gold Reef City, um par­que temático como o Beto Car­reiro, foi construído com muita servidão e maus tratos aos negros.

Mas essa proximidade de dois lugares distintos é uma das poucas ligações do lugar localizado a cinco minutos do centro da maior cidade da África do Sul com o apartheid e suas atrocidades. Não há nada, por exemplo, sobre as muitas mortes dos mineiros por câncer, expostos a poeira, ar­­sênio e radônio. Talvez por, diariamente, serem submetidos a raio-x, para se ver se o mineiro não havia engolido a pedra preciosa para depois vendê-la.

No começo do século passado, por exemplo, sem a tecnologia da radiografia, quem estivesse sob suspeita era obrigado a ficar trancado em uma sala até ir evacuar. Só saía depois que o excremento fosse revirado e não fosse encontrado vestígio do ouro ou diamante.

A introdução é necessária quando se percebe que, a 225 me­­tros abaixo da terra, a mina do parque temático está arrumadinha. Pintada e limpa. E que as atenções da guia estão fixadas apenas para questões técnica. Ela mostra a maneira como se encontrava o minério, com pistolas de pressão, e diz que a cada pedrinha escura na parede há cerca de 20% ouro.

O lugar é frio e escuro. Os capacetes têm serventia, já que se bate a cabeça a toda hora. E todos recebem uma lanterna para conseguir enxergar lá dentro – ninguém fala também que, antigamente, quem enxergava um metro à frente, poderia se dar por feliz.

Essa é a parte que fica à mostra, para turista ver. Mas existem dezenas de galerias que não estão abertas ao público. A mina do Gold Reef tem 3,2 quilômetros de profundidade. Quanto mais fundo, mais frio e, curiosamente, ventoso.

A corrida do ouro na África do Sul começou em 1886, quando George Harrison descobriu uma camada do minério. Todas as fazendas em volta foram declaradas propriedade pública e foi criada uma cidade na região, chamada hoje de Johanesburgo. A mina visitada pela reportagem foi aberta em 1889, fechada em 1959 e reaberta 20 anos depois.

Desde 2002, o governo tenta fazer o setor mineiro ser melhor compartilhado. Se antes os minérios foram o pilar do enriquecimento dos brancos, a meta sul-africana é de que 51% dos projetos futuros sejam controlados pelos negros. No presente, contudo, a situação continua muito parecida com o passado.

O setor é o maior empregador na África do Sul, com cerca de 460 mil empregados e outros 400 mil empregados distribuídos entre fornecedores de bens e serviços à indústria. Cerca de 70% dessa mão de obra é constituída por negros. Mas apenas 5% dos cargos de chefia são ocupados por eles.

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