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Será que a Copa do Mundo 2010 unirá a África do Sul? Sim e não. Uma resposta curta para quase qualquer questão mais profunda sobre o meu país, sempre um lugar de paradoxos.

De certa forma, a África do Sul sempre foi unida – pelo milagre político de 1994, que nos salvou de uma guerra civil. Apesar de nossas terríveis desigualdades econômicas, ainda somos uma sociedade essencialmente harmoniosa, na qual se compartilha todo dia e em todo lugar uma calorosa amizade e alegria. De muitas maneiras, bastante parecido com o Brasil.

Contudo, no último ano o clima político do país esquentou, aumentando a divisão desde que Jacob Zuma foi eleito presidente. Especialmente por causa das inúmeras acusações de corrupção contra ele, contrastando com um discurso essencialmente populista de melhorar a distribuição de renda pelo país.

Julius Malema, um jovem e verborrágico político populista, de origem pobre, tem irritado a comunidade branca (e muitos na comunidade negra) com seus discursos inflamados. Líder da liga do jovem do Congresso Nacional Africano (partido de Mandela), enfrenta suspeitas de enriquecimento ilícito e já chegou a cantar, em discursos, a música "Mate o bôer", principal cântico antiafricâner durante o apartheid.

A recessão global é outro problema que atinge a classe baixa: é preciso urgentemente a criação de novos empregos, o que o governo atual não consegue fazer o suficiente.

Nesse contexto, a Copa do Mundo poderia ajudar a levantar o moral e unir a África do Sul mais uma vez. Muito dependerá da performance da seleção nacional, os lutadores conhecidos como Bafana Bafana, que são amados e ridicularizados em igual proporção. Em 1995, a seleção nacional de rúgbi venceu a Copa do Mundo. Em 1996, foi a vez de o futebol ganhar a Copa Africana de Nações. Ambas vitórias ajudaram a criar confiança e identificação entre os grupos raciais.

Existe uma intensa excitação em torno da competição, e um intenso sentimento de orgulho patriótico pelos maravilhosos novos estádios. Eles ficaram prontos a tempo, contra toda a expectativa e dúvidas da imprensa europeia.

Toda sexta-feira, milhares de cidadãos vão para o trabalho vestindo a camisa da seleção nacional, de outros países ou clubes de futebol. O abraço sul-africano em volta do torneio não irá parar quando os Bafana forem eliminados. Aqui, existem muitos torcedores apaixonados também pelo futebol do Brasil, Espanha, Gana, Itália, Portugal, Inglaterra, Argentina, Holanda e Costa do Marfim.

Todos os ingressos para os jogos de grupos com grandes seleções acabaram faz meses. O problema que a organização da Copa está tendo agora é para vender os bilhetes de partidas menos glamorosas, como Nova Zelândia contra Eslováquia e Honduras contra Chile, por exemplo. Na África do Sul a gente não joga muito bem futebol, mas com certeza sabemos reconhecer um bom jogo de futebol!

Se a realização do Mundial for um sucesso, e o time nacional tiver uma performance respeitável, não tenho dúvida de que o torneio servirá para aumentar a autoestima da população. Somos uma nação insegura, atormentada pelas nossas próprias feridas.

Mas Copa do Mundo não pode curar isso. Ela não terá influência significativa na nossa economia. Também não fortalecerá nossa democracia. E muito menos, melhorará o nosso pobre sistema de educação. Também não pode consertar os profundos problemas de nosso futebol de base. O futebol amador é fraco e sofre com a falta de treinadores qualificados.

Depois que o apito final soprar e a festa acabar, uma dura realidade nos espera. Com um pouco de sorte, a África do Sul enfrentará essa realidade com novos sonhos e uma energia renovada.

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