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Ao contrário do clima rígido, quase militar, da concentração brasileira, na Holanda o ambiente é bem mais ameno. Após a classificação para a final da Copa do Mundo, os jogadores ganharam dois dias de folga e somente nesta sexta-feira (9) iniciam a preparação para a decisão. Na véspera, o meia Wesley Sneijder e o capitão Giovani van Bronckhorst podiam ser vistos caminhando com a família por Mandela Square, uma das principais áreas comerciais de Johannesburgo. Mas nem sempre foi assim. A grande seleção holandesa de 1974 viveu situação bem diferente e ficou abalada por um escândalo na véspera da final da Copa.

Seis de julho de 1974, dia em que o Brasil jogaria (e perderia por 1 a 0) a disputa do terceiro lugar do Mundial contra a Polônia, no Estádio Olímpico de Munique. Era o mesmo local da decisão do dia seguinte entre a anfitriã Alemanha Ocidental e a Holanda, que estava encantando o mundo. Um tablóide alemão chegava às bancas com a foto de garotas de programa nuas ao lado de jogadores holandeses na piscina do Hotel Hiltrup, em Munique. Não demorou e a notícia foi parar na Holanda. O craque do time, Johan Cruyff, logo estava ao telefone com a mulher, Danny, chorando. Foram horas e horas de explicações do jogador holandês, que teria feito uma promessa que afetaria a Laranja no Mundial seguinte: a de nunca mais passar tanto tempo longe da esposa.

Cruyff sequer teria estado na piscina do hotel naquele dia, mas passou por apuros do mesmo jeito. Versões sobre o ocorrido existem muitas, mas um livro lançado em 2004 na Holanda trouxe novas provas de que o jogador realmente passou longo tempo do que seria uma tranquila véspera de final de Copa do Mundo sentado ao telefone tentando acalmar Danny. "1974 - Nós éramos os melhores", do jornalista holandês Auke Kok, revelou contas telefônicas do hotel em nome de Johan Cruyff e testemunhas que viram o jogador com cara preocupada sentado próximo à recepção enquanto falava com a mulher na Holanda.

O impacto do incidente na piscina talvez não tenha sido tão grande nos outros jogadores como em Cruyff e certamente aumentou de importância com a derrota holandesa por 2 a 1, de virada, para a Alemanha Ocidental na final. O meia Johan Neeskens abriu o placar logo aos 2 minutos, numa cobrança de pênalti que acabou virando referência, um chute no meio do gol, enganando o famoso goleiro alemão Sepp Maier. Foi também num pênalti que a Alemanha empatou 23 minutos mais tarde com o lateral Paul Breitner. O gol da vitória e do título saiu aos 43 do primeiro tempo, marcado pelo atacante Gerd Müller, estabelecendo um recorde de 14 gols em Copas do Mundo somente ultrapassado pelo brasileiro Ronaldo em 2006.

Em 1978, a Holanda novamente chegou à final contra os donos da casa e perdeu: Argentina 3 a 1, na prorrogação. Desta vez, o treinador não era mais o Rinus Michels da revolucionária equipe de quatro anos antes. Cruyff também não foi à Argentina. Ele mesmo ajudou a espalhar a versão de que sua decisão baseou-se numa questão de segurança, após a família ter sido vítima de uma tentativa de sequestro em Barcelona, em 1977. Outras versões na mesma linha diziam que Cruyff teria sofrido ameaças de sequestro caso fosse ao Mundial ou mesmo de que teria boicotado o torneio em protesto contra a ditadura militar argentina. Na verdade, os motivos teriam sido diferenças com os dirigentes da Federação Holandesa somadas à próxima feita à mulher por telefone em Munique.

Johan Cruyff nunca mais disputou uma Copa do Mundo e a Holanda nunca mais chegou a uma final. Até 2010. Os riscos de jogadores serem flagrados e imagens correrem o mundo em minutos nunca foram tão grandes quanto nos tempos atuais. Por outro lado, a abertura da seleção laranja talvez seja a melhor maneira de evitar problemas como os de 32 anos atrás. Nos dois dias de folga com esposas, namoradas, parentes e amigos na semana da final do Mundial são os próprios jogadores que se responsabilizam por seus atos.

"Estamos concentrados desde o dia 10 de maio. É muito tempo. Logo no início da nossa preparação, antes mesmo da viagem para a África do Sul, passamos cinco dias com as mulheres e crianças junto com a equipe. O ambiente foi ótimo e continua sendo agora. Acho que tomamos a decisão certa ao permitir este contato novamente agora, num momento como este," afirma o treinador holandês Bert van Marwijk, certo de que terá sua equipe 100% concentrada na final de domingo, contra a Espanha, no Soccer City, em Johannesburgo.

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