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Quem já fez aqueles safáris fotográficos, tão procurados pelos turistas que vão à África, conta que a primeira coisa que os guias dizem é que não há nenhuma garantia de que os animais vão aparecer. Todo mundo quer ver os grandões – leões, elefantes, leopardos, rinocerontes, búfalos, o tal big five do continente –, mas eles podem simplesmente estar em outro lugar. Equivale a dizer: amigão, não adianta reclamar, não vou devolver o seu dinheiro. Mas a ressalva tem toda a razão de ser. Afinal, os animais não respeitam nenhuma escala de trabalho e podem resolver tirar uma soneca na hora do expediente.

Talvez seja a influência do ar da savana, mas de fato alguma coisa parecida está acontecendo na Copa. Estima-se que 3 bilhões de pessoas, metade da população mundial, está de olho nas partidas. Esse público liga seu aparelho de tevê atraído, normalmente, pela sua seleção nacional (se ela está na Copa) ou pelos grandes predadores do esporte: Brasil, Alemanha, Itá­­lia, Inglaterra e Argentina. Isso pa­­ra ficar apenas em cinco, mantendo a analogia com os animais africanos. Mas dá para incluir fácil a Espanha e até a França.

Agora imagine-se sentado não no sofá de casa, mas no banco duro de um Land Rover parado sob o sol. Respirando devagar para não fazer barulho. À sua frente não está o aparelho de tevê, mas a planície do Parque Nacional Kruger, no Nordeste da África do Sul. O guia vê algo se movendo ao longe e dá ordem para que o seu motorista se aproxime, com todo o cuidado. O tempo passa e você se vê diante da temível África selvagem. Todos no carro tremem de medo: é uma zebra.

Nesta Copa os animais mais ferozes ainda não mostraram os dentes. Mesmo os times que foram mais agressivos também tiveram seu momento de presa – o Portugal arrasador do segundo tempo da partida contra a Coreia poderia ter terminado mal a primeira metade do jogo, não fosse a péssima pontaria dos caçadores asiáticos. Já a zebra está rondando todo o tempo, como uma assombração. Quando você me­­nos espera, ela aparece. Amea­­çadora. Terrível. Quando não mata, empata.

Quando eu era criança e assistia Mundo Animal nas manhãs de sábado, achava a zebra um animal simpático e sempre torcia por ela naquelas cenas clássicas de perseguição. Acho que todo brasileiro é assim – todos torcemos para que, no último momento, o leão escorregue e acabe indo dormir de barriga vazia. Mais, imaginávamos o dia em que alguma zebra mais esperta convencesse a manada a se defender em bloco e a contra-ata­­car com rapidez e eficiência.

Pois é, elas aprenderam. Ago­­ra resta esperar que esse bicho não cruze o nosso caminho.

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