Não há novidade: desde que se inventou o futebol, em todas as partidas há erros de arbitragem, alguns gritantes, outros sutis, mas todos potencialmente danosos à lisura do jogo. Um simples escanteio que se transforma em tiro de meta, ou o contrário, muda radicalmente o andamento de uma partida. Aqui e ali, flagram-se máfias do apito mas na esmagadora maioria dos casos trata-se apenas da invencível falha humana.
Assim, não deveria haver surpresa com os casos desta Copa o padrão de arbitragem continua o de sempre, dentro da margem estatística: alguns jogos contêm mais erros do que outros, mantendo-se entretanto uma média estável. A questão é universal: o nosso Atlético Paranaense, tempos atrás, viu um chute que bateu na rede pelos fundos se transformar em gol por força do olho do juiz, exatamente a mesma coisa que aconteceu com a seleção brasileira, há alguns anos, no Maracanã a bola atravessou a rede pelo lado de fora e se legitimou em gol. E agora, na Copa, o "símbolo do mal" com direito a expulsão sumária do árbitro, banido da Copa como um belzebu do Éden foi a bola inglesa que avançou três palmos além da linha e que voltou ao campo como se nada houvesse acontecido.
Para dar sentido ao que não tem sentido, falou-se de uma vingança metafísica contra o não-gol da Inglaterra, em 1966, que, validado, garantiu ao país seu único caneco. Casos pitorescos à parte, o que essa Copa está escancarando é o paradoxo de uma cobertura televisiva capaz de mostrar uma gota de suor espirrando de fios de cabelo ter de conviver com o poder irreversível do apito do juiz. O peso tecnológico tem sido tão mortal que mesmo a conservadora Fifa terá de repensar o dogma da infalibilidade do árbitro.
O interessante é que a inclusão do juiz eletrônico, se de fato acontecer, não será só um detalhe; acabará por mudar substancialmente o espírito do futebol e a relação de autoridade entre jogador e árbitro, transformado em humilde coadjuvante de uma comissão eletrônica. O que talvez deixe as partidas mais chatas não vai dar nem para xingar a mãe do juiz.
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