A bomba-relógio explodiu

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"Não sou o vilão da Copa de 2010." Com essa pequena frase que escapou no meio de um discurso treinado no vestiário entre boa parte dos jogadores – falando em coletividade e pedindo desculpas –, o volante Felipe Melo mostrou todo o temor que tinha sobre o possível rótulo que começou a ser moldado em torno dele mesmo antes da Copa.

Muitos avisaram: era questão de tempo – no melhor estilo bomba-relógio – para o jogador perder a cabeça, ser expulso e deixar o Brasil na mão. Foi no pior momento, justamente quando a seleção encontrava um adversário mais forte do que os anteriores. Aos 28 minutos do segundo tempo, com 2 a 1 para os holandeses, fez falta em Robben e, com o adversário no chão, pisou nele. O lance acabou com qualquer chance de reação do time brasileiro, que passou a jogar desordenadamente.

O camisa 5 planejou sua defesa da melhor forma que conseguiu no intervalo de mais de uma hora entre o fim do jogo e as entrevistas. Como um advogado amador, fa­­lou na terceira pessoa e usou como argumento as virtudes que apresentou no Mundial.

"Contra a Coreia, no primeiro gol quem começou a jogada foi o Felipe Me­­lo. No segundo jogo, contra a Costa do Marfim, quem a­­chou o Robinho no meio foi o Fe­­lipe Melo. Hoje [ontem], foi o Felipe Melo quem começou o primeiro gol", disse, ignorando o gol contra e a bobea­da na marcação do baixinho Sneijder, nos lances da virada, além da expulsão tola.

Ironicamente, foi a primeira derrota dele pela seleção. E só foi confirmado em cima da hora, por causa da lesão sofrida contra Por­­tugal, que o tirou do duelo com o Chile. Na ocasião, já havia dado uma amostra de sua instabilidade emocional ao trocar entradas du­­ras com Pepe – disputa que lhe rendeu um cartão amarelo e o tornozelo machucado. Ramires se destacou nas oitavas, mas foi suspenso pelo segundo amarelo. Mes­­mo se pudesse atuar, o retorno de Melo era certo. Afinal, Dunga talvez fosse o único a desconsiderar o risco iminente.

Ontem, a desvantagem no placar fez o volante descarregar sua raiva com as travas da chuteira em Robben. Mas justificou: "Foi uma expulsão normal. Tem de deixar bem claro que eu não dei um soco na cara. Não dei uma voadora. Não entrei para quebrar. Foi uma jogada que o árbitro interpretou para vermelho. Mas eu não vi na tevê e não posso dizer se foi para expulsão", afirmou, como se as câ­­meras pudessem não ter captado o pisão desnecessário.

Não dispensou um gran fi­­na­­le. "Quando saí, já estava 2 a 1, e, infelizmente, não deu para reagir. Não é que tomamos um gol porque o Felipe Melo foi ex­­pulso. Assumo minha parcela, assim como todos nós temos culpa." Mas não convenceu. Por ora, a melhor coisa a fazer parece ser seguir o conselho de Ronaldo via Twitter: "Felipe Melo não deve passar as férias no Brasil..."