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O avião fretado para a seleção brasileira e poucos jornalistas foi preparado com mensagens de incentivo. Depois da escala em Brasília, delegação rumou para a África do Sul | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
O avião fretado para a seleção brasileira e poucos jornalistas foi preparado com mensagens de incentivo. Depois da escala em Brasília, delegação rumou para a África do Sul| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Opinião

Da euforia à decepção

Robson De Lazzari, enviado especial da Gazeta do Povo à África do Sul.

Seguir para a Copa do Mundo já é motivo suficiente para alegria. Estar no mesmo voo em que os jogadores, então, é garantia de euforia para quem vive de futebol – nos momentos de trabalho e nos de diversão. A adrenalina já subiu no dia anterior. Na despedida com os amigos, só se falava na viagem ao lado dos pupilos de Dunga. Dormir, não deu. Talvez alguns cochilos. Ansiedade. Motivação. Tensão. Já no embarque a sensação foi mudando de tonalidade. Apesar de tão próximo daqueles que vão defender o país na África, a distância parecia cada vez maior. A decepção também. A delegação se escondeu na frente do avião, cortina fechada. Não via ninguém, nem a cara amarrada do Dunga. Só chegava até nós o batuque do pagode. Tentar falar com um integrante da delegação, mesmo informalmente, era motivo de repreensão. Só faltou a palmatória. Antipatia desnecessária.

Grades do coração

Quando eu te vi pela primeira vez/ Me encantei com o seu jeitinho de ser/ Seu olhar tão lindo me fez viajar/ Vi no seu sorriso um imenso mar

Fiz uma canção pra nunca esquecer/ O momento que eu conheci você/ Era uma linda noite de verão/ Você despertou minha emoção/

Passei a minha vida a procurar/ Alguém que eu pudesse entregar/ A chave pra abrir meu coração/ Tirar de vez do peito a solidão/ Já tentei não dá pra esconder/ O amor que sinto por você/ É luz, desejo, encanto e sedução/ Ardente como a fúria de um vulcão

(Refrão – duas vezes)

A paixão me pegou/ Tentei escapar não consegui/ Nas grades do meu coração/ Sem querer te prendi

(Grupo Revelação)

O primeiro pagode tocado pelos jogadores da seleção brasileira no voo do Brasil para a África do Sul fala de paixão e de sofrimento. Sentimentos que devem ser misturados para a conquista do hexa. A música Grades do Cora­­ção, sucesso de 2002, do grupo Revelação, começou meio tímida, mas aos poucos ganhou alto e bom som.

Na palma da mão e nas vozes, sob o comando do cavaquinho de Júlio Baptista, o time de Dunga rapidamente começou a se descontrair no avião que decolou de Curitiba às 12h46 de ontem. Às 14h12, a aeronave pousou em Brasília e, após homenagem e um "boa sorte" do presidente Lula, partiu para a Copa do Mundo – a chegada a Johan­­nesburgo ocorreria por volta das 3 horas da manhã de Brasília (8 horas local).

Após pegar no tranco, o estilo musical predileto dos atletas foi tocado em uma canção atrás da outra. Junto a JB (como Kaká chama Baptista), Robinho, Daniel Alves e Thiago Silva comandam os outros instrumentos – tantã, pandeiro e banjo. O ritmo de Água da Minha Sede (O meu Amor é Passarinheiro), de Zeca Pagodinho, também ganhou uma versão na voz do time de Dunga.

É tradição a equipe nacional eleger durante a Copa uma letra preferida. Em 2002, durante a conquista do penta, "Festa", de Ivete Sangalo, dominou as concentrações do time de Felipão, assim como "Deixa a Vida me Levar", outra de Zeca Pagodinho. Em 2010 ainda não foi escolhido um tema símbolo para o elenco, mas a convivência ininterrupta de mais de 50 dias não vai deixar isso perdurar.

Apesar do clima descontraído, existia uma certa dose de tensão no deslocamento até o país do Mundial. Assim como ocorreu nos seis dias de encastelamento no CT do Caju, a im­­prensa teve restrição quase total. Uma cortina separa a primeira classe, onde estavam os jogadores, dos 38 jornalistas que embarcaram.

Do fundão, é possível apenas ouvir as risadas e palmas. Imagens e entrevistas não são permitidas. Ao tentar fazer uma pergunta para o olheiro Taffarel (goleiro tetracampeão em 1994), a reportagem foi advertida – mesmo com o ex-camisa 1 sendo simpático.

"Sou pé-quente. Fui o primeiro a entrar aqui", afirmou ele, garantindo que ainda nem teve uma conversa mais detalhada com Dunga sobre os adversários no torneio da Fifa.

No Hotel Fairway, local de concentração em Johan­­nes­­burgo, o lateral-direito Maicon e o zagueiro Lúcio completarão o grupo. Os dois, com o goleiro Júlio César, foram campeões da Liga dos Campeões no sábado, pela Inter de Milão, mas preferiram ir direto para a África.

Após a desgastante viagem, que tinha uma estimativa de 14 horas contando a escala na capital federal, hoje à tarde o grupo faz apenas um treino desintoxicante – para soltar os atletas após o longo tempo no avião – na Escola Hoerskool Randburg. Antes disso, às 13 horas (8 horas de Brasília), Dunga concede a sua primeira entrevista coletiva desde a apresentação para a Copa.

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