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Felipão ao lado do fiel escudeiro Murtosa: conversa com jornalistas para discutir a fragilidade emocional do time | Vanderlei Almeida/ AFP
Felipão ao lado do fiel escudeiro Murtosa: conversa com jornalistas para discutir a fragilidade emocional do time| Foto: Vanderlei Almeida/ AFP

Personagem

Apatia do capitão Thiago Silva preocupa Felipão

O zagueiro Thiago Silva é uma das principais preocupações da comissão técnica com relação ao desequilíbrio emocional na Copa do Mundo. Logo de quem se espera o maior poder de concentração, por se tratar do capitão do Brasil.

O atleta do Paris Saint-Germain foi quem mais sentiu a batalha diante do Chile. Ao término da prorrogação, ficou isolado no gramado do Mineirão, sentado sobre a bola, cabeça baixa. Depois, disse à Felipão que não gostaria de cobrar um dos pênaltis, por estar sem confiança – pedido revelado à agência de notícias alemã Reuters.

Atitude incompatível com a condição de referência que Thiago ostenta dentro da seleção brasileira. Menos mal, a comissão técnica avalia que o defensor está apresentando bom desempenho técnico no Mundial.

Trabalhando para uma televisão japonesa, o ex-atacante Careca condenou a postura do capitão, ontem, na Granja Comary. "Tive a oportunidade de conhecer o Thiago na Itália, quando ele estava no Milan. Ele é o capitão do time, não deveria ter deixado essas coisas saírem do vestiário", declarou o camisa 9 da seleção nas Copas de 1986 e 1990.

Luiz Felipe Scolari diz acreditar que a fragilidade emocional é o maior problema da seleção brasileira. Na análise da comissão técnica, está sobrando emoção e faltando razão para os jogadores na disputa da Copa do Mundo.

A preocupação do treinador foi externada ontem, em conversa reservada com um grupo de jornalistas na Granja Comary. Também ontem, estava prevista uma reunião com os atletas, sob a supervisão de psicólogos – Regina Brandão é a responsável pelo setor.

Até então, a instabilidade originada pela pressão de conquistar o título em casa era tabu. Os boleiros sempre refutaram qualquer influência negativa do cenário no aspecto psicológico. Entretanto, as crises de choro ao longo do confronto com o Chile salientaram o problema sugerido pelas lágrimas durante as execuções do Hino Nacional, cantado pelos torcedores. De acordo com Scolari, a possibilidade de desclassificação deflagrou uma tensão insuportável.

Havia um medo de enfrentar um trauma comparável à perda para o Uruguai em 1950. "Está todo mundo com medo de ser Barbosa", resumiu o ex-zagueiro Márcio Santos, tetracampeão em 1994, ao site Infonet, uma referência ao goleiro que foi obrigado a carregar até a morte a pecha de vilão do Maracanazo.

No último sábado, no Mineirão, o goleiro Júlio César foi às lágrimas antes da cobrança de pênaltis. David Luiz também chorou após converter o tiro livre. Com a vaga garantida, Neymar despencou no gramado e teve de ser erguido e carregado, em prantos, por Scolari.

"Não é normal atletas de alto nível reagirem dessa maneira. Mostra que a confiança está minada", afirma Suzy Fleury, psicóloga do esporte com serviços prestados à própria seleção brasileira, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Atlético (na campanha do título brasileiro de 2001), entre outros.

Gilberto Gaertner, professor do curso de Psicologia da Universidade Positivo, e psicólogo do Atlético, explica como a instabilidade emocional interfere no rendimento em campo: "Se fugir do controle, a emoção afeta a parte motora. O tônus muscular fica alterado e implica numa dificuldade para executar o gesto técnico".

No trabalho para os jogos, as equipes costumam elaborar uma atividade chamada de "ativação". Vídeos, palestras, entre outras artimanhas, vão estimular o componente emocional, geralmente na última preleção no hotel ou já no vestiário.

No sábado, Felipão apresentou um vídeo da Rede Globo aos convocados. Nas imagens, a visita à concentração dos sobreviventes da tragédia das chuvas em Teresópolis (2011), lances das partidas, vibração dos torcedores, etc.

"É preciso ter cuidado, uma ativação excessiva estreita a visão periférica, provoca o que chamamos de ‘visão de túnel’ e complica a atenção do esportista. Pode se tornar uma armadilha", comenta Gaertner.

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