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Mansão no Lago Sul, a região nobre de Brasília, ajuda a CBF a ganhar adesão de políticos | Albari Rosa
Mansão no Lago Sul, a região nobre de Brasília, ajuda a CBF a ganhar adesão de políticos| Foto: Albari Rosa

R$ 1.399.552 É o gasto que a CBF teve para manter a "Embaixada da Bola", entre 1998 e 2000, de acordo com o relatório final da CPI CBF/Nike, do ex-deputado Silvio Torres (PSDB-SP). Em valores atualizados pela inflação, o número fica em R$ 4,4 milhões.

Legislação

CBF tem vitória política com ajuda de presidente coxa-branca

Poucas semanas antes da Copa de 2014, a CBF teve uma vitória em Brasília que lembrou os tempos em que usava a Mansão do Lobby para estreitar laços com parlamentares. Todos os artigos que afetavam a entidade foram retirados do texto final do Proforte, projeto de lei de renegociação das dívidas dos times de futebol. O principal ponto era a obrigatoriedade da confederação de repassar parte do seu faturamento para projetos de formação esportiva. Uma mordida de pelo menos R$ 30 milhões anuais.

A retirada deste "imposto" reuniu um novo e um velho aliado da confederação. O novo, Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do Coritiba e representante da Comissão de Clubes. O dirigente encampou a derrubada do artigo por considerar que ele poderia travar a aprovação da lei. Antes, já havia sido decisivo para que os clubes votassem em Marco Polo Del Nero, candidato da situação, para presidente da CBF.

A ação nos bastidores teve como recompensa a chefia de delegação da seleção na Copa e recebeu a ajuda de um antigo aliado da CBF. Em duas passagens por Brasília, Andrade foi recebido por Weber Magalhães, vice da confederação, funcionário do Senado e conhecedor dos caminhos do Congresso, onde há cerca de duas décadas faz lob­by para a confederação.

Até dois anos atrás, Magalhães recebia dirigentes e políticos na sede da Federação Brasiliense, da qual era presidente. Desde então, transferiu as atividades para seu escritório. Representará a entidade até maio do ano que vem, quando Del Nero assume e ele não será mais vice. Deixará uma lista de serviços políticos prestados que teve como recompensa mais visível a chefia da delegação pentacampeã mundial em 2002. O mesmo prêmio dado ao presidente do Coritiba pela atuação nos corredores de Brasília.

Uma mansão com piscina e campo de futebol no Lago Sul, protegida por uma grossa corrente e um cadeado novo, guarda as memórias de um tempo em que futebol e política tiveram o auge da relação em Brasília. Mantida pela CBF até o começo dos anos 2000, a "Embaixada da Bola" funcionou como central do lobby em tempos de votação da Lei Pelé (1997) e de duas Comissões Parlamentares de Inquérito que apuraram desvios cometidos pela confederação (entre 2000 e 2001). Hoje, passa quase o dia todo fechada. Tranquilidade rompida por ruidosos, porém esporádicos, eventos noturnos.

Toda terça-feira, o local abrigava peladas entre políticos, assessores parlamentares e cartolas, com direito a churrasco e shows de cantores famosos. A descontração fortalecia o vínculo do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, com a famosa "bancada da bola", liderada pelo ex-deputado federal e ex-presidente do Vasco, Eurico Miranda.

A notoriedade, por outro lado, tornou o lugar alvo das investigações da CPI CBF/Nike, que teve como presidente o atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo. No relatório final da comissão, o ex-deputado Silvio Torres (PSDB-SP) destaca que os gastos com a mansão, entre 1998 e 2000, ficaram em R$ 1,4 milhão (R$ 4,4 milhões corrigidos).

O material também mostra que o responsável pela casa era o então presidente da Federação Brasiliense de Futebol, Weber Magalhães. Atual vice da CBF pelo Cen­tro-Oeste, Magalhães ainda é o interlocutor da entidade com políticos. Além do cargo na confederação, ele é funcionário do Senado, lotado no gabinete do senador e ex-presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella (PDT-MG).

"Todo mundo sabia para que servia essa casa", diz o deputado paranaense Dr. Rosinha (PT), que foi membro da CPI. "Não era fácil jogar contra aquela turma", diz Alvaro Dias (PSDB), que presidiu outra comissão, a CPI do Futebol do Senado. "Lembro que para conseguir aprovar o requerimento de instalação da comissão foi preciso colocar em votação numa sexta-feira [dia vazio no Congresso, sem sessões deliberativas] para evitar que o povo tirasse as assinaturas em cima da hora", complementa o tucano.

Das duas CPIs, apenas a do Senado acabou com um relatório final aprovado e com o indiciamento de 17 cartolas, mas Teixeira fora da lista. A da Câmara acabou "empastelada" por um conflito direto entre Rebelo e Miranda – o agora ministro preferiu encerrar os trabalhos a aprovar um texto com as mudanças produzidas pela bancada da bola, que tinha 18 das 25 cadeiras da comissão.

A repercussão negativa das CPIs mudou o formato do lobby. A velha mansão deixou de ser alugada pela CBF há mais de uma década. Na sexta-feira, a reportagem da Gazeta do Povo foi ao local, num dos bairros mais valorizados de Brasília.

Não havia ninguém, mas segundo relatos de vizinhos ainda há festas na casa. A última delas teria sido no jogo entre Brasil e México, na única relação com o tempo em que era a embaixada na bola no centro do poder. "Tinha carro por todo canto", disse o caseiro de uma das mansões ao lado.

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