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Pekerman: habilidade para trabalhar e descobrir novos talentos | Ivan Alvarado Reuters
Pekerman: habilidade para trabalhar e descobrir novos talentos| Foto: Ivan Alvarado Reuters

José Pekerman foi um volante esforçado em uma época em que jogar futebol não rendia fortunas. Especialmente para quem foi obrigado a abandonar a carreira aos 28 anos, em 1977, por causa de uma contusão no joelho. Por isso ele teve de ganhar a vida dirigindo táxi em Buenos Aires. Entre uma corrida e outra, elaborava projetos de formação de jogadores. Um deles chegou às mãos de Ricardo Trigili, seu primeiro treinador, que o convidou para trabalhar no Argentinos Juniors. Pekerman estava de volta ao jogo.

A nova função carregava uma responsabilidade imensa. Acabara de sair da academia do clube, em La Paternal, Diego Maradona. A missão era montar uma estrutura capaz de produzir novos Maradonas, partindo do zero e sem um salário que o permitisse abandonar a praça.

"Alternava-me entre o táxi e os treinos. Até que o presidente do clube me propôs que ficasse a cargo de toda a estrutura de captação e formação de jogadores", conta Pekerman, que atravessou o país com seu táxi em busca de garotos.

O garimpo rendeu nomes como Batista (campeão mundial em 1986), Redondo, Cambiasso, Riquelme e Sorín. Ampliaria o portfólio ao ter aprovado, em 1994, um projeto para cuidar das seleções argentinas de base. Foram três títulos mundiais sub-20, com promessas como Samuel, Aimar, Maxi Rodríguez, Saviola, D’Alessandro...

A fábrica funcionava tão bem que Pekerman recusou a seleção principal, em 99. Não se considerava pronto. Topou em 2005. Caiu nas quartas de final na Copa do ano seguinte, criticado por deixar Messi – a quem bancou na convocação – no banco durante o jogo da eliminação para a Alemanha, dona da casa, na decisão por pênaltis.

Pekerman saiu de cena. Fez trabalhos rápidos no México até receber um convite desafiador no início de 2012: assumir uma Colômbia que cambaleava no início das Eliminatórias. Antes de aceitar, impôs condições. Nada de interferência nas convocações. Queria uma comissão técnica inteiramente argentina, com os profissionais que o acompanhavam na seleção de seu país e, principalmente, o psicólogo Marcelo Roffré, seu braço direito.

Roffré foi o responsável por incutir na cabeça dos jogadores a ideia de que é possível vencer, mesmo sem um histórico internacional. Os auxiliares fazem o trabalho de campo, tudo sob o criterioso olhar de Pekerman.

Judeu descendente de ucranianos, o treinador escolhe as palavras em público. Nunca é visto berrando à beira do gramado. Deixa a defesa dos seus jogadores para o espaço adequado e em momentos cruciais.

Após a vitória por 4 a 0 sobre o Uruguai, nas Eliminatórias, impôs a quebra de uma hierarquia histórica do futebol colombiano. A partir dali, os melhores lugares nos voos ficariam para os jogadores. Dirigentes, convidados e patrocinadores trocariam a classe executiva pelas últimas fileiras da aeronave, perto do banheiro.

Os dirigentes engoliram a seco. Pekerman pagou levando a Colômbia à sua melhor Copa. Joga amanhã com o Brasil para ir à semifinal, algo histórico para o país. Fez brilhar com a camisa 10 amarela James Rodríguez, mais um dos muitos garotos que viraram ouro nas mãos do ex-taxista.

"Jovens jogadores são especiais. Eles têm paixão, sonhos, esperança e uma mentalidade única. É uma excitação permanente, pois você nunca sabe quando vai descobrir o próximo craque. É das coisas mais belas do futebol", diz Pekerman, capaz, como poucos, de farejar o próximo craque.

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