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“Brasileiros e curitibanos precisam parar de ver o ramo de serviços como subemprego. Há um pensamento de que o garçom não precisa de curso de inglês, de informação e de treinamento.” Igor Bispo dos Santos (foto), gerente de bistrô | Walter Alves/ Gazeta do Povo
“Brasileiros e curitibanos precisam parar de ver o ramo de serviços como subemprego. Há um pensamento de que o garçom não precisa de curso de inglês, de informação e de treinamento.” Igor Bispo dos Santos (foto), gerente de bistrô| Foto: Walter Alves/ Gazeta do Povo

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Capital boa de marketing

O marketing de Curitiba é eficiente para quem não vive ou não conhece a cidade. É o que indica a sondagem da Paraná Pesquisas. Enquanto 60% do interior do estado defende que a capital terá um nível de organização superior às outras sedes, o índice cai para 43% para quem será diretamente afetado pelo evento. O interior também é mais otimista na avaliação se Curitiba está na frente das outras cidades no quesito infraestrutura: 47% contra 38% de quem vive na capital.

Segundo o diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, o interior continua acreditando na organização acima da média da capital. "Quem é de fora tem visão diferente", analisa. Ramiro Gonçalez, professor da FIA/USP, afirma que, se as escolhas das sedes fossem puramente técnicas, Curitiba deveria receber mais de quatro jogos, embora precise de obras de adequação. "Do ponto de vista racional, é a cidade mais preparada hoje para receber a Copa", diz.

Profissionais se preparam para os turistas

Embora os movimentos ainda sejam tímidos, há quem este­­ja se preparando para a Copa do Mun­do. Gerente do bistrô Lagundri Contemporâneo, Igor Bispo dos Santos passou por dois cursos oferecidos pela Associa­­ção Brasileira de Bares e Restau­­rantes (Abrasel). "O primeiro foi de Multiplica­dor de Informações Turísticas, voltado em como tornar a casa ami­­gá­vel para os estrangeiros. O segundo foi mais focado em serviços, ensinando como lidar com as culturas diferentes. Na realidade, um grande apanhado de bom senso."

O fato de Curitiba ter ficado em segundo plano na divisão das cida­­des-sede, com apenas quatro jogos da primeira fase, não deve diminuir a preparação do setor de serviços. "Deixa um pouco chateado Curitiba não ter ficado no mesmo nível de São Paulo ou Brasília, até pela proximidade com os países do Merco­­­sul", diz. A esperança é que, mesmo com responsabilidades menores, a cidade continue sendo atrativa. "Apesar disso, não acho que os turistas vão deixar de vir. Não só pela Copa, mas até para aproveitar o tempo de viagem no Brasil", acrescenta.

Na avaliação de Santos, o evento abre a possibilidade de mudança de mentalidade da categoria de serviços. "Brasileiros e curitibanos precisam parar de ver o ramo de serviços como subemprego. Há um pensamento de que o garçom não precisa de curso de inglês, de informação e de treinamento", pondera. "Sem essa mudança, esse braço econômico vai ficar relegado a um segundo plano", diz.

Poliglota

Apesar de já falar inglês e espanhol, Danielle Santanna Falcão Casotti, de 24 anos, estuda Hote­laria e Eventos e Italiano no Centro Europeu para aprimorar seus co­­­­nhecimentos. "Já gostava de hotelaria. Como o setor está em expansão em Curitiba e no Brasil, é um atrativo a mais. Quanto ao italiano, quero estar preparada para receber os turistas e me destacar", conta.

Danielle vê a Copa como uma possibilidade de desenvolvimento de todo o país, independentemente da localização dos jogos. "O interessante é que o país cresça como um todo, gerando oportunidades. Por isso, acho que as pessoas deveriam começar a se preocupar e se preparar para a Copa, mesmo que os brasileiros tenham a mania de deixar para a última hora", diz.

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Seis em cada dez paranaenses são favoráveis à Copa do Mundo do Brasil, de acordo com levantamento realizado pela Paraná Pesquisas. Mais da metade dos cidadãos aposta na geração de empregos como argumento principal para a realização do evento. Por outro lado, o temor de uso de recursos em obras desnecessárias e a corrupção são os maiores medos. A avaliação da população está dentro da realidade do país, especialmente na possibilidade de má aplicação de recursos. Contudo, a geração de postos de trabalho deve se concentrar na construção civil antes dos jogos e no turismo durante o evento.

Na avaliação do engenheiro Ramiro Gonçalez, professor da Fundação Instituto da Adminis­tração (FIA/USP) e do Centro de Extensão Pesquisa e Pós-Gra­­­duação em Administração (Cep­­pad), da UFPR, a análise popular reflete os riscos a que o país se expôs ao atrasar investimentos e a preparação para o evento. "Infe­­­lizmente, o sucesso está baseado em um tripé: planejamento público, investimento privado e apoio da comunidade. Não temos o primeiro e nem o terceiro", diz. A pes­­­quisa também indica que 49% dos paranaenses não acreditam na conclusão de todas as obras para a Copa.

O exemplo do Pan

Economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon-PR), José Augusto Soavinski considera inegável o fato de que haverá fortalecimento do mercado de trabalho com o evento. Porém, o pós-Copa preocupa. "Não sabemos se o legado será benéfico se levarmos em conta o gasto excessivo, bancado pela população", afirma. Para Soavinski, os setores hoteleiro, alimentício, comércio e turismo vão se beneficiar durante o evento, enquanto a construção civil será premiada na preparação. "Para onde vai essa mão de obra depois? Precisamos de empregos perenes", diz.

Diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo avalia o temor da corrupção como uma questão cultural. "As pessoas comentam que está sendo deixado para a última hora para as licitações serem emergenciais", analisa. A postura do brasileiro resulta das falhas de planejamento do Pan-Americano de 2007, realizado no Rio de Janeiro. "O Brasil já tem histórico de irregularidades, como o Pan", diz. Com 54%, o investimento em obras desnecessárias foi a citação mais frequente entre os principais prejuízos com a Copa, seguido pela corrupção, com 51% de votação.

O medo de repetir os resultados do Rio de Janeiro é reforçado pela falta de transparência nos investimentos, segundo o presidente do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), Jaime Sunye Neto. "Ninguém entendeu direito quais são os investimentos do governo municipal, estadual e da iniciativa privada na Arena da Baixada. Se a pesquisa fosse repetida com engenheiros, os resultados seriam semelhantes", diz. "Essa modelagem deveria ser discutida e pensada com a participação popular. Em alguns estádios, como os de Manaus e Cuiabá, não há perspectiva de retorno do investimento", diz Sunye.

Além disso, muitos investimentos serão feitos por meio do Regime Diferenciado de Con­­tra­tações Públicas (RDC). "Fica o paradoxo de tentar estabelecer controles melhores, enquanto o tempo para planejamento é cada vez mais limitado", diz o presidente do IEP. Metade dos paranaenses revela que gostaria de fazer sua parte na Copa "fiscalizando e cobrando o poder público", segundo a pesquisa. "Se a população chama para si essa responsabilidade, é por que entende que os órgãos que deveriam avaliar os gastos não vão cumprir o seu papel", analisa Sunye.

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