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 | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

Pequenas manifestações de apreciação, de encorajamento, de cortesia e de atenção, além de conceder créditos e elogios pelos esforços realizados, ajudam os relacionamentos a se desenvolverem de forma adequada

Liderança é a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir objetivos comuns, inspirando confiança por meio da força do caráter

Trechos do livro Como se tornar um líder servidor

A maneira mais eficaz de forjar um time vencedor é apelar para a necessidade dos jogadores de se ligarem com alguma coisa maior do que eles

Os líderes servidores mais eficazes possuem a extraordinária capacidade de demonstrar ao mesmo tempo um rigor implacável e uma afeição sincera. Podem ser muito exigentes em sua busca da excelência, mas demonstram igual empenho em manifestar seu interesse e amor pelas coisas

Não é preciso ter um cargo de chefia ou hierarquicamente importante para ser um líder e influenciar as outras pessoas a terem mais entusiasmo

A partir de hoje, quando chegar à Granja Comary, em Teresópolis, Luiz Felipe Scolari será o líder mais vigiado do Brasil. Além da experiência profissional, Felipão foi buscar em um dos livros mais vendidos no país conceitos e ideias para comandar a seleção na Copa de 2014. Como se tornar um líder servidor, de James C. Hunter, 500 mil exemplares vendidos, traz muito do novo estilo Scolari, uma versão light do "general" de 2002, talhado pela leitura de A Arte da Guerra, de Sun Tzu. "O Parreira, nosso intelectual na comissão técnica, me recomendou e estou aproveitando muito", explicou. A Gazeta do Povo selecionou algumas ideias do livro e mostra como elas já se aplicam no trabalho do treinador.

A rede de confiança que Luiz Felipe Scolari estabelece com seus comandados é construída muitas vezes em pequenos gestos. Em abril, durante uma palestra em São Paulo, chamou atenção o fato de o treinador antecipar a convocação de oito jogadores, como também quem seriam os capitães do grupo. Acabou passando despercebida a preocupação do técnico com o acidente que o zagueiro Henrique, do Napoli, sofrera na Itália, ao bater seu Porsche. Indicou, ali, que acompanhava o jogador, então pouco cogitado como um convocado para a Copa. Meses antes, em setembro, antecipou a presença de Júlio César na lista final. "Como não paravam de criticá-lo, adiantei a convocação para deixá-lo tranquilo. A partir dali, se quisessem reclamar, seria comigo", justificou o treinador. "A empatia com os jogadores é a maior virtude dele. Ele compra a bronca pelos caras e os jogadores morrem por ele", diz Luís Carlos Silveira Martins, ex-presidente do Grêmio e amigo pessoal do treinador.

Horas antes da final da Copa das Confederações, um texto de duas páginas foi passado sob a porta dos jogadores. Era o toque final da bateria motivacional de Felipão, redigido na véspera com frases de incentivo como "vocês são as pessoas especiais" e "o sorriso do sol, com seus raios de esperança, está lá para dizer: vão e realizem sua jornada". "O Felipão é um comunicador nato", diz Luís Carlos Silveira Martins, ex-presidente do Grêmio. "Não é à toa que no Chelsea o Felipão não foi bem. Mesmo arranhando inglês e com intérprete, ele não conseguiu estabelecer uma comunicação natural", prossegue. Sem a barreira do idioma, desde a convocação o treinador deixou claro até onde está disposto a ir pelo hexa. "Vou até o inferno com meus jogadores", avisou. Quem conhece o treinador, sabe que não se trata apenas de discurso.

Ao anunciar os convocados para a Copa, Felipão exaltou a ambição do jovem grupo brasileiro, mais fácil de trabalhar do que com atletas consagrados. Além de explicar, por exemplo, a ausência de Ronaldinho Gaúcho, a afirmação indica que o treinador quer dos jogadores um olhar especial para o Mundial dentro de casa. "Tudo que fazemos, cada jogo que jogamos, faz com que o país se alegre ou se deprima. O Fe­­lipão nos ajuda a lidar com o sentimento de que as pessoas morrerão caso não ganhemos", disse o atacante Fred, após a conquista da Copa das Confederações. A forma como o time comprou essa ideia no evento-teste, aliás, explica por que 17 dos 23 convocados para o torneio começam a preparação em Teresópolis, amanhã. "Ele valoriza muito quem o ajuda. O grupo estava fechado faz tempo", diz Marcos.

Luiz Felipe Scolari vai de um extremo a outro no trato com os jogadores sem perder o comando do grupo. "Ele faz de tudo. Chega no treino ele te xinga, depois de noite faz um churrasco, está zoando todo mundo, fazendo piada… É um cara que alterna muito o lado profissional com o humano, de bater papo com o jogador e o jogador achar legal isso", conta o ex-goleiro Marcos, campeão com Felipão no Palmeiras e na seleção brasileira. A calibragem entre a cobrança e o afago é feita em conjunto com a psicóloga Regina Brandão, companheira de trabalho desde o fim dos anos 90. "Administrar as emoções é essencial para o Felipão", diz Regina.

Em 2002, Cafu envergava a braçadeira de capitão, mas o grupo do penta tinha capitães informais: Roberto Carlos, Roque Júnior, Ronaldo e Ri­­valdo. A estratégia será repetida em 2014. A braçadeira é de Thiago Silva, mas a liderança será compartilhada com Júlio César, David Luiz e Fred. "Thiago Silva é um jogador perfeito para o Felipão. Bom tecnicamente e um líder fora de campo. Ele gosta de jogadores a quem possa atribuir essa liderança", diz o jornalista Ruy Carlos Ostermann, autor do livro Felipão, A Alma do Penta.

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