Seleção não tem a privacidade idealizada por Felipão

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Luiz Felipe Scolari fez questão de manter Teresópolis como casa da seleção até o fim da Copa para garantir a privacidade dos jogadores. Mas, na prática, os brasileiros vivem uma clausura seletiva na Granja Comary. Ser escolhido por um programa de tevê, morar ou trabalhar ao lado da concentração e receber convite de patrocinador já puseram, em apenas quatro dias, torcedores comuns lado a lado com os jogadores.

O primeiro treinamento de ontem teve uma interrupção de dez minutos, entre o aquecimento e a atividade com bola, para que os 23 jogadores e a comissão técnica recebessem no centro do gramado o estudante Leonardo Marques Tomé, de 17 anos. Vítima de artrogripose, doença que afeta as articulações, o adolescente foi levado em sua cadeira de rodas até os atletas. Leu uma carta em que conta sua história e a paixão pelo futebol. O relato comoveu os jogadores. Neymar chegou a chorar. No fim da atividade, David Luiz sentou-se ao seu lado e ficou vendo, maravilhado, Tomé fazer embaixadas.

O encontro foi acompanhado pelo apresentador Luciano Huck e filmado por uma equipe do seu programa. Segundo a CBF, o global combinou a ação diretamente com Felipão e levou a tiracolo seus dois filhos, Joaquim e Benício. Todos portavam credenciais similares às dos jornalistas que cobrem a seleção.

No mesmo treinamento, o goleiro Júlio César deixou o gramado, pulou uma placa de propaganda e foi até o alambrado que separa a Granja de um condomínio vizinho. Tirou foto e deu autógrafo para um porteiro e alguns moradores. David Luiz, Thiago Silva e Paulinho repetiram a generosidade à tarde, entre o trabalho físico e o futevôlei que encerrou o quarto dia da preparação.

A proximidade do condomínio com os campos chamou a atenção de Felipão no planejamento da Copa. Temendo assédio ou mesmo algum tipo de espionagem, o treinador sugeriu que a CBF erguesse um tapume isolando a Granja do vizinho. Os condôminos bateram o pé e permaneceram com a vista privilegiada. Uma equipe de tevê e uma de jornal estão hospedadas ali. Também foi montado o estúdio de um canal argentino.

O mesmo acesso raro tem sido oferecido por patrocinadores a seus clientes. Na segunda-feira, os jogadores participaram de uma ação promocional na área de imprensa com parceiros da CBF. Algo que deve se repetir em outros momentos da preparação.

Acessíveis a estranhos, os jogadores não podem receber familiares. Terão con­­­­tato com eles somente nas folgas. Apenas três estão pre­­vistas até o fim da 1.ª fase da Copa.

Sem um "pistolão" para se aproximar da seleção, torcedores se aglomeram diariamente na entrada da Granja Comary na esperança de entrar ou ver os jogadores. Por enquanto, nenhum deles atingiu o objetivo. Mesmo os gritos estridentes das meninas por Hulk, Neymar, David Luiz e Thiago Silva dificilmente são ouvidos, por causa da distância entre a portaria e os campos.

Por exigência da Fifa, a seleção fará um treino aberto antes da Copa. Será segunda-feira, em Goiânia. Vinte mil pessoas terão acesso gratuito ao Serra Dourada.