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Meninos usam a camisa de Neymar, o filho ilustre de Mogi: torcida decepcionada com a relação fria com o craque | Albari Rosa, enviado especial/ Gazeta do Povo
Meninos usam a camisa de Neymar, o filho ilustre de Mogi: torcida decepcionada com a relação fria com o craque| Foto: Albari Rosa, enviado especial/ Gazeta do Povo

Courtois sai de campo carregado nos ombros. A torcida o espera com a festa digna de um herói. Ele acaba de pegar dois pênaltis e acertar a cobrança que levou a Bélgica adiante no mata-mata. A poucos metros dali, camisa 10 às costas, Neymar – na verdade, um punhado deles – observa com respeito e alguma inveja o rival de um futuro duelo eliminatório.

A cena acima é apenas uma das muitas possibilidades da Copa de 2014, mas foi real na Copa do Mundo da Escola Estadual Francisco Ferreira Lopes, em Mogi das Cruzes, a 63 quilômetros de São Paulo. O município de 387 mil habitantes viu nascer o brasileiro mais importante dos próximos 32 dias e receberá a seleção que desperta maior curiosidade no Mundial. E diante da relação fria de Neymar e da empolgação com a Bélgica, concentrada na cidade desde ontem à noite, não há dúvida em dizer: o craque brasileiro está perdendo o jogo dentro da própria casa para a "ótima geração belga".

"O Neymar nasceu aqui, mas não tem nenhum projeto na cidade nem visita Mogi das Cruzes", reclama Guilherme dos Santos, de 17 anos, estudante do 3.º ano do Ensino Médio. Ele usa um brinco preto na orelha esquerda e outro prateado na direita. Veste a camisa 10 do Brasil com o nome "Neymar Jr" nas costas. Não é o único. O Brasil da Francisco Ferreira Lopes tem outros seis "Neymar Jr" com a camisa 10. Um "Luís Fabiano" no gol e um "Ronaldo" magro, que adora dar bicicletas, completam o time de futsal que massacra Portugal por 7 a 0. Não havia um "Cristiano Ronaldo" nem genérico do outro lado.

"Aqui é pressão igual na Copa. A gente é o Brasil e tem a obrigação de ganhar", resume Cristiano Reis, de 17 anos, também vestindo a onipresente camisa 10 amarela.

É sobre o dono deste uniforme que estará a maior pressão da Copa-2014. A maior pressão de uma vida iniciada a 3 quilômetros da Escola Estadual Francisco Ferreira Lopes. Foi no Condomínio Safira, no bairro Rodeio, que a bolsa de Nadine estourou na noite de 4 fevereiro de 1992. Na madrugada seguinte, às 2h15, nasceu Neymar Júnior.

Responsável pelo parto, o médico Benedito Kleine só foi se dar conta da importância do menino que trouxe ao mundo há pouco tempo, quando começou a ser procurado pela imprensa. "Naquela época, Neymar Júnior não tinha cabelo moicano. Era difícil de reconhecer" tornou-se a resposta padrão e bem-humorada do ginecologista e obstetra.

Um esquecimento que na cidade faz todo o sentido. O Neymar mais famoso de Mogi é outro. Neymar pai vestiu a camisa 7 do União Mogi por cinco anos. Quando uma proposta do Rio Branco de Americana balançou o atacante, empresários locais se cotizaram para juntar o equivalente a R$ 55 mil e mantê-lo no clube.

"Era um ponta-direita muito rápido, driblador e de chute forte. O craque do time. Jo­­gava pra frente como o filho", conta Akcel de Godoy, ex-prepador físico do União e hoje diretor de esportes da prefeitura de Mogi das Cruzes.

Pela cidade, Neymar Júnior é acusado de não alimentar o laço com a cidade. "Faz uns dois anos só que ele começou a dizer nas entrevistas que é daqui", atesta secretário adjunto de Esportes, Carlos Frederico Abib.

Foi nessa época que ele e o pai estiveram em Mogi para um jogo beneficente. "Foi muito bonito. Os dois jogaram no mesmo time, se abraçaram, choraram", conta Godoy.

Serviu para quebrar o gelo, mas não para ocupar um espaço vazio que os belgas ameaçam preencher. Bandeiras amarelas, vermelhas e pretas enfeitam o bairro Taiacupeba, onde fica o resort que desde ontem hospeda a candidata a sensação da Copa. Alunos da rede municipal de ensino tiveram comida típica da Bélgica incorporada à merenda. Vinte bares da cidade aderiram ao "Mês da Cerveja Belga" e hoje começa um festival gastronômico do país europeu que dura até o fim do Mundial.

Na Francisco Ferreira Lopes, a Bélgica ficou mais próxima para o 2.° H, sorteado para ser os Diabos Vermelhos. A gincana da Copa exigia confecção de bandeira, caracterização da torcida e apresentação de dança do país. O futebol foi para a ponta da língua naturalmente.

"A gente queria Brasil, Alemanha ou Espanha. Mas quando caiu a Bélgica e vi que tinha o Courtois, o Hazard, outros grandes jogadores, fiquei muito feliz. Vamos levar a bandeira para o treino", diz Jonata Cascais, de 16 anos, o Courtois de Mogi das Cruzes. Para os mogianos, será muito mais fácil ver de perto a "ótima geração belga" do que o filho mais ilustre da cidade.

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