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 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Aposentado do futebol desde dezembro de 2014, o paranaense Alex curte a vida que imaginava quando ainda desfilava sua técnica apurada nos gramados do planeta.

Hoje comentarista da ESPN Brasil, o ex-jogador que marcou época em Coritiba, Cruzeiro, Palmeiras e Fenerbahçe, da Turquia, falou com a Gazeta do Povo por mais de uma hora enquanto seu filho mais novo, Felipe, batia bola no ginásio de futsal do Clube Curitibano.

Da arquibancada, enquanto uma nova geração apaixonada por futebol dava os primeiros passos, ele comentou sobre seu possível futuro como técnico, destrinchou a situação do Coritiba (veja o destaque em vídeo) e também sobre o Brasileirão, VAR, seleção brasileira e o amadurecimento de Neymar.

Clique no link abaixo para ir direto no assunto:

Fim de carreira como jogador no Coritiba

Possibilidade de ser técnico

Vida de torcedor e Redes Sociais

Bom Senso FC e Política

Realidade do Coritiba, distância com o Atlético, rompimento com a CBF

VAR, revelação do Brasileirão, seleção, Arthur, Neymar

Pai de tenista

Leia o bate-papo abaixo ou escute a conversa na íntegra no player.

Escute a entrevista com Alex na íntegra

Carregando o áudio...

Você se aposentou no fim de 2014. Como tem vido sua vida desde então. Aquele ditado de que o jogador de futebol morre duas vezes se aplica?

Pra mim não. Eu me programei pra parar. Eu poderia jogar. Poderia entrar 2015 jogando facilmente. Meus exames físicos mostravam isso, minha condição de treinamento mostrava isso. Só não tinha mais paciência de ver os caras num churrasco e eu ter de ir pra casa. De minha família estar na praia e eu ter de deixá-los para voltar para [jogar]. E o ambiente do Coritiba me ajudou a me antecipar também, a não querer prorrogar. A ideia era me divertir nos dois últimos anos e o que eu menos fiz foi me divertir.

Foi tão marcante assim?

Pra mim foi fortíssimo. A ideia que o Vilson [Ribeiro de Andrade] e o [Felipe] Ximenes na época me venderam não aconteceu. Foi longe do que me passaram. E o ambiente interno do Coritiba, que eu não conhecia, passei a conhecer na pele. Muitas coisas eram imputadas a mim e até hoje escuto que não gosto do Vilson. Não tenho nada contra o Vilson. Absolutamente nada. Diziam e disseram muito que tínhamos uma briga. Na verdade o que existia era uma divergência. Eu era capitão do time e ele o presidente. Eu não concordava com algumas coisas e tinha que defender meu vestiário. E em contrapartida ouvia coisas assim dos jogadores ‘se você não vier com a gente, ficamos enfraquecidos, você é o capitão, o ícone do clube’.

Em algum momento acharam que você ficaria do lado da diretoria?

Não sei, acho que não. Mas tive um problema quando disse em entrevista que a CBF funciona como uma sala de reuniões pra Globo, ali se cria uma instabilidade entre a diretoria e eu. Diziam eles que eu falava como representante do Coritiba. Na hora achei meio forçado da parte deles. Mas depois parando e pensando realmente sim, porque falei dentro do clube, dentro do CT. Talvez até parecesse, mas não me arrependia. Então chegou uma hora quando nós perdemos para o Maringá na semifinal de 2014 parei e pensei: vou fazer mais o que? Fazer mais uns dez gols, talvez jogue mais um ano e tente brigar para ganhar o Paranaense porque estruturalmente o Coritiba vai demorar pra se organizar e ganhar algo maior. Não queria sair de Curitiba, jogar em outra cidade. Tanto que anunciei a aposentadoria em maio e vou curtir a vida nos últimos jogos ao longo do Brasileiro. Aí foi divertido, aí foi legal. Por exemplo, fui no Mineirão e sabia que era a última vez. Fui em Porto Alegre e sabia que era a última vez. Mas imaginei ter a vida que tenho hoje enquanto jogava. O dinheiro que ganho vou guardar, nunca fui de sair por aí gastando dinheiro. Imaginava ter a condição de fazer exercício pra cuidar da minha saúde porque o esporte profissional não é nada saudável, muito pelo contrário (risos). Tem jogo vou no Couto Pereira, assisto. Prometi que falaria pouquíssimo do clube e às vezes que me posiciono não tomo um rumo daquilo que realmente imagino. Hoje conhecendo o ambiente do clube muita coisa vira fofoca, um negócio assustador.

Acompanho o tênis da Maria quando dá, faço as coisas com a Antônia quando é necessário, acompanho o futsal do Felipe e dos meninos. Gosto, acho legal ver como os meninos pensam hoje em dia. Converso muito de futebol com a maioria das pessoas que estão no futebol, mas sem essa loucura de estar lá todo dia, de viver pressionado por resultado.

Brinco muito com o Fábio Luciano. Às vezes ele me manda foto com a filha andando de skate. Falo: ‘cara, imagine se você estivesse num clube de futebol onde você estaria essa hora’ (risos). A gente faz esse tipo de brincadeira.

Você falava em ser técnico. Ainda pensa?

Penso, continua igual. A preparação continua. Estudo, fiz curso. Ano que vem vou pro curso da CBF.

Já tem alguma licença da CBF?

Não, de treinador eu desisti três vezes. Mas ainda está no meu radar. Estou matriculado de novo. Assim, o curso de treinador serviu como uma desculpa pra eu não ser treinador. Eu pus na cabeça que a hora que eu tiver a licença... por que é assim, já recebi convites pra ser treinador logo que eu parei. E a minha desculpa é que não estou preparado nem burocraticamente. Então me defendia com isso. Mas em contrapartida já visitei clubes, já parei em clubes uma semana, fiquei conversando com os caras. Mas sem alarde, sem fotografia, sem nada.

Você está com 41 anos. Tem algum prazo para iniciar essa nova carreira?

Não. Você vê o futebol, o Felipão tem 69 anos. O Zico quando foi meu treinador já tinha mais de 50. Então não tenho. As pessoas falam que estou perdendo tempo, mas acho que não. Até porque não estou fora do futebol. Só não estou ali na loucura. Eu converso sempre. Consigo ver futebol sem aquela loucura de ficar torcendo precisando de resultado.

Vê com um olhar diferente?

Vejo, totalmente. Aprendi uma coisa depois que fui pra televisão. Tem o futebol da arquibancada, que é o do torcedor, do apaixonado. Pouco importa se você tem quatro zagueiros, três atacantes, se está com menos um, menos dois, se ataca, se defende. É quando acaba o jogo, ganhamos ou perdemos. O [futebol] da imprensa, que a imprensa vende – essa é a realidade. Hoje do lado da imprensa eu consigo ver bem isso. As coisas muitas vezes são direcionadas. E tem o futebol de verdade, que é o que se vê lá embaixo, no vestiário. Esse é muito distante da arquibancada, muito distante às vezes até da própria diretoria. Os próprios diretores quando assumem um clube acham que sabem como funciona o futebol e de repente encararam e veem que não é nada daquilo.

Com esses três panoramas, acha que será um técnico melhor?

Eu dou muita risada quando as pessoas falam que sou muito inteligente e vou ser um bom treinador. Não consigo enxergar assim. Acho que teoria é uma coisa e prática é outra. Então teoricamente tenho tudo pra ser treinador, mas na prática é outra coisa, tem que ver como vou lidar com o atleta, como vou conseguir passar uma ideia pro jogador. Como que esse jogador vai assimilar. Ou se for dirigente, como vou conversar com meu treinador, que vai estar abaixo de mim. Ou como vou falar com meu presidente, que vai estar acima de mim. A gente tem uma brincadeira que fala assim, você tinha tudo pra ser jogador, tinha bola, chuteira... É mais ou menos comigo. Tenho tudo pra ser treinador, não sei se tenho capacidade pra ser. Mas na teoria sim. Só que da teoria pra prática tem uma distância bem grande.

E você mantém a paixão de torcedor?

Sou torcedor, sou torcedor total. Só que não tenho a linha do torcedor que quando o cara erra um cruzamento acha que o jogador é uma bosta, que o cara não treina, entendeu? Sei que por trás de um treino de cruzamento tem um milhão de coisas. Pode ser falta de concentração, pode ser falta de interesse, pode ser um cara acomodado, pode ser um cara que está com saco cheio de um clube que não cumpre as promessas. Quem vai saber é quem está lá dentro. O torcedor só pode imaginar. E hoje em dia, com redes sociais, alguém pode escrever algo e isso virar uma verdade. Como têm várias que vão saindo e uma mentira contada várias vezes se torna uma verdade. Então assim, vou pro Couto Pereira, vejo o que os jogadores passam. Não tenho tanto contato com esse grupo, mas sei. Vejo jogos do Atlético, do Paraná Clube, vejo jogos do Londrina. Vejo futebol, mas torço pro Coritiba, torço que as coisas aconteçam. Não tenho mais aquela loucura de achar que o mundo vai acabar se perdermos no domingo, que alguém vai tirar sarro da minha cara. Eu já tinha pouco, mas depois de ser profissional de futebol tenho menos ainda.

Você citou redes sociais. Você tem milhões de seguidores no Twitter e Instagram. Recebe muitas mensagens, consegue responder?

Depende muito do tema, de onde estou. Hoje eu tenho um tempo ocioso grande. Se não tenho nada pra fazer, posso estar lendo, mas estou sem concentração, o Twitter é uma coisa que me ganha o tempo porque ali você tem várias opiniões. E uma coisa eu aprendi, aprendi a assimilar e aceitar a opinião dos outros. Eu não preciso concordar, mas aceitar é quase que uma obrigação. E quando o tema central é futebol, me agrada.

Você relembra muitos momentos da carreira no Instagram...

O Instagram está sendo usado mais como uma forma nostálgica. As pessoas falam você lembra do jogo tal, lembro. As vezes consigo salvar um gol ou outro e colocar. Tenho memória boa pras coisas que aconteceram comigo no futebol. Então serve pra isso, mas principalmente pra interação com geral. A coisa que mais me agrada hoje em dia – tem quatro anos que parei – é o respeito que consegui atingir por atleticano aqui em Curitiba, por paranista, corintiano, por são-paulino, por atleticano em Minas.

Isso acontece por sua maneira de jogar?

Foi pelo meu comportamento. Fiz vários gols em Atletiba e nunca corri pra a torcida do Atlético. Não condeno quem faz, mas não serve pra mim. E fiz o mesmo em São Paulo...

É o teu perfil...

É do meu perfil. Por exemplo, joguei em times em que o cara fazia o gol e a alegria maior... o Paulo Nunes, a maior alegria dele era irritar o corintiano do que alegrar o palmeirense.

E você usa muito WhatsApp? Faz parte de grupos?

Têm grupos de todos os times que joguei. Tem grupo do último Coritiba, tem grupo da tríplice coroa do Cruzeiro, do Palmeiras de 99.

E são bastante ativos?

Uns mais ativos do que os outros, depende muito do momento. Por exemplo, agora o do Palmeiras está [quente] porque tem jogo contra o Boca e o pessoal relembra aquelas histórias todas. O do Cruzeiro na final da Copa do Brasil a gente comentando a respeito.

E a maioria dos jogadores desses times estão nos grupos?

Todos. Todos, sem exceção. Uns mais ativos, outros menos ativos. Até por idade, por família, aquela coisa toda. Mas o WhatsApp é uma coisa que o pessoal usa.

Então vocês mantêm contato de alguma forma...

O time [do Cruzeiro] de 2003 e de 2013 do Coritiba são grupos que o pessoal realmente criou uma amizade fora. O grupo de 13 a gente brinca muito com a nossa situação da época por que quando se desenhou, era para ficar entre os primeiros e depois acabou brigando em baixo.

Começou bem, né?

Começou muito bem. Então existe uma discussão ampla. Acontece um tema, essa entrevista quando sair provavelmente alguém puxe o link, jogue no grupo e as pessoas, os jogadores vão comentar a respeito. Porque no meio disso tudo tem a vida de cada um, né? Por exemplo, o Robinho [meia do Cruzeiro] separou. Com a gente aqui [no Coritiba] ele era casado. Então vira um tema. A gente conhecia ele com a esposa e com filho, hoje é um cara solteiro. Willian [Farias], por exemplo, saiu daqui, foi pro Cruzeiro e hoje está no Vitória. Ele estava num Cruzeiro que brigava por título e hoje está no Vitória brigando pra não cair. O Chico está na Turquia, o Luccas Claro está na Turquia. O Dudu pintou, de repente ia surgir, mas hoje está no Londrina. O Keirrison teve aquela loucura toda da vida dele. Então os temas sempre surgem. E o tema central são as figuras que estão no grupo, dos quais hoje temos protagonistas. O Júnior Urso é protagonista na China, Robinho protagonista, Vanderlei, Victor Ferraz, Rafinha. Quer dizer, era um grupo de jogadores interessantes. E você essa molecada ainda jogando bem é legal, é divertido.

E o grupo do Bom Senso?

Bom Senso acabou, acabou.

Nem no WhatsApp?

Eu tenho relação, o grupo continua, mas eu não participo porque é um grupo de jogadores de futebol. Eu sou um ex-jogador. Quando tem algo no qual eles querem me incorporar, que saiba, que participe e eu ache que tenha de participar, aí vou na boa. O grupo está lá, mas sei bem pouco da situação.

Você decidiu sair por ser ex-jogador?

Era mais ou menos uma ideia. Os ex-jogadores eram um apoio, continuamos sendo.

Você acha que faz falta?

Faz, claro que faz.

O que falta para existir um movimento desse tipo hoje em dia?

Educação, né cara? A gente não é educado pra isso. Somos educados para sermos egoístas, para cuidar do nosso. Enquanto não tocar no nosso, não tem problema. Pouca gente pensa numa coletividade. E aí quando você pensa numa coletividade, outras coletividades vão contra você.

Os clubes não fazem nada para isso mudar.

Quanto mais o jogador for egoísta, quanto menos preparado for o jogador, melhor pro clube de futebol. Pode continuar jogando dez da noite, pode continuar jogando com 48 horas [de intervalo]. Existe uma coisa cultural no Brasil, que infelizmente é assim, a discrepância social é grande. Então quanto você vê um jogador de futebol ganhar um milhão, você pensa: o cara ganha muito. Isso sem lembrar o que gira em torno dele. Eu, por exemplo, carrego a pecha... encontrei com dois, três no aeroporto dizendo que quebrei o clube. Eu falo: não quebrei nada, nunca dirigi o clube. Nunca contratei ninguém, não fiz contrato, não mandei embora. Nem negociar com o clube eu negociei. Assinei um contrato que o presidente me ofereceu. A única coisa que briguei no Coritiba foi que não queria pessoa jurídica, queria pessoa física. Essa semana saiu que o Deivid está para receber ainda uma situação de uma penhora das cadeiras.

NR: O Coritiba vai colocar 34 cadeiras cativas a leilão por causa de uma execução trabalhista do ex-atacante.

E aí a discussão que sempre tenho. O Deivid custou caro pro clube? Na minha visão não. Na minha visão o Deivid foi barato pro clube. Ele fez gol, foi pro campo, lutou, jogou machucado, brigou. Era um cara super comprometido. Devolveu. Ah, se o Coritiba pagou 20 ou pagou 200 é um problema do Coritiba. Quando eu chegou no Coritiba tinham 66 jogadores. Tem jogador que vocês da imprensa não conhecem, imagine o torcedor. Você pode dizer que o jogador é barato. Não é barato. Esse jogador custou um valor pro clube, mais encargo social e na hora de ir embora foi pra Justiça. Está aí na massa passiva, na dívida passiva, ficou pra trás. Vai ter de pagar. O Deivid, o Zé Love, o Júlio César, esses caras a gente via, a gente sabe [que devolveram]. Mas os que vieram e nunca jogaram um minuto no clube? O clube contratou. Era quem dividia vestiário com a gente. Então, assim... os dirigentes de clubes também querem isso por que não têm responsabilidade. A gente fala, fala, fala do Samir ou do Bacellar, mas a dívida do Deivid não é de nenhum dos dois. É da época do Vilson. Como o Vilson também deve ter pego dívidas anteriores. E assim vai indo. Enquanto não tiver uma responsabilização pelo momento do clube [não funciona]. Dirigiu três anos, gastou x, está devendo tanto e paga ou arca com isso, a gente fica assim. Então os clubes também não têm interesse. A Copa União lá atrás mostrou isso, a Primeira Liga mostrou mais ainda. E você vai falar com os jogadores e infelizmente eles pensam algo parecido. Estou recebendo, se falar sofro retaliação. Ter colhão, por exemplo, como o Paulo [André] é difícil.

Você mantém contato com ele?

Com o Paulo eu tenho. Eu tenho com a maioria daquele grupo [de ex-jogadores do Bom Senso].

Hoje o Paulo André hoje mantém uma dupla função no Atlético, como jogador e dirigente...

É maluco (risos).

E além disso, ele se posiciona politicamente. Você acha que o jogador deve se posicionar? É um risco?

Não é um risco pra ele, é para qualquer um que seja público. Você assina sua matéria na Gazeta, se amanhã se posicionar a favor do Haddad ou a favor do Bolsonaro [vai receber crítica do outro lado]... Não é só o jogador, é o músico, o ator, o próprio político, o jornalista. Qualquer um que seja público e declarar seu voto corre risco de ser questionado. Eu vivi isso numa condição menor dentro do Coritiba. As pessoas falam que eu elegi o Bacellar. Eu não elegi o Bacellar. Eu só me posicionei. E ainda expliquei que ia votar no Bacellar porque nos dois últimos anos fui atleta do Vilson e o que ele fez não acho que deveria ser feito. Quem foi lá e escolheu o Bacellar foi a torcida. A mesma coisa agora. Os atletas que estão se posicionando, talvez Juninho, Ana Moser, Ana Paula, o Paulo quando assinou o manifesto.

Teve também Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho.

E aí as pessoas falam... Pô, mas o Rivaldo, nordestino, declarou voto no Bolsonaro, o Ronaldinho foi pobre e também se posicionou a favor. É uma questão pessoal, você tem que perguntar por que os caras fizeram isso. Por que se posicionaram a favor do PT ou no caso [a favor] do Bolsonaro? Não adianta, você como figura pública vai ser questionada. A situação do Bacellar é uma situação menor na qual aprendi que você perde sua liberdade de expressão.

Por isso você prefere se preservar...

Eu prefiro total. A situação política do Coritiba em 2014 me ensinou muita coisa, muita coisa. Eu fui naquela de fazer minha opção por aquilo que acho melhor para o clube e lembro de uma frase do Vilson, talvez por ele ser mais velho do que eu, ter uma vivência maior, acabou a eleição ele disse que o ônus e o bônus eu iria carregar. Eu agradeci a ele no dia da eleição e só depois fui entender o que era. Mas eu também não aceitar o bônus e não vejo motivo para aceitar o ônus porque não piso no Coritiba para contratar ninguém, pra mandar embora, pra formar time.

E uma outra coisa que aprendi é que as pessoas te oferecem alguma obrigação. Você tem obrigação de voltar para o Coritiba, você tem obrigação de trabalhar para o Coritiba. Já ouvi: ah, se o Alex fosse tão coxa ele jogaria de graça. Ou você assimila ou não assimila. E o tempo vai passando e você vai aprendendo isso. A situação do Bacellar, óbvio, é ridiculamente pequena comparada com a do Brasil, mas o processo é parecido.

Eu tenho meu candidato, conversei com o Paulo André na época do manifesto que ele outros atletas assinaram. E ainda acontece de o Atlético entrar todo de amarelo e ele entrar com o agasalho (risos). É algo que o cara, quando resolve assumir uma posição como assumiu, ele encara. Hoje, como eu não jogo, não defendo nenhum clube, não tenho necessidade nenhuma de fazer isso.

E o que você achou do Paulo André entrar de jaqueta?

Achei que ele seguiu a coerência dele. Acho que uma semana antes tinha assinado um manifesto em favor da democracia.

O que você achou da manifestação do Atlético? O clube nega que tenha sido uma manifestação pró-Bolsonaro, mas o presidente do Conselho Deliberativo, Mario Celso Petraglia, já expôs que apoia esse candidato.

O Atlético Paranaense é muito grande para ser personificado no Mario Celso. Ou em qualquer um. Podia ser o Jofre Cabral lá atrás, podia ser seu Aníbal Khury, podia ser qualquer um. É um regime presidencialista e alguém manda. Então não é o Atlético Paranaense. O Atlético é um clube que tem uma porrada de gente por trás. Alguém mandou que as coisas acontecessem daquele jeito. Os caras, enquanto empregados, entraram. O mesmo aconteceria numa empresa. O cara da Havan [Luciano Hang] que está famoso por apoiar o Bolsonaro, provavelmente na empresa dele têm alguns que tenham feito achando que tenham que votar no Haddad ou em outro no primeiro turno. Então, nessa situação não coloco que o Atlético fez isso. Alguém que mande, provavelmente o Mario Celso pelo que ele falou depois, tenha feito isso.

Por tudo que você fala, parece que não quer se meter na política do Coritiba nunca mais.

Não, não tenho nem ideia pelo seguinte: as ideias que tenho do clube não batem com o que as pessoas pensam.

Nem no futuro?

Não posso falar lá da frente. Tenho 41 anos, vivo no futebol há muito tempo. Tenho ideias que talvez não se encaixem no Coritiba.

Hoje?

Não, no geral, no sempre. Por exemplo, o Robinho não servia pro Coritiba – pra mim servia. O Júnior Urso não servia pro Coritiba, dá pra citar vários [casos]. Eu vivi na pele isso. Aceitação de alguém que é da casa contra alguém que é de fora é muito grande. E aí estamos falando de um poder cultural. Alterar um poder cultural é algo grande. E o entendimento do tamanho que nós somos e o tamanho que podemos alcançar. Porque é duro você conversar com torcedor do Coritiba e falar assim: ‘na década de 80 a gente conseguia’. Pô, a década de 80 faz muito tempo. Dinheiro era outro, futebol era outro, perspectiva era outra. A intenção dos meninos era outra. Eu, quando tinha dez anos, queria jogar com o Tostão. Não sei se um menino de dez anos hoje quer jogar com o Yan Sasse. Entendeu? Não sei se um menino de 14 anos do Coritiba pensa assim: ‘caramba, vou fazer tabela com o Alisson Farias. Não sei se ele vai pra arquibancada do Couto e pensa: ‘puta que pariu daqui a cinco anos vou jogar no Coxa’.

Até por causa da globalização do futebol...

O exemplo maior é o Mosquito. Ele esperou a vida inteira pra jogar no Coxa, a hora que ia jogar resolveu ir embora. Aí você questiona as pessoas, que falam que a chance tinha que ter sido dada antes. Mas dada antes por que? Tem também caso do Matheus Cunha, que foi pra Suíça e hoje está no Red Bull Leipzig, comprado por um valor 1000% maior. Tem também o zagueiro Guth, que foi para a Itália. Isso também mostra a desvalorização da base. A pergunta que eu faço é a seguinte: o Coritiba é que tipo de clube? Comprador não é, não tem dinheiro. Formador não é, não põe pra jogar. Vendedor não é, quando vende as pessoas ficam chateadas que vendeu. Lembro quando venderam o Guth e o Matheus, que chamavam de Paraíba. Ah, mas por que venderam? Mas pera aí, se não vende você vai pôr pra jogar? O Coritiba, hoje, não sei que tipo de clube é.

E qual a saída?

Pra mim a saída é a base. Continua sendo a base, sempre. Mas uma base de jogadores locais.

De longo prazo?

De longo prazo, a perder de vista. É entender que hoje, infelizmente, nosso momento é esse. Como é que vamos competir com 14, 15 times que têm aí no Brasil.

Vou até citar a disparidade com o próprio Atlético, questão estrutural...

O Atlético, pô. Os coxas ficam puto comigo, mas o que Petraglia começou a fazer na década de 90 nós não conseguimos fazer ainda.

E a tendência é aumentar a distância?

Do Atlético pro Coritiba? Se nós não começarmos, sim. Se não começarmos a tendência é que o Atlético comece a ter ganhos com aquilo que plantou antes de a gente começar a plantar. Não plantamos nada ainda, né? Essa é a diferença. E nós não temos uma ideia, não temos um padrão. Quando digo ‘nós’ é o Coritiba. O Atlético Paranaense não tem jogador de 400 mil reais. O Coritiba nos últimos anos tinha. A culpa é do jogador? É óbvio que não, a diretoria que oferecia dinheiro pra esses caras... Só que uma hora a conta vem. A conta do Coritiba veio. Eu, por exemplo, jogava no Coritiba e tínhamos ali uns sete, oito jogadores que ganhavam mais de 150 mil. Aí a pergunta que te digo é a seguinte, o Coritiba tinha tamanho pra pagar isso pros jogadores? Não tinha, infelizmente não tinha. E infelizmente fez. Então pra mim é muito simples. O Atlético tem uma plantação, ele plantou. E você quando planta começa a colher as coisas. O Coritiba tem um terreno, mas esse terreno tem que ser adubado, plantado, coisa que a gente, por várias razões que desconheço porque estive fora durante 20 anos, ninguém o fez. Coritiba é um clube em que todos que assumiram desde lá de trás, excetuo na história só o seu Aryon Cornelsen que fez algo imaginando o Coritiba pra frente. Os outros todos, cara, imaginaram o Coritiba de momento. Momentos legais, outros nem tão legais, mas protegia-se o momento sem imaginar algo pra frente. Hoje a gente está pagando a conta.

Mudando de assunto, quanto tempo você acha que vai demorar para mudarmos a organização do futebol brasileiro?

Enquanto os clubes não sentarem, tomarem um café...

Mas você acha que muda algum dia?

A tendência, pra mim, é que mude – não sei quando. O que acontece é que pra você competir é preciso ter adversários fortes. Vai começar a criar uma disparidade muito grande. As pessoas falam em espanholização, mas não concordo por que na Espanha é forte. O Real Madrid não vai ali e ganha fácil do Valladolid. Não tem essa distância tão grande. Ela pode ser grande técnica, dentro do campo, que aí uma jogada de um puta jogador ele ganhe o jogo. Mas no dia a dia a diferença não é tão grande e aqui no Brasil ela vai se tornar cada vez maior. Pra mim, o principal são os 40 clubes de Série A e B dissociarem da CBF. Mas respeitando o momento. E não com aquele papo furado da história. Por exemplo, o Guarani tem uma história linda, mas está morto na Série B. E o Operário se organiza nos últimos anos e fica fora de uma organização dos caras. Sei lá, um time grande está na Segunda Divisão da liga, mas os caras puxam pra primeira por causa da história. Pra mim, a primeira coisa é mérito do momento se você for fazer a liga. Vai acontecer? Espero que sim, mas realmente não sei quando.

Você vê uma maneira de isso acontecer hoje?

Hoje só tem um jeito. Alguém quebrar o estatuto da CBF, que foi feito para que as coisas sigam assim. O que a CBF faz? Paga uma mesada para as federações para votarem lá quando tiver eleição.

E qual o tamanho do malefício dos estaduais para os grandes clubes?

Total, 100%. Mas ele tem que seguir, ele não pode acabar, na minha visão. Só que ele não necessita dos grandes jogando com os times principais.

Só com os times menores, pra revelar jogadores, funcionaria?

Acho que sim. Acho que tem que tentar. Pra mim, o mercado regula. Sabe uma coisa que tem no Brasil que me chama muito a atenção? Tem um monte de gente que se diz jogador de futebol, não recebe em dia nos últimos dez anos e ainda insiste naquele sonho. Eu acho isso pesado pra esse cara. Então, assim, o mercado também tem que regular. Existem divisões estaduais, regionais, mas o cara entende o tamanho dele. E nós, no Brasil, achamos que todo mundo que serve pra jogar no Coritiba serve pra jogar no Flamengo – e não é verdade.

Pros meninos que vêm me perguntar como é que é eu falo: você pode ser jogador de futebol, mas você pode ser jogador nível Real Madrid ou nível Série D. Você deixa de ser jogador? Não. Só que você não é nível Champions League, é nível Série D. Te serve ser nível Série D? Ah, não me serve, então vou fazer um outro caminho. Mas tem que se proteger o jogador da Série D, tem que se proteger esse jogador que ainda quer jogar um campeonato paranaense. Mas para proteger esse, você não pode ir contra um interesse maior de mercado, que são dos principais times. Os principais times Atlético Paranaense, Coritiba, Paraná, Londrina, aqui no Paranaense, joga com um time B, joga com um time de juniores. Mas o torcedor tem que entender se o Coritiba perder a final do Paranaense para o Arapongas, é um time de 18 anos perdendo pro profissional do Arapongas.

Pra não virar aquela coisa de o Coritiba não tem interesse no Paranaense. Por que chega um momento, e eu vivi isso também, os caras achavam que nosso time de 2013 podia ser campeão brasileiro. Não, não podia. Chega uma hora que falta. E que falta investimento ou jogador. Falta perna. O calendário te aperta. Então falta elenco. O time do Palmeiras do Felipão está rodando 26 jogadores de boa qualidade. O vigésimo sexto do Palmeiras seria titular em outros times do Brasil. E a gente entende, mas não consegue aceitar isso. A gente está falando de regionais, mas nos 27 estados não são todos que têm estadual. E tem uns que tem estadual e não tem nacional. Então temos que falar dos casos específicos. Como é no Paraná? É diferente do Amapá. Como é no Pará? É diferente do Rio Grande do Sul. Então os estaduais têm que ter um tratamento especial, mas tratado estado a estado.

O que tem te chamado atenção no Brasileirão? Na Copa do Brasil o VAR entrou em ação de forma polêmica...

O VAR pra mim não é polêmico. Só valorizou uma arbitragem ruim. O VAR tem que existir. Agora, o cara vai lá, vê o vídeo e apita o que viu. Não inventa moda. O cara [árbitro Wagner Nascimento Magalhães] do Cruzeiro, por exemplo, contra o Corinthians. É ridículo o que ele fez. Ele viu que não foi pênalti. Não precisa dar pênalti porque o cara chamou. Entendeu? Já erraram em chamá-lo, mas já que chamou conserta o erro. Uma coisa é lance interpretativo, outra é lance claro. Não foi nada, não relou no cara.

E o que falta na arbitragem brasileira, profissionalismo?

Arbitragem brasileira é o seguinte, a gente apita pros grandes e os times de menor expressão que vão sofrer com isso. Isso não é de hoje, é histórico. Eu joguei em times considerados grande e em times considerados menores, na dúvida era o grande.

Mas mesmo no Cruzeiro e Corinthians?

Na hora o cara quis foi colocar o Corinthians no jogo. Ali é óbvio, o cara deixa claro. Ele viu que não foi pênalti, vou pôr o Corinthians no jogo e ver o que acontece. Tanto que ele se assunta e dá a falta no Dedé depois muito mais [pensando] ‘não era isso que eu queria, só queria o Corinthians no jogo, não comandando o resultado’. Fica difícil. Então o problema não é o VAR, é a interpretação que a gente dá pra isso, a forma como os árbitros olham o futebol brasileiro.

E quem é a revelação do Brasileiro?

O Éverton [já teve destaque no ano passado], mas acho que nesse ano ele se efetivou. Virou o melhor atacante do futebol brasileiro, está jogando uma barbaridade [no Grêmio].

Têm boas revelações, têm bons jogadores. Por exemplo, esse Bruno Guimarães, do Atlético Paranaense, é muito bom jogador. Controla o meio-campo, tem algo fantástico a favor dele que tem o Lucho [González] do lado dele todos os dias. Pra aprender com o cara. Quem acompanhou o Lucho sabe o jogadoraço que foi.

O menino do Palmeiras, Hyoran, que já estava na hora de jogar com mais frequência e conseguiu jogar bem. O menino do Corinthians, o Pedrinho, quando entra, entra bem. Ainda não é, mas se mostra com potencial. O menino do Santos, Rodrygo, é muito bom jogador. O Zé Rafael se firmou, tinha expectativa nele no Coritiba, no Londrina, agora se firmou. Parece que acertou com o Palmeiras, vamos ver como vai ser. O Raphael Veiga tem sido o Veiga do Coritiba com um plus de mais experiência, mais bagagem, e de novo volto no Lucho.

Quando você tem um cara desse no teu elenco, tem que usar o cara, tem que usufruir do cara. Se ele não joga 90 minutos, ele te oferece alguma coisa. Acho que essa molecada do Atlético, se senta tomar uma garrafa de vinho com o Lucho e ele oferece experiência...

Você tem relação com ele?

Não, só de adversário. Cruzo com ele em Curitiba de vez em quando. Adoraria ter, mas não tenho...

O menino que era do Sport, Patrick, está jogando muito bem mesmo. Têm bons jogadores, mas [nenhum] pra falar ‘esse cara aqui apareceu e vai se adonar do negócio’.

Era previsível o Felipão chegar no Palmeiras e fazer esse trabalho?

Era, porque o Palmeiras tinha um bom time. O Roger não foi mandado embora por resultado, foi mandado embora pela posição política do clube. Os caras precisavam de alguém pra parar de falar de política e falar do futebol. O nome do Felipe é muito grande dentro do clube. É óbvio que ele teve uma sorte maior do que o nome dele. Com o Roger também jogava bem, mas às vezes perdia aqui, perdia ali, um resultado negativo aqui, outro ali. O Felipão ainda não teve esse desequilíbrio. Essa semana é pesada pra ele, tem Boca e Flamengo.É uma semana em que pode acontecer [o desiquilíbrio]. Mas o Felipão tem tamanho pra dar uma segurada nisso.

NR: O Palmeiras perdeu para o Boca Juniors por 2 a 0 na quarta-feira (24), no primeiro jogo da semifinal da Libertadores, em Buenos Aires.

Alguns anos atrás, o Renato Gaúcho parecia que não decolaria na carreira. Mas nesse trabalho no Grêmio o salto foi muito grande.

Porque ele quis, né? Treinador é paixão, cara. Pra você estar no futebol tem que estar apaixonado por aquilo. E o Renato se mostrava muito mais apaixonado pela vida dele fora. O que não está errado, tinha uma vida maravilhosa. Mas o que aconteceu? A filha foi crescendo, ele perdeu esse contato diário de pai e filha porque a Carol virou mulher, começou a viver a vida dela. E aí, opa, vamos começar a fazer as coisas diferente. Se você lembrar, o Renato foi vice da Libertadores [em 2007, pelo Fluminense]. Passaram dez anos e ele foi campeão da América. Dez anos é tempo pra cacete. Por isso que falei que não tenho pressa. E ele foi fodido jogando bola, era líder absoluto dos times, não era o capitão de usar faixa, mas exercia uma liderança sem isso. Jogou com monstros, jogou bola de mais. Tem uma personalidade monstra. Criou um personagem e defende esse personagem com unhas e dentes. Tem uma comissão técnica boa, moderna, que trabalha bem. E está trabalhando bem. Virou treinador. Mas é paixão pura, né velho? Se você não tiver isso, esqueça. Em qualquer [profissão], mas se não tiver isso no futebol, esqueça.

E o Cruzeiro do Mano Menezes?

O Cruzeiro do Mano foge do Cruzeiro histórico. Não me agrada, acho morrento. Mas é um time forte, que sabe o que vai fazer. É um time pra ganhar. Você fala vai ver Grêmio ou Cruzeiro hoje? Vou ver o Grêmio. Mas depois você vê o resultado e sabe que o Cruzeiro fez um bom jogo, foi competitivo, que o time foi montado pra isso.

Recentemente você citou em entrevista que o Tite não trouxe nenhuma novidade nas últimas convocações. Tem alguém que está fora que merece a chance?

É difícil de falar pelo seguinte, você tem que ver o que o treinador quer. Qual o desejo do Tite hoje. Esses últimos jogos [amistosos contra EUA, El Salvador, Arábia Saudita e Argentina] foram pra encher linguiça, né? Acho que começa a partir de janeiro visando a Copa América. Eu acho que o time vai partir do Alisson, Arthur e Neymar.

Você elogiou muito o Arthur nessa entrevista...

O Arthur, nos últimos anos, é o maior jogador que vimos por aqui por característica. Não é um cara que vai meter 30 gols por ano, mas vai fazer nego fazer 20, 25 gols por ano porque vai girar tudo em torno dele. E foi pra um clube que faz isso todos os dias. Já ganhou a confiança de todos, vai jogar, vai ser titular. Só não é absoluto ainda pela hierarquia de tempo de Rakitic, de Busquets, desse pessoal todo. Mas vai ser o cara do Barcelona rapidinho. E vai transferir isso pra seleção brasileira. E o resto que jogar do lado dele... a gente é recheado de bons jogadores. E aí a questão não é melhor ou pior, a questão é preferência.

Você é ídolo dele do Neymar. Deu conselhos a ele, falou sobre amadurecimento, sobre ser capitão?

Isso é muito característica e a gente tem que respeitar. Ele pode e deve amadurecer. Estive em Paris e as pessoas falaram assim, quando ele entender um pouco o que é ser Raí ele vai melhorar. Quando os caras falam de ser Raí, não é como jogador, é comportamento. Então ele entender como o francês vive. Acho que o amadurecimento dele passa por coisas pequenas como aprender a falar francês. Como participar do cotidiano do Paris Saint-Germain. É óbvio, vai ter as coisas do Brasil, as coisas festivas, a vida dele vai ser fofoca. Estava namorando com a Bruna Marquenize e vai separar, vai ser fofoca. Com essas acho que ele já acostumou. Mas eu digo na questão do entendimento do que ele é, do que ele representa. Do que essa molecada olha pra ele e quer fazer. Eu sempre brinco o seguinte. Eu olhava Zico e Sócrates. Eu queria ser os caras. Então, por exemplo, sei lá atrás as posições políticas que o Sócrates teve. Hoje eu poderia discutir com eles, como discuti com o Raí muitas coisas do irmão. Essa molecada olha pra ele. Se o Neymar tiver esse entendimento de que não é só o oba-oba, não é só festa, a evolução dele vai ser enorme. E dentro do campo, meu, vai jogar porque o cara é extra-série, o cara é um gênio. Mas acho que temos de cobrar muito mais dele dentro do campo para que evolua para jogar num coletivo do que propriamente de comportamento, por que comportamento é muito individual. O que é muito ruim pra mim pode ser muito legal pro outro.

E dentro do grupo ele parece ser muito querido...

Todo mundo adora o cara, desde que surgiu no Santos. E no nosso meio do futebol todo mundo gosta do cara.

Mas você se preocupa com a imagem dele como espelho, a questão de simulação...

Tenho, óbvio que tenho [preocupação]... A molecada imita. Imita cabelo, imita roupa. Você acha que não vai imitar [simulação]? Você vê a comemoração do Cristiano Ronaldo, que se joga e pula de costas. Se você assiste jogos da molecadinha, os caras fazem.

Você conversa com seu filho sobre isso?

Claro, como a gente fazia com Pelé com o soco no ar, como a gente fazia com Zico correndo apontando pra torcida. Como o Ronaldo consagrou o dedinho. Os caras são ícones, velho. E aí o cara tem que ter esse entendimento. E acho que o Neymar vai ter. Agora, a cobrança vai ser sempre muito forte porque ele é diferente, o cara é extra-série e num outro período dividia-se mais a idolatria. Hoje em dia há muitos bons jogadores, mas em termo de idolatria estão muito longe dele. Ele vai ter que entender isso também.

E como está a vida de pai de tenista? Você viaja assistir aos jogos?

NR: Maria Mauad, filha mais velha de Alex, de 14 anos, conquistou os primeiros pontos na ITF (Federação Internacional de Tênis) no ranking mundial juvenil (até 18 anos), no início de outubro.

Não viajo mais por essa questão de ela ser filha de um ex-jogador de futebol profissional chamava a atenção no ambiente e tal. E ela própria chegou num momento que tinha quer fazer uma definição de quem viaja... treinador, preparador físico, mãe, pai. Eu sou o último da lista. Ela conquistou os primeiros pontinhos dela e ficamos sabendo de longe. Até para que ela jogue e obtenha as coisas por ela mesma. Ela brinca que trabalha para um dia eu dia eu que seja o pai dela e pare com essa história que ela é minha filha.

Você conversa com ela sobre a carreira?

Só sobre comprometimento. De entender que tem muita coisa na vida, principalmente na idade dela, que ela não pode fazer. Não cabe pra ela naquilo que ela quer. É uma opção dela. E eu nunca virei e falei assim ‘você não pode fazer isso. Isso aqui não se deve, mas a escolha é tua’. Eu já fui atleta, já passei por isso. Entre ir numa festa e namorar, eu tinha que ir dormir.

E ela entendeu bem?

Acho que está no último momento. Quando ela começou a jogar tênis imaginávamos dois momentos. Transição de 12 pra 14 anos. E a transição de 14 para 18 anos, que é a que ela está vivendo, que consideramos mais difícil porque a parte social pega muito. Você estuda, têm amigos da escola. Hoje em dia a juventude quer beber aos 14, quer antecipar muitas etapas. E o que eu mostro é que não dá tempo, o esporte não perdoa o tempo. E ela pratica um esporte que você precisa de resultado. Ter esse entendimento de que precisa dormir, comer bem, treinar. E que se fizer tudo direitinho... pode dar errado. Então, aos poucos, ela é muito consciente disso. Diria que é uma mini profissional, mas com uma discussão muito grande dentro dela porque tem 14 anos.

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