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Tadeu Natálio treina no Jardim Botânico: 40 anos no esporte e a estimativa de 100 mil km percorridos | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Tadeu Natálio treina no Jardim Botânico: 40 anos no esporte e a estimativa de 100 mil km percorridos| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

"É o esporte mais democrático que existe", diz Tadeu

A ideia era ajudar um amigo interessado em divulgar um condomínio próximo ao Parque Tingui, em 1996. Com 198 inscritos, foi a primeira das dezenas de provas organizadas por Tadeu Natálio.

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Quarenta anos de corrida, 52 maratonas, 100 mil quilômetros percorridos, 320 medalhas, 3 mil alunos em academias, 1.200 pessoas incentivadas a correr. Ao menos 25 destas estarão hoje na 13.ª Maratona de Curitiba. Em co­­mum, o treinamento ou mesmo o apoio do professor de educação física Tadeu Natálio, 54 anos. Precursor na organização de corridas de rua na capital, ele acumula provas, amigos e o orgulho de cada um que viu assumir o esporte co­­mo um compromisso.

Acordar muitas vezes de madrugada, cuidar da alimentação, estudar bastante e gerenciar uma agenda apertada com treinos, aulas e projetos sociais todos os dias foi a única maneira de ele chegar até aqui. Um longo percurso.

O atletismo começou aos 14 anos no Colégio Estadual do Paraná e lhe rendeu saúde, diversão e uma profissão. Torceu para não passar no vestibular de Medicina, sonho dos pais poloneses, então moradores da casa paroquial da Igreja do Abranches. Queria cursar Educação Física. Ele estava certo do seu potencial. Um talento que seria moldado com diversas especializações, nacionais e internacionais, e sustentado pela disciplina.

Perfeccionista, ao mesmo tempo que excede nas cobranças ganha o respeito dos seus comandados. "Ele é sério, eficiente, profissional, nunca faltou a uma aula", conta a advogada Sumaya Chede Cansini, de 45 anos e 25 deles sob as orientações de Natálio. "Todos os exercícios têm uma explicação. Quem está aqui adora e o clima é de família. Tanto que a gente pode contar que muitas vezes ele é rabugento", revelou, acompanhada pelos risos da colega de turma, a também advogada Rosane Canmfilde, aluna há 13 anos.

Tamanha exigência nunca abalou a fidelidade do engenheiro e empresário Rogério Carvalho, de 62 anos e 30 sob orientação do professor. "Trabalho no Ecoville e atravesso a cidade para ter aulas com ele na academia Fabrika (próxima à Praça do Expedicionário). No caminho devo passar por umas dez academias, mas não troco", afirmou.

Um outro grupo povoa as atividades do professor. Eles são a extensão de sua paixão: a corrida. Tadeu Natálio correu em pista, mas logo foi aumentando suas distâncias. Na primeira prova de 3 mil metros chegou em segundo. Depois, conquistou o recorde paranaense dos 5 mil metros em 1972, mesmo ano da sua primeira maratona. Era reserva e acabou escalado de última hora para percorrer 13 voltas no Autódromo de Pinhais.

"Não estava preparado, quando terminou eu não conseguia parar de correr, meu corpo não respondia. Tiveram de me segurar e me enrolaram em cobertores", relembra. O sacrifício valeu o segundo lugar e uma semana com autorização especial para usar o elevador, pois suas pernas não suportavam o esforço de subir as escadarias do Estadual.

Depois disso, aprendeu ainda mais a correr, lição ensinada a todos que rejeitam o desafio. "Quem fala que não gosta é porque não sabe", garante o professor. Desde 1996 ele organiza tradicionais provas de corrida de rua da cidade (leia matéria nesta página) e fundou a Associação Procorrer.

Vitórias por tabela

Para cada atleta, ele – que também tem no currículo a preparação física de Coritiba, Paraná, Pinheiros e Colorado – tenta uma solução. Da singela dica do tênis adequado para acabar com as dores nas pernas da cantora de coral Beatriz Prochmann, à companhia lado a lado para a empresária Christine Ditchfield cumprir a meta de uma maratona em 3h30, até a palavra que a jornalista Magaly Schlossmacher precisava para acreditar que voltaria a andar.

Assídua em provas de menores distâncias sob os treinos de Natálio, Magaly sofreu um acidente de carro em 1992, então com 38 anos. "Foi igualzinho à menina da novela (Luciana interpretada por Alinne Morais em Viver a Vida). Fraturei duas vértebras e não sentia nada do pescoço para baixo", contou. No hospital, pediu para o marido ligar para seu treinador. "Sempre confiei muito no Tadeu e sabia que ele teria algo para me falar. Ele chegou bem perto do meu rosto e me disse: ‘Você vai voltar a correr’", relembra. Dois anos depois ela completou a sua primeira maratona.

A felicidade dele quando lembra da cena é a mesma ao enaltecer tantas outras conquistas alheias. A última aconteceu nesta semana. Fruto do projeto social comandado por Natálio com 50 crianças e jovens, Hederson Alves Estefani (400 m e 400 m com barreiras), 17 anos, foi selecionado pela Con­­federação Brasileira de Atletismo para um projeto focado na Olim­­píada de 2016.

E com certeza uma nova satisfação ocorrerá hoje. No quilômetro 38, antes de mais uma subida no caminho dos maratonistas já exaustos, uma barraquinha da Procorrer será montada. "Esta­­remos lá fazendo a maior festa para incentivar os corredores", promete. Um gás para o esforço derradeiro de quem corre. Alegria para quem vê, mais uma vez, desafios sendo superados.

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