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O estado febril abre algumas gavetas da mente que estavam esquecidas e emperradas. Os trinta e todos graus do fim de semana me levaram até o Paranaense de 1992, cujo desfecho completa 20 anos neste mês. O último campeonato no estado decidido por dois clubes do interior, o que por si só já faz dele um torneio histórico.

Aquele ano inteiro, aliás, foi pitoresco. O que hoje conhecemos por CNT era Rede OM, a primeira rede brasileira de televisão com sede fora do eixo Rio-SP. Clodovil apresentava um programa noturno no estilo Hebe, direto da Ópera de Arame. Uma intensa disputa judicial – ou talvez um marketing bem enjambrado – empurrava pra lá e pra cá a exibição de Calígula, prato principal do cardápio de filmes da emissora. E havia Galvão Bueno narrando futebol.

Sim, houve um ano em que Galvão Bueno não trabalhou na Globo. Um ano de Olimpíada. Todo domingo lá estava ele no Mesa-Redonda, com Fernando Gomes, Lombardi Júnior, Sicupira, Marcelo Ribeiro e mais gente que eu certamente não lembro. Galvão narrou o São Paulo de Telê conquistando a América, o título que abriu os olhos do Brasil para a Libertadores, empunhando um microfone curitibano. E também narrou Londrina e União Bandeirante, no Café, valendo título estadual.

A essa altura é possível que o leitor já esteja mandando rezar uma missa – ou soltando um rojão –, pois escrever que Galvão narrou Londrina x União Bandeirante no Café só pode ser delírio causado por uma febre rara e mortal. Aos descrentes, recomendo: vão ao YouTube.

O Londrina tinha um timaço. A zaga Márcio Alcântara e João Neves parecia ter saído de um filme do John Wayne. Tadeu era um craque. Alexandre marcava como volante e aparecia no ataque como um meia. Roberto era um lateral-esquerdo promissor. Cláudio José, um legítimo matador. E Aléssio era jovem. O União era encardido, difícil de ser batido, além de ter contribuído para o folclore futebolístico com o gorducho goleiro Anselmo, o habilidoso meia Tainha e o zagueirão Amarildo Chicletão. Um time de linhagem inegável.

O Coritiba, uma baderna como era comum na época, caiu no colo do minotauro em algum beco de mais um labiríntico campeonato concebido pelo Moura. O Atlético, outra baderna como era comum na época, ainda levou heroicamente o duelo semifinal com o Londrina para os pênaltis. E o Paraná, com a base campeã da Série B meses antes, jogou no lixo um título que parecia seu ao parar no União na semifinal, também nos pênaltis.

Sobraram os "caipiras" para uma final de três jogos, dois empates, uma vitória do LEC e a honra de ser o único clube do estado campeão com a voz mais famosa da tevê esportiva brasileira gritando "Éeeeeeee... É do Londrina!" Febre alguma produziria uma história tão fantástica.

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