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Slim deixa uma pequena montanha de pó na mesa de café. Ele corta e cheira. Ele corta de novo. Eu cheiro um pouco... Há um momento de arrependimento, seguido por uma profunda tristeza. Depois vem uma onda de euforia que tira da minha mente todos os pensamentos negativos. Eu nunca me senti tão vivo, tão esperançoso – nunca senti tanta energia. Andre Agassi, tenista, relatando em Open, sua autobiografia, o consumo de metanfetamina em 1997 (época da foto acima). | Stringer/AFP
Slim deixa uma pequena montanha de pó na mesa de café. Ele corta e cheira. Ele corta de novo. Eu cheiro um pouco... Há um momento de arrependimento, seguido por uma profunda tristeza. Depois vem uma onda de euforia que tira da minha mente todos os pensamentos negativos. Eu nunca me senti tão vivo, tão esperançoso – nunca senti tanta energia. Andre Agassi, tenista, relatando em Open, sua autobiografia, o consumo de metanfetamina em 1997 (época da foto acima).| Foto: Stringer/AFP

Cobrada, ATP não explica por que protegeu tenista em 1997

Nova Iorque - A polêmica revelação de Andre Agassi deve causar problemas para a Associação dos Tenistas Profis­­si­­onais (ATP). Ontem, tão logo to­­mou conhecimento da confissão do norte-americano, a Agência Mun­­dial Antidoping (Wada) afirmou que entrará em contato com a ATP para elucidar o caso. Como o tenista já se aposentou, ele não pode mais ser punido.

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"Cristal" era combustível nazista

A substância que Andre Agassi confessou ter consumido em 1997 era um dos combustíveis das blitzkrieg, batalhas-relâmpago dos exércitos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Metanfetaminas em forma de comprimido eram distribuídas em grande quantidade para os soldados, como forma de mantê-los acordados.

Somente entre abril e julho de 1940, foram enviadas para as tropas 35 milhões de cápsulas de Pervitin e Isophan, medicamentos que continham a substância. Em 1942, uma circular aos soldados com procedimentos para detectar e combater o cansaço indicava o uso da droga. O consumo de duas doses de dois comprimidos era sugerido para manter os soldados acordados por 24 horas.

"As coisas não estão para brincadeira, e espero que vocês vão entender se eu só conseguir escrever a cada dois ou quatro dias. Hoje, estou lhes escrevendo principalmente para pedir-lhes para me enviar um pouco de Pervitin", escreveu à família, em 1939, Heinrich Boel, combatente do exército nazista que, em 1972, seria o primeiro alemão a receber o Nobel de Literatura no pós-guerra.

Altamente viciante, a droga tem como reações adversas mais frequentes arritmia cardíaca, insônia, irritabilidade e agitação nervosa. Em alguns casos, é recomendada para tratamento de distúrbios do sono, déficit de atenção, obesidade mórbida e descongestionamento nasal.

Os efeitos mais comuns da metanfetamina são o aumento da euforia, do estado de alerta, da autoestima e da sensibilidade. Consumida por via oral, injetável, inalada, fumada ou por mucosas, costuma ter efeito imediato.

Londres - O ex-tenista Andre Agassi, dono de oito títulos de Grand Slam, admitiu ter usado a droga metanfetamina, conhecida como "cristal", e mentido para as autoridades do esporte para evitar uma punição. Em sua autobiografia, publicada em capítulos pelo jornal inglês The Times, o norte-americano descreve com franqueza como seu assistente o apresentou à droga em 1997, quando ele vivia um mau mo­­mento nas quadras e tinha dúvidas sobre seu relacionamento com a atriz Brooke Shields.

"Slim (maneira como ele se refere ao assessor) deixa uma pe­­quena montanha de pó na mesa de café. Ele corta e cheira. Ele corta de novo. Eu cheiro um pouco... Há um momento de arrependimento, seguido por uma profunda tristeza. Depois vem uma onda de euforia que tira da mi­­nha mente todos os pensamentos negativos. Eu nunca me senti tão vivo, tão esperançoso – nunca senti tanta energia", es­­creveu Agassi, que agora tem 39 anos e administra uma fundação de ensino a jovens carentes de Las Vegas.

Campeão de Wimbledon em 1992, do Aberto dos EUA em 1994 e do Aberto da Austrália em 1995, quando era um rebelde de cabelos compridos, Agassi despencou para abaixo do número 100 no ranking mundial no fim de 1997, quando sofreu uma lesão no pulso. Um ano depois, ele começou um novo regime de treinamento que abriu o caminho para uma recuperação incrível em sua carreira, o levando a completar o Grand Slam com o título do Aberto da França em 1999. Ele terminou 1999 como número 1 do mundo, após a conquista do segundo título do Aberto dos EUA, e ainda venceu mais três Abertos da Austrália antes de se aposentar, em 2006.

"Pedaços de verdade"

Agassi relembrou um mo­­mento em 1997, quando recebeu uma ligação de um médico a serviço da Associação dos Te­­­nistas Profissionais (ATP), que in­­­formou que ele tinha sido flagrado num exame de doping pa­­ra o uso de drogas. "Meu nome, minha carreira, tudo agora está em jogo. Tudo que conquistei, tudo pelo o que trabalhei, pode não representar mais nada. Dias depois eu sentei numa cadeira dura e escrevi para a ATP. Estava cheio de mentiras com pedaços de verdade", disse Agassi.

Nenhum medida foi tomada contra Agassi naquele momento, mas sua admissão de que usou drogas pode colocar em dúvida um jogador considerado por muitos como um dos melhores de todos os tempos. Agassi disse que não estava preocupado com o impacto de sua confissão junto aos fãs.

"Fiquei preocupado por um momento, mas não por muito tempo", disse. "Meus sentimentos sempre estiverem escritos no meu rosto. Na verdade eu estava emocionado por contar toda a história ao mundo todo", prosseguiu o ex-tenista.

A autobiografia de Andre Agas­­si, Open, será lançada no dia 9 de novembro.

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