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Veja mapa com as viagens do Atlético |
Veja mapa com as viagens do Atlético| Foto:

Depoimento

Napoleão de Almeida, jornalista e narrador na 91 Rock.

Aventura pelo Norte mostra: Rogério Ceni tinha razão

Quando Rogério Ceni disse que não queria voltar a disputar uma Copa do Brasil – coisa que não faz desde 2003 –, a obviedade da frase não se resumia ao poder da Libertadores. Rogério falava de viagens como a que o Atlético fez – e eu acompanhei – a Vilhena, Rondônia, pela democrática competição.

É um estado novo, colonizado por sulistas. Achar algum paranaense por lá é fácil. Difícil é conviver com a pouca infraestrutura. Apenas um pequeno e acanhado aeroporto, com dois vôos diários para pouco menos de 50 sortudos. Como o Atlético lotou a aeronave com atletas e comissão técnica, restou-me outro trajeto: descer em Ji-Paraná, a 380 quilômetros, e encarar um ônibus.

A distância não é maior que Curitiba-Londrina. Mas a estrada e as paradas em recantos como Presidente Médici e Cacoal esticam a viagem para sete horas. Eu pulei em Vilhena às 23 h, 14 horas depois de deixar Curitiba.

Logo fui conhecer o Portal da Amazônia, palco do jogo. Há poucas horas da partida, o estádio estava em obras. Achei um ponto de telefone no meio da torcida do Vilhena. Era dali que faria o relato com muita chuva nas costas. Ao menos o espaço era coberto, o que possibilitou que eu pudesse montar o equipamento sem molhá-lo. Enquanto a hora do jogo se apro­­ximava, a chuva piorava. Nem isso impediu o prefeito da cidade, Zé Rover, de fazer uma preliminar com empresários e amigos. A exibição, grotesca, ofendeu o gramado, aos olhos do passivo delegado da CBF na região.

A bola rolou, o Atlético empatou por 2 a 2 e a narração dos gols foi respeitada pela torcida, para minha sorte. Mas ainda tinha a viagem de volta. Desta vez consegui me incluir no único voo da quinta-feira. Nem a delegação atleticana conseguiu vir ao todo. Os colombianos Serna, Vanegas, o atacante, o técnico Antônio Lopes e o diretor Ocimar Bolicenho foram os únicos a voltar no primeiro dia. Depois de mais 8 horas no ar, cheguei a Curitiba. Missão cumprida, por ora. Daqui a uns dias, tem Luverdense e Coritiba, no interior de Mato Grosso. Que inveja do Rogério Ceni!

O Atlético reviveu esta semana o futebol das origens. Foram seis dias de viagem, com 5.964 quilômetros percorridos, para realizar uma única partida. O confronto com o Vilhena, em Ron­­dônia, na quarta-feira, pela Copa do Brasil, não será mais esquecido pela de­­legação rubro-negra, tamanhos os percalços que teve de enfrentar.

Até a realização da partida, tudo corria dentro do cronograma. O pesadelo começou no re­­tor­­no a Curitiba. A chuva e a falta de estrutura do Aeroporto Bri­­ga­­deiro Camarão, de Vilhena, de­­ram início à via-crúcis atleticana.

A delegação precisou ser divida em três núcleos para deixar o Norte do Brasil, depois de ter o voo de retorno, na quinta-feira, cancelado. A companhia aérea Trip não conseguiu alocar todos em um único avião e fracionou o grupo. O prejuízo pela longa viagem só não foi maior porque a Fe­­deração Paranaense de Fute­­bol não programou rodada para o Estadual neste fim de semana.

"Se tivéssemos rodada de fim de semana, teríamos de ter outras alternativas, como voltar por via terrestre. Mas também seria desgastante", observou o diretor de futebol Ocimar Bo­­li­­cenho.

E alternativas não faltavam. Um grupo de moradores de Vi­­lhena se ofereceu para levar a de­­legação de carro até outras cidades de maior porte, mas com preço nada camarada. Custaria R$ 300 por pessoa, sendo que cada automóvel comportaria apenas quatro. Só com gastos em passagens aéreas, estadia e alimentação o Atlético desembolsou R$ 37, 5 mil.

"Gastaríamos R$ 12 mil para que nos levassem a Cuiabá, que fica a 760 quilômetros, ou Porto Velho, a 700 quilômetros. Ima­­gine mais este gasto?", indagou o dirigente, que é contra jogos em pequenas cidades.

"Sou favorável a todos participarem. A Copa do Brasil é a competição mais democrática que temos, mas a cidade precisa ter o mínimo de estrutura. Esses jogos devem ser sempre nas capitais", su­­geriu Bo­­licenho.

O preparador físico Riva Carli teve de reprogramar as atividades para tentar manter a rotina de trabalho, com musculação em academia. Por outro lado, o elenco teve algumas horas de folga para sair do hotel. "O lado psicológico é mais afetado que o físico e é preciso deixar eles quebrarem as regras. Não há quem aguente ficar preso em hotel e aeroporto uma semana", acrescentou Riva.

Sem opção a não ser esperar a confirmação do retorno, os jogadores procuraram esquecer os problemas e descontrair. Com uma equipe jovem, média de idade de 23 anos, brincadeiras e gozações não faltaram.

"Nossa! Trinta homens juntos não dá. Ainda mais a molecada com os hormônios à flor da pele, tem de sair de perto. O jeito é que levar na brincadeira. E o Patrick se encarrega disso", contou Rho­­dolfo.

Netinho, um dos mais experiente do grupo, acredita ter "so­­frido" mais que os colegas. "Ima­­gine que eu fiquei com o Tartá no quarto. Aquelas histórias cariocas que ninguém mais aguenta e ele ligado 24 horas por dia, foi muito complicado", disse, aos risos, o meia, ansioso por chegar em casa. "Tudo bem que todos gostamos muito um do outro, mas uma semana juntos já é demais. Quero ir para casa", brincou Netinho.

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