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Meu nome é Jackson Nas­­­ci­­­mento. O Atlético faz 90 anos hoje, 26 de março. Completo a mesma idade em agosto, no dia 24. Termos nascido no mesmo ano, em 1924, não foi mera coincidência. Sou o segundo maior artilheiro da história do clube, com 143 gols, e joguei no Furacão de 1949.

Nasci em Paranaguá, mas me criei em Antonina, onde fiz o primário. Com seis anos, já tinha mania de jogar futebol. Meu primeiro presente de Papai Noel foi uma bola. Jogava num barracão, punha roupa para marcar as traves, o que passava pelo alto era gol. Lá em Antonina eu já ouvia falar do Atlético. Meu pai, José Tomaz Nascimento, era atleticano e Flamengo. Comecei a jogar no Clube Atlético Antoninense, time que meu pai era presidente.

VÍDEO: Jackson fala sobre a relação dele com o Atlético

Em 1935 nós nos mudamos para Curitiba. Passei a estudar no internato Liceu Rio Branco. O dono do colégio, Aníbal Borges Carneiro, era conselheiro do Atlético e amigo do meu pai. Os dois me levaram para o clube. Foi quando começou a minha história na Baixada. No ano seguinte comecei a jogar e em 1939 passei a atuar pelos médios, como era chamada a categoria inferior.

Também entrei na faculdade de Engenharia. A vontade da minha família era que eu estudasse. Futebol não era uma expectativa de vida para mim. Contraí tifo e tive de parar com as duas atividades por dois anos. Tive medo de nunca mais chutar uma bola.

Voltei para o Atlético em 1942, agora para integrar os aspirantes. Também ingressei na faculdade de Direito. Dois anos depois virei profissional, titular na meia-direita. Em 1945 conquistei meu primeiro título Paranaense, já como meia-esquerda.

Em 1946, 47 e 48 não fomos campeões. Casei com a Glycinia, com quem vivo até hoje. Ela também vai completar 90 anos, em setembro. O tempo foi fundamental para maturar o maior time que eu joguei, aquele chamado de Furacão, apelido que o Atlético passou a carregar.

Em 1949 nós estávamos prontos. Foram 10 vitórias seguidas. Depois, quando já éramos campeões, ainda vencemos o Coritiba e perdemos para o Ferroviário. Marcamos 49 gols. Caju e Laio, dois goleiros excepcionais, Waldomiro, Sanguinetti, Nilo, o ataque de Viana, Rui, Neno, Jackson e Cireno, sob a batuta do técnico Motor­zinho. Saudade.

Fui para o Corin­­­thians, em 1950. Para quem era um caipira de Antonina, cidade com 3 mil habitantes, foi um feito ter jogado no Maracanã para 60 mil pessoas. Lá de São Paulo continuava acompanhando tudo sobre o Atlético. O Furacão foi sendo desfeito. Nada dura muito tempo.

Voltei para o Atlé­­tico em 1952. Na temporada seguinte fui o artilheiro do Estadual, com 21 gols. Resolvi me aposentar com 30 anos. Não era mais jogador, era um torcedor em campo. Continuei ligado ao clube. Em 1958 o técnico não estava dando conta e formei uma comissão com o Caju e o Pedro Sthengel Guimarães. Fomos campeões estaduais.

Não quis seguir como treinador. Minha profissão de advogado não permitia. Ser técnico exige muito. A maioria é apenas apitador de treino. Fui convidado várias vezes para ser diretor de futebol. Ia porque gostava do Atlético. Teve o grande time do Jofre Cabral, de 1968. Bellini, Djalma Santos, Zé Roberto, Sicupira e Nilson Borges. Queria muito ter jogado com o Sicupira. Ele exibia um futebol bonito. E bom moço, bom filho, bom pai, bom amigo.

Fui me distanciando do gramado. Participava na área social. Eu me dava com todos os presidentes, era o único jogador sempre convidado para os aniversários dos dirigentes. Mas tinha medo dessa convivência. Preferia ficar na minha rodinha de ex-atleta. Mais do que advogado, sou o Jackson do Atlético. Ninguém vai me dizer se fui bom ou ruim. Fui um grande jogador e não tenho vergonha de dizer. Por que não vou dar importância ao que fiz?

Recordo ainda a comemoração do título de 70. Ouvi pelo rádio a vitória sobre o Seleto, lá em Paranaguá. Eram tempos difíceis. Em 1981 me aposentei como advogado-geral da União. Passei a me dedicar a pesca e a caça. Acompanhei os times de 1982 e 83. Gostava do Assis, um meia elegante.

Jamais deixei de ir aos jogos. O Waldomiro, que também jogou no Furacão, passa aqui em casa e vamos juntos. Nem ele nem eu podemos dirigir mais. Mas alguém nos leva até a Baixada. Os torcedores me reconhecem e querem ouvir as histórias do passado. Adoro contar todas.

Tive três filhos: Vera Helena, Vera Lia e Frederico, que faleceu. Tenho três netos e uma bisneta. Moro na Getúlio Vargas. Dá pra ver a Baixada da minha sacada, está ficando bonita. Se quiserem me ver fora da minha educação basta falar mal do Atlético. Eu pulo. E é assim que eu quero continuar, celebrando a minha vida e do Furacão.

Jackson Nascimento fala da Baixada que abrigou o Furacão

Jackson Nascimento, ex-jogador, artilheiro da lendária equipe de 49, relembra os velhos tempos do estádio Joaquim Américo, nas décadas de 40 e 50.

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