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Símbolo do Barça e catalão, o zagueiro Puyol prefere não acirrar os ânimos quando confrontado sobre as diferenças políticas com o Real Madrid | Alejandro García/ EFE
Símbolo do Barça e catalão, o zagueiro Puyol prefere não acirrar os ânimos quando confrontado sobre as diferenças políticas com o Real Madrid| Foto: Alejandro García/ EFE

Torcida

Busca por ingressos derruba o site do Barcelona por duas horas

A procura por ingressos para o clássico derrubou o site do Barcelona. Ontem, às 10 horas, foi aberta na internet a venda de bilhetes via seient lliure – mecanismo pelo qual os sócios comunicam que não vão ao jogo e liberam seu assento, que é revendido com o dinheiro partilhado entre ele, em forma de bônus, e o clube. Em apenas cinco minutos foram 12 mil pedidos por entradas que custavam de 94 a 359 euros. O fluxo fez o sistema travar e ficar fora do ar por quase duas horas. Para quem conseguiu fazer a compra, havia duas alternativas para ter o ingresso em mãos: imprimir em casa ou retirar na bilheteria do Camp Nou. A reportagem optou pela segunda maneira e, em menos de cinco minutos, após exibir cartão de crédito e passaporte, além de enfrentar uma curtíssima fila, já estava com o bilhete. Por causa da enorme procura, o Barcelona restringe o credenciamento do clássico a quem cobre o clube durante toda a temporada.

A política é o tempero do maior clássico da Espanha. Seja pelos três séculos de espera por uma Catalunha independente, seja pelas cicatrizes dos 37 anos de ditadura militar do General Franco, Barcelona e Real Madrid sempre se enfrentam com um pé no gramado e outro na história. O primeiro confronto da temporada 2013/14 , amanhã, às 14 horas (de Brasília), no Camp Nou, será realizado em meio a um acirramento deste cenário.

O I Fórum Econômico do Mediterrâneo Ocidental, realizado quarta-feira, em Barcelona, antecipou a disputa do campo. Mariano Rajoy, presidente da Espa­­nha, evitou ao máximo a presença de Artur Mas, governador da Catalunha. O temor era de que Mas politizasse o encontro com sua cruzada separatista, mais forte desde o início da crise econômica espanhola – estiveram presentes na conferência os governos de Portugal, França, Itália, Malta, Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Mauritânia.

O governador Mas acabou convidado, porém, teve presença protocolar e breve. Rajoy criticou a separação da Catalunha em seu discurso. "O moderno é a união, não a desintegração", afirmou.

Em outras palavras, foi o mesmo dito por um dos maiores ídolos do Barcelona. Ex-jogador e técnico do clube, Johan Cruyff demonstrou, em entrevista à Rádio Catalunha, certo tédio com as reivindicações. "Quando cheguei aqui nos anos 70, já se queixavam do mesmo: do dinheiro que não nos dão. Estamos copiando a época de Franco. Sou uma pessoa que quer juntar coisas ao invés de separar", comentou.

A opinião de Cruyff se opõe à postura do Barcelona. O clube transformou um dos seus mais fortes e lucrativos símbolos em ícone pró-Catalunha. A camisa 3, amarela e vermelha, copia a senyera, bandeira catalã. O sucesso é absoluto. Pelas ruas é mais fácil encontrá-la até mesmo que o modelo tradicional, azul e grená. O lote inicial esgotou já no primeiro dia, inclusive na loja do Camp Nou, campeã de vendas da Nike no mundo. Em casas especializadas, o terceiro uniforme chega a ser responsável por 50% das vendas de camisas do time.

A escolha da senyera para a temporada tem forte viés político. Ano que vem completa 300 anos do fim da Guerra da Sucessão, na qual a Catalunha entrou independente e saiu como província do reino espanhol. É o ano em que Artur Mas pretende realizar um plebiscito para definir se os catalães desejam seguir vinculados à Espanha – o Barça seguiria jogando La Liga.

Mas pertence à Con­­ver­­gência Democrática, par­­tido que governa a Catalunha desde 1980. A legenda teve como um de seus fundadores Jaume Rosell, diretor do Barça nos anos 70 e pai do atual presidente do clube, Sandro Rosell.

"O Barça se converteu na nova religião laica da sociedade catalã, a última peça do magistral quebra-cabeça construído pelos separatistas", escreveu o jornalista Javier Montilla no livro Los Muros de Cataluña, lançado neste ano.

Os jogadores procuram se manter à margem da política. Um dos seis catalães que devem começar o clássico, Carles Puyol foi diplomático ao ser questionado, pela Gazeta do Povo, se vencer o Real o faz se sentir mais catalão.

"Me sinto igual. Me sinto muito orgulhoso de ser catalão e mais contente ainda se ganho. Os catalães também ficam felizes. Eles e gente de fora, que são muito importantes para o Barcelona, pois são todos culés [apelido do time]", afirmou.

Um discurso pouco alinhado ao sentimento das arquibancadas. Em todo o jogo no Camp Nou, aos 17 minutos e 14 segundos (referência a 1714, o ano em que a Catalunha foi anexa­­da à Espanha), o público se le­­vanta e grita pela indepen­­dência. Amanhã, contra o Real, com milhares de culés vestindo a camisa da senyera, o clamor será mais forte. Pela história, pela conturbada semana política e pelo futuro que a Catalunha espera construir tendo o Barça como um poderoso instrumento.

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