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Paulo Sérgio só soube que a empreitada era na Arena da Baixada quando chegou para o primeiro dia de trabalho | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Paulo Sérgio só soube que a empreitada era na Arena da Baixada quando chegou para o primeiro dia de trabalho| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Na massa batida, nas ferragens armadas, no piso assentado, na parede pintada... Enquanto concluíam cada etapa da obra, um conflito interno misturava orgulho e uma pontinha de inveja. Realização por participar da construção de uma das mais importantes obras recentes de engenharia do estado. De outro lado, o sonho de ter um estádio de Copa do Mundo para chamar de ‘seu’. E não do maior rival.

Foi com a contribuição de muitos operários coxas-brancas que a Arena da Baixada se tornou um dos 12 palcos do Mundial de 2014 – e, neste domingo (21), abre seus portões para o primeiro Atletiba.

A vitória é o palpite de trabalhadores ouvidos pela Gazeta do Povo, apesar do péssimo momento do time na zona de rebaixamento. Mas eles não vão torcer in loco pelo ‘carimbo’ alviverde no clássico. O preço impede o acesso de quem colocou a Baixada de pé pela entrada de serviço.

Trabalhar no território inimigo foi um desafio. “Presto serviço para empresa e quando fui chamado para mais essa empreitada, não sabia que era aqui. Se eu pudesse, não vinha”, brincou o auxiliar de serviços gerais Paulo Sérgio dos Santos, 47 anos. “Mas, a gente precisa do trabalho. Só que seria muito melhor se fosse para construir um estádio para o Coritiba, claro”, acrescentou.

“Não eram só operários, não. Muitos engenheiros coxas ocupavam cargos importantes. A gente brincava que a obra estava atrasada por causa deles”, disse o engenheiro responsável – e atleticano – Luiz Volpato.

Ele contou que no fim de cada etapa, havia jantares de confraternização nos quais sorteavam brindes e era impressionante a “sorte” dos rivais.

“Sempre quem ganhava as camisas do Atlético eram os coxas. Aí era aquela pegação no pé, falando que ia virar quadro na sala, tal”, lembrou.

Havia os trabalhadores mais tímidos, que preferiam esconder suas preferências no Caldeirão. Outros faziam questão de demarcar o espaço rival. Foi assim com algumas pichações com o nome do Coxa – devidamente apagadas.

Alguns ainda ousavam em usar manto verde e braço por baixo do uniforme de trabalho e – de preferência – dar um jeito de exibi-lo, em provocação a atleticanos que passavam diariamente para apreciar a edificação.

Eles se sentiram ‘vingados’ e comemoraram como uma goleada quando, na única visita à obra rubro-negra, a presidente Dilma Rousseff foi vestida com um blazer verde. O estafe atleticano se apressou a arranjar um cachecol do clube para amenizar a gafe.

“Rolava bastante provocação, piada, coisa normal da rivalidade. Nada ofensivo. Eu costumava brincar: ‘olha só os atleticanos dependendo dos coxas-brancas’”, contou o armador Jurimar Engel, de 50 anos.

E foi com a contribuição de coritibanos, atleticanos, paranistas, haiatianos ou até de quem não estava nem aí para futebol que se formou um exército de 3.500 profissionais diretos e outros 1.500 indiretos imprescindível para a reforma do estádio.

“Nunca tinha trabalhado numa obra tão apurada. Era muita coisa para fazer e chegou um momento que a gente achava que não iria dar tempo de ficar pronto no prazo previsto. A obra virava a noite”, relembra o também armador Marcos Antonio Freitas Taborda, de 53 anos. “Mesmo sendo ‘deles’, ficou uma beleza o estádio. Dá orgulho na gente”, revelou, apostando em 2 a 1 neste domingo – para o Coritiba.

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