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Jovens das categorias de base tiveram de lidar com a falta de estrutura, que acarretou baixo rendimento escolar e nos gramados | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Jovens das categorias de base tiveram de lidar com a falta de estrutura, que acarretou baixo rendimento escolar e nos gramados| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Parceria

Bernardi: "Perdi muito dinheiro"

Responsável por administrar as categorias de base do Paraná nos últimos dois anos, o sócio da Base, Renê Bernardi, afirmou que cansou de investir dinheiro do próprio bolso no Ninho da Gralha. Desiludido por não conseguir ter o retorno financeiro que esperava no início do projeto, quando desembolsou cerca de

R$ 12 milhões na construção do centro de treinamento em Quatro Barras, Bernardi deixa os prodígios tricolores se defendendo das contestações e criticando a falta de valorização dos seus jogadores.

Após quatro anos sem conseguir gerar frutos, o empresário da construção civil culpa a queda do clube para a Segunda Divisão do Brasileiro, em 2008, e o afastamento do sócio, Marlo Litwinski, que sofreu um acidente de moto, no final de 2009, como os principais motivos para o fracasso da parceria. "O clube ficou sem dinheiro e foi obrigado a fazer parcerias com empresários para montar o time. Revelamos muito pouco nestes quatro anos porque o espaço dos garotos estava preenchido", defendeu-se.

Segundo o mandatário, a concepção do contrato entre as parceiras não foi bem realizada. "No mínimo uns cinco ou seis meninos deveriam ser obrigados a estarem no grupo. Estando no elenco, o técnico está olhando e um ou outro vai acabar tendo chance", revelou.

A falta de oportunidade para os garotos acabou minando os lucros que o empresário poderia ter com a venda de jogadores. De acordo com Renê Bernardi, o único dinheiro que ele ganhou desde 2008 foram R$ 600 mil, com a venda de Kelvin para o Porto, de Portugal.

No acordo com a diretoria paranista, o dono da Base irá ser ressarcido dos investimentos feitos no Ninho da Gralha com a participação no percentual da transferência de jogadores e com fatias das receitas com patrocinadores e televisão. "Saio satisfeito pelo clube, que ganhou um CT sem gastar nenhum tostão. Mas saio insatisfeito por ser tachado de mercenário, sendo que perdi muito dinheiro investindo no Ninho".

  • Com o fim da parceria, o Paraná vai administrar o CT do Ninho da Gralha

De projeto-modelo a um negócio malsucedido. O centro de formação de atletas Ninho da Gralha, em Quatro Barras, se transformou em uma dor de cabeça para a diretoria do Paraná. Com uma estrutura pa­­ra abrigar cerca de cem jovens jogadores, o complexo esportivo do Tri­­color foi definhando ao longo tempo e iniciou o ano no caos.

Nos últimos meses, os candidatos à craque têm encontrado uma realidade bem diferente da que imaginavam. Desde o segundo se­­mestre do ano passado, os meninos, que têm idade entre 14 e 20 anos, estão tendo de lidar com a fal­­ta de refeições, o baixo desempenho escolar e o fraco rendimento den­­tro de campo.

Os problemas são reflexos do abandono a que o centro de treinamento foi submetido desde 2008, quando foi inaugurado. Admi­nis­tradas pela Base (sigla para Bom Atleta Sociedade Empresarial) – que foi criada para construir o CT, de 241 mil m² – as categorias inferiores do clube não ergueram nem um troféu sequer no período da parceria.

Além disso, a formação pessoal dos piás do Ninho também decepcionou. Em 2010, ao final do ano letivo, cerca de 90% dos atletas que estão alojados no CT foram reprovados. A maioria por não frequentar as aulas.

Para Clau Júnior de Paulo, diretor do colégio Arlinda Ferreira Crep­live, onde estudam 30 meninos da base, a falta de uma boa alimentação foi o principal motivo do alto índice de reprovação. Com aulas à noite, os estudantes-atletas chegavam para o turno escolar ten­­do recebido apenas o café da manhã e o almoço.

"Eles cortaram o lanche e o jantar dos meninos, que se sustentavam de biscoitos. Ti­­vemos de co­­meçar a oferecer comida na cantina antes das aulas porque muitos acabavam passando mal de tanta fome", afirmou.

O diretor garantiu que chegou a pensar em denunciar o Paraná e a empresa Base para o Conselho Tu­­telar por abandono intelectual e de incapazes. "Percebemos que quase todos estavam chegando cansados nas aulas, dormindo na sala. Só não oficializei a denúncia porque conversei com a pedagoga do Ninho da Gralha e ela me disse que as coisas melhorariam neste ano", explicou Júnior de Paulo.

A situação tornou-se tão precária que itens básicos, como cebola, óleo e massa de tomate desapareceram das despensas do CT. Pro­­du­­tos de limpeza, como detergente e sabão em pó, precisaram ser levados de casa pelos próprios funcionários.

Além das prateleiras vazias, a im­­pontualidade no pagamento dos salários dos empregados e da ajuda de custo aos garotos agravou a crise. Na última terça-feira, os atrasos salariais – que para alguns alcançou sete meses – culminaram na paralisação das atividades. Somente após o acerto de parte dos valores, no meio da tarde, os trabalhadores descruzaram os braços.

Sem dinheiro para bancar a ma­­nutenção dos funcionários, o Ninho foi esvaziado. Desde quando entrou em operação, em 2008, até o início deste ano, o quadro de trabalhadores caiu pela metade. Cargos importantes como o de psicólogo, dentista e inspetor deixaram de existir.

O cenário catastrófico e a falta de rumo na administração interromperam a parceria entre Base e Paraná com apenas um terço da duração do contrato. Programada para durar 12 anos, a sociedade será oficialmente desfeita nos próximos dias.

No acordo firmado entre a diretoria paranista e o sócio majoritário da Base, Renê Bernardi, o atual contrato será rescindido de forma consensual. Com isso, além da gestão das categorias de base voltar a ser unicamente do clube, os direitos econômicos dos jovens jogadores, que eram divididos em 50% para cada um dos parceiros, também retornam integralmente para as mãos tricolores.

"Vamos profissionalizar as ca­­tegorias de base. Estamos elaboran­do um plano de trabalho para voltar a revelar grandes jogadores", garantiu Celso Bittencourt, superintendente geral do Paraná, admitindo que custos devem ser cortados com a diminuição no número de jovens no CT.

O presidente paranista, Ru­­bens Bohlen, segue na mesma linha. "Ali que está o salto de qualidade do clube. Não precisa ficar contratando jogador a torto e direito. A solução está em Quatro Barras."

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