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Fedato foi o primeiro grande ídolo da torcida do Coritiba | Arquivo Coritiba
Fedato foi o primeiro grande ídolo da torcida do Coritiba| Foto: Arquivo Coritiba

Fedato Sports

Loja de material esportivo projetou ainda mais o ex-zagueiro alviverde

A relação de Fedato com o futebol não se encerrou com o fim da sua carreira de jogador profissional, em 1958. Contador de profissão, o ex-zagueiro foi incentivado pelo seu patrão, Elias Abdo Bittar, a abrir uma loja de material esportivo. De 1965 a 2002, a Fedato Sports foi não só a maior referência do ramo na cidade, como tornou-se um ponto de encontro do futebol. Localizada perto da Boca Maldita, era frequentemente visitada por jogadores e dirigentes, que passavam horas discutindo com Fedato e distribuindo autógrafos a torcedores sortudos que passassem por ali.

"A Fedato era a loja dos meus sonhos. Passa ali só para olhar a vitrine. Sonhava em ter as camisas, os calções. Minha primeira chuteira foi da marca Fedato. O mundo esportivo circulava por ali", conta o jornalista Paulo Krauss, biógrafo do Estampilla Rubia.

Curiosamente, um dos impulsos iniciais à Fedato Sports foi dada por um atleticano. Jofre Cabral e Silva, presidente rubro-negro, encomendava uniformes para o Furacão na loja.

A Fedato Sports chegou a ter dez unidades, entre Paraná e Santa Catarina. A chegada de grandes redes a Curitiba, nos anos 90, tirou espaço da loja no mercado. A morte de Dirce, mulher do ex-jogador, em 1995, diminuiu seu entusiasmo com os negócios. A última unidade foi fechada em 2002.

Artigo

O assobio do Fedato

À medida que o elevador se aproximava do 11º andar, o assobio ia ficando mais forte. A porta se abria e Fedato me recebia com um abraço caloroso e um sorriso doce. Ele mantinha o braço em torno do meu pescoço e ombros, enquanto me levava ao "escritório".

Não era exatamente um aposento de trabalho, mas um pequeno museu do futebol paranaense dentro daquele apartamento a 500 metros do Couto Pereira. Recortes de jornais, fotos, camisas, faixas de campeão, tudo guardado com carinho desde os anos 40 e 50.

Era ali que Fedato passava a maior parte do dia, desde que se aposentara da loja que fundou nos anos 60. Foi ali que, juntos, preparamos seu livro de memórias.

Confesso que as pernas tremiam na primeira vez que peguei o elevador. Havíamos sido apresentados por seu filho, Aroldinho, que me convidara para ajudar nas memórias, um sonho antigo do pai. Aceitei de imediato, mas com um frio na barriga.

O assobio alegre, o sorriso e o abraço do primeiro e de todos os nossos encontros me tranquilizaram. Ainda hoje quando penso em Fedato lembro do elevador subindo e do assobio se aproximando. Fedato foi a pessoa mais afável que conheci.

Fedato trabalhou com entusiasmo no livro, todo dia escrevia algo. No começo, usava a máquina de escrever. Depois de uns dois meses, com quase 80 anos de idade, Fedato aprendeu a digitar no computador. Praticamente toda a pesquisa para a edição estava ali mesmo no escritório-museu.

A grandeza do Fedato jogador é notória. Como empresário, também teve um papel importantíssimo na sociedade paranaense. A Fedato Sports sempre apoiava o esporte amador, patrocinava até corrida de rolimã no parque São Lourenço. Fedato criou a marca própria, com bolas, camisas, calções, chuteiras e agasalhos bem mais baratos que as marcas famosas. Ele achava importante haver artigos esportivos com preços mais acessíveis.

O Fedato jogador, perdemos em 1958, quando ele parou de atuar. O das lojas saiu de cena em 2002, com a aposentadoria do empresário. O Fedato que nos deixa agora, para mim, era o mais importante. Perdemos o Gentleman, como até os adversários o chamavam nos tempos de jogador. Aroldo Fedato era educado, amoroso, muito elegante, mas uma pessoa humilde, que cumprimentava com a mesma simpatia o porteiro ou o dono do prédio. O Paraná perde um dos maiores cavalheiros que já teve.

Paulo Krauss, jornalista e co-autor do livro Fedato – O Estampilla Rubia (Travessa dos Editores, 2006)

  • Encontro de gigantes: Fedato cumprimenta Leônidas da Silva em partida do Coritiba com o São Paulo na década de 40
  • Ídolo coxa-branca Fedato com a camisa e faixa de um dos títulos que conquistou pelo Alviverde
  • Fedato, campeão paranaense pelo Coritiba em 1946
  • Fedato e Alex estiveram no ano passado no lançamento do livro Eternos Campeões que conta a história de ídolos do Coritiba
  • Fedato fez a primeira partida pelo Coritiba em março de 1943. Depois, foram quase 15 anos de clube
  • Neste período, Fedato conquistou sete títulos estaduais
  • Fedato também defendeu a seleção paranaense entre 1944 e 1956
  • Depois de encerrar a carreira, ele abriu uma rede de lojas de artigos esportivos, a Fedato Sports
  • Capitão e titular absoluto, Fedato comandava a zaga coxa-branca
  • Encontro de ídolos alviverdes: Fedato e Krüger no Estádio Couto Pereira

Aroldo Fedato passou a vida inteira ao lado do Coritiba. Durante 15 anos de carreira, toda com a camisa verde e branca, saltou de revelação a ícone no clube. Foi sete vezes campeão estadual e se notabilizou pela elegância, liderança e disciplina. Após pendurar as chuteiras, avistava da janela de casa, no Alto da XV, o Estádio Couto Pereira, onde será velado hoje. Aos 88 anos, o ídolo coxa-branca, vítima de complicações respiratórias, deixou uma das mais ricas histórias do futebol paranaense,

A vida inteira de Fedato girou em torno do Estádio Couto Pereira.

Quando trocou Ponta Grossa por Curitiba, meses depois de ele nascer, em 1924, a família do ex-jogador se instalou nas cercanias do campo coritibano, na Rua Sete de Abril. Nos torneios amadores do Alto da XV, como centroavante do Atlanta ou do Itália, chamou a atenção de Altair Cavalli, funcionário do Coritiba que o levou para o clube. Vestiu por 15 anos o uniforme alviverde.

MEMÓRIA: Veja algumas fotos de Fedato

Ao encerrar a carreira, passou a morar em um apartamento na esquina da Ubaldino do Amaral com a Amintas de Barros, com vista para a casa alviverde. A casa onde entrará hoje, pela última vez, para ser velado.

Maior zagueiro da histó­­ria do Coritiba, sete vezes campeão estadual (46, 47, 51, 52, 54, 56 e 57), capitão do único time que defendeu em jogos oficiais ao longo de quase toda a sua carreira (entre 43 e 57), Aroldo Fedato, o Estampilla Rubia, morreu ontem, em Curitiba, aos 88 anos, vítima de pneumonia. Deixa três filhos, seis netos, cinco bisnetos e uma das mais ricas histórias do futebol paranaense.

"A vida dele se confundiu com a história do Coritiba. Foi uma das figuras mais técnicas que vi jogar. Uma figura extraordinária, líder, homem com capacidade de comando impressionante", diz o jornalista Carneiro Neto, colunista da Gazeta do Povo e companheiro de Fedato na edição paranaense na Grande Resenha Facit, mesa-redonda de televisão no final dos anos 60.

Integrante do Grupo He­­lê­­­­nicos, pesquisadores do Coritiba, Guilherme Costa Straube faz uma transposição capaz de traduzir a importância do ídolo às novas gerações de coxas-brancas. "Ele seria um Alex que passou 15, 16 anos no Coritiba."

Em 2012, no lançamento do livro Eternos Campeões, o próprio Alex entrou na fila para pedir autógrafo e posar para fotos com Fedato. No twitter, o capitão alviverde prestou sua homenagem ao antigo capitão. "Muita luz à família do ídolo Fedato nesse momento. Muitas vezes ouvi seu Fedato contar histórias a respeito do Cori. Obrigado por tudo", postou.

Histórias que Dirceu Krüger também ouviu ao longo das muitas conversas semanais com Fedato, repetidas por anos a fio, em caminhadas pelas arquibancadas do Couto Pereira. "Vi muito ele jogar quando era moleque. Em um tempo de muito chutão, era um zagueiro muito técnico. Não era de chutão", conta o Flecha Loira. "Era uma bandeira coxa-branca", complementa.

Fedato não era de chutão. Nem de gols e pontapés. Ao longo da carreira, balançou a rede apenas duas vezes: em um Atletiba, em 1949, e contra o Água Verde, em 1951. O jogo limpo rendeu a ele o Prêmio Belfort Duarte, em 9 de novembro de 1951. Honraria entregue a jogadores com mais de 200 partidas oficiais sem receber punição esportiva pelo período de dez anos. O grande orgulho da sua carreira.

"Ele mostrava o prêmio por orgulho. A Confederação [Brasileira de Desportos, precursora da CBF] dava aos ganhadores do Belfort Duarte uma carteirinha que dava o direito de entrar em qualquer estádio e sentar na tribuna de honra. Ele andava com a carteirinha pra lá e pra cá", conta o jornalista Paulo Krauss, co-autor de Fedato – O Estampilla Rubia, autobiografia do ex-jogador.

O apelido de Estampilla Rubia foi dado pela imprensa boliviana, após Fedato defender o Botafogo em uma série de amistosos pelo país, em 1947. A alcunha combinava sua marcação colada no atacante, como um selo (estampilla, espanhol), com seus cabelos loiros. Foi a única experiência internacional dele. A outra, a convocação para a Copa Rio Branco de 1948, possibilidade cogitada pela CBD em um telegrama para Fedato, acabou se tornando a única frustração da carreira de Fedato.

"Ele reconhecia que não foi para a Copa de 50 porque foi muito mal no amistoso do Coritiba contra o Vasco, em 1947, treinado pelo Flávio Costa, que era técnico da seleção. O Coritiba perdeu por 7 a 2 e ele reconhecia como a pior partida da sua carreira", conta Krauss.

O corpo de Fedato será velado no Couto Pereira, hoje, a partir das 7h30. O enterro está marcado para 16h30, no Cemitério Municipal. Em nota, o Coritiba lamentou a morte de um dos maiores ídolos da sua história e decretou luto. Uma história que teve o estádio coxa-branca como casa dos primeiros ao último dia da sua vida.

Fedato, ídolo coxa-branca

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