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Depois de parar de jogar no fim do Brasileirão, Alex pretende iniciar estágios na Europa para começar a carreira de treinador | Albari Rosa / Gazeta do Povo
Depois de parar de jogar no fim do Brasileirão, Alex pretende iniciar estágios na Europa para começar a carreira de treinador| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo

Alex deflagra hoje, às 16 horas, contra o Figueirense, os últimos momentos antes da "morte". Daqui a dez jogos, o ídolo alviverde, de 37 anos, colocará fim na carreira. Uma despedida precoce, na avaliação do meia, provocada pela decepção com a gestão alviverde. Um processo doloroso, nostálgico e que o levou ao divã.

"Busquei uma terapia para suportar o final. É uma vida que se encerra. É mais ou menos um enterro. Quando você perde alguém, está ali em um velório, passa muita coisa daquela pessoa que vai ser enterrada. No caso, a morte é a da minha profissão", comparou, prevendo um dia muito difícil quando enfrentar o Bahia, no Couto Pereira, dia 7 de dezembro.

Como último desejo, quer disputar todas as rodadas até o adeus. "Serão, então, 1.036 jogos em quase 20 anos, em dois continentes, muitas competições, muitas partidas, muitos treinadores, muitos jogadores, alguns atritos, várias alegrias, algumas tristezas", elencou.

Para resgatar um pouco do passado e falar do futuro do camisa dez, a Gazeta do Povo convidou cinco fãs do jogador para entrevistar o craque. Tostão, ex-jogador e colunista Gostaria de saber do seu futuro. Existe a possibilidade de jogar nos Estados Unidos? E depois, vai continuar no futebol como comentarista, técnico ou em outra função?

Havia a possibilidade de ir para os Estados Unidos, mas não vou, por uma decisão pessoal mesmo. Então, meu último jogo será contra o Bahia e vou parar de jogar.

Minha ideia é ser treinador. Vou buscar conversar com algumas pessoas ligadas ao futebol. As pessoas falam ‘estágio’, eu chamo de conversas.

Com tempo, sem preocupação. Não vou parar em dezembro e ser treinador daqui a seis meses. Vou pisar um pouco no freio, sair um pouco de cena buscando uma preparação.

Vou procurar alguns treinadores com quem eu não trabalhei, como o Abel Braga. Outros como Paulo Autuori, Zico, Levir Culpi, Muricy Ramalho. Com Luxemburgo falo sempre, mas quero agora falar como um postulante a técnico.

Alguns treinadores também de fora, como Pierre van Hooijdonk, que conheci na Turquia, hoje é treinador da seleção olímpica holandesa. O futebol da Holanda me interessa bastante. Vou passar um tempo em Amsterdã e Roterdã com ele. Se eu conseguir contatar de alguma forma também gostaria de falar com o Guardiola e o Mourinho.

E vou em algum centro espírita falar com o Tim, o Ênio An­­drade, o Telê Santana (risos).

E como seria o Alex treinador?

Não sei.

E como não seria?

Esse que fica gritando muito. Que fica muito preocupado com a vida pessoal do jogador, isso eu não faria. A gente tem de ter a liberdade suficiente e a consciência da nossa responsabilidade. Cobrar organização, interesse, horário. Acho ridículo. Não cabe no futebol profissional. Diogo Portugal, humorista

O Alex é idolatrado, como se fosse Jesus na Turquia! Se isso fosse verdade, quem seria seu Judas, quem te traiu, seria o Felipão por não ter te levado para a Copa?

Na Turquia, o Judas foi o presidente do clube, Aziz Yildirim, isso é inegável [divergências com o treinador Aykut Kocaman fizeram Alex rescindir o contrato com o Fenerbahçe, sem o respaldo da cúpula do clube].

O Felipão eu não considero Judas. Ele era um treinador que naquele momento tinha de fazer as escolhas dele e, infelizmente, eu fiquei de fora. Mas, como pessoa, acho que o Felipão falhou comigo, por tudo que conversávamos antes daquela Copa [2002]. Isso faz 12 anos, já passou. E não volta.

Você fez sucesso por todo clube que passou, e mesmo com várias propostas milionárias você optou voltar e terminar sua carreira no Coritiba. Isso foi por amor ou você pensa em ser presidente no futuro?

Essa é uma boa pergunta. As pessoas me colocam em cargos do Coritiba, dizem que eu voltei com plano de futuro. Na verdade, voltei por um sentimento infanto-juvenil. De poder encerrar a carreira no meu clube. Tanto que ninguém pode falar de dinheiro comigo. Assinei o contrato que o [presidente] Vilson Ribeiro de Andrade me ofereceu. Se fosse mais ou se fosse menos eu também assinaria. Um contrato simples, duas folhas, li e assinei. A única situação que discuti foi que tudo estivesse na carteira. E não receber parte como direito de imagem. Não tenho intenção nenhuma de cargo político no clube, como profissional do futebol minha vida no Coritiba se encerra contra o Bahia. Aí eu vou para a arquibancada. Como diz a música [da torcida]: a gente vai para a Mauá mais cedo. Vai tomar um gelo e torcer para o pessoal que está no campo. Dirceu Krüger, ex-jogador do Coritiba

Com um talento tão grande assim, acima da média, o que tanto pesou para você decidir parar?

Tinha condições totais de continuar. Isso ninguém tira da minha cabeça. Até mesmo porque eu treino como os outros meninos. Eu jogo no nível que jogam os outros. Mas muita coisa que está acontecendo no futebol brasileiro e principalmente no Coritiba fez com que eu tomasse essa decisão. 80% do que eu conversei com o Vilson e o [Felipe] Ximenes não aconteceu. Assim é difícil acreditar nas pessoas.

Então, como eu não me imagino vestindo a camisa de outro clube no Brasil a não ser a do Coritiba, eu resolvi parar. Se pelo menos 50% do acordado fosse cumprido, eu continuaria. No papel era muito bonito. Mas na execução não aconteceu nada. E olha que eu estou protelando. Tinha decidido parar depois do Paranaense.

Fisicamente eu jogaria numa boa. Até porque me divirto muito. As pessoas perguntam se eu não me arrependo. Não me arrependo de nada. É um prazer imenso vestir a camisa do Coritiba.

Acordo 7 horas todos os dias, levo minhas filhas na escola e venho treinar com a mesma satisfação de quando eu tinha 17 anos. Com uma diferença: hoje eu não preciso do futebol. Meus momentos de tristeza não são por mim. São pelos meus companheiros. Dezembro eu vou para casa e o futebol já me ofereceu tudo que eu imaginava. Minha tristeza é alheia, é a dos caras. Quando a gente entra com uma faixa de três meses de salário atrasado, não é por mim. É por esse caras que estão numa correria grande, que têm de sustentar a família, mulher, namorada, filho, família da esposa.

Ouvi muita babaquice nesses dois anos. ‘Ah, o Alex manda no clube’, ‘o Alex tem regalia’. Cumpri ordens como qualquer jogador.

Jogaria tranquilamente. Mas como o que foi acordado não aconteceu, é melhor eu sair e ver de fora. E o Vilson, caso seja ele, ou outro que seja eleito, desenhe alguma coisa e execute para que aconteçam coisas melhores.

Maurício Shogun, lutador de MMA

Qual é a primeira imagem que te vem à mente de um jogo inesquecível?

A imagem com a camisa do Coritiba sou eu, minha mulher e meus três filhos comemorando o título paranaense de 2013. Tive uma ideia maluca depois do jogo de passar o fosso e subir nas sociais para resgatar os quatro. Subi no meio das cadeiras sem segurança, pedindo licença para os torcedores, que estranharam o capitão do time ali. Foi meu único título do Coritiba, já na fase adulta, com a minha mulher que é coxa doente, com as duas meninas que estavam conhecendo o Brasil, com o menino que tinha três anos, é tarado por futebol e não tem como não se tornar coxa-branca. Foi uma loucura, mas foi para comemorar com quem a gente muitas vezes deixa de lado por causa do futebol. Gustavo Fruet, prefeito de Curitiba

Qual o momento de maior emoção na sua carreira? E de maior frustração?

Maior frustração foi Brasil x Camarões na Olimpíada 2000. Fomos para Sydney em um momento complicado do nosso treinador, o Luxemburgo, que estava enfrentando CPI e tudo. A CBF não deu nenhuma estrutura. Jogamos o pré-olímpico em janeiro e de lá até setembro, na Olimpíada, não tivemos preparação alguma. Só dois jogos contra o Chile. Nada de amistoso com escolas africanas, por exemplo, ou da escola de outras seleções que iríamos enfrentar. Acabamos eliminados. Tive várias derrotas. Mas aprendi que o perder e o ganhar é separado por uma linha muito tênue. A maior decepção foi esse jogo.

A maior emoção, com certeza, foi a estátua na Turquia. Por quê? Porque ela partiu da arquibancada. Não foi do clube. Eu achei que era papo de internet até que um belo dia foram ao CT tirar minhas medidas. E quando eu vi, a estátua foi inaugurada, com muita gente na rua, minha família. Uma homenagem em vida.

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