O atacante Getterson durou menos de seis horas no São Paulo. O jogador de 25 anos viria do J. Malucelli, time curitibano que disputa o Brasileiro da Série D, para ficar emprestado até o fim do ano. Mas, pouco depois do anúncio oficial, a diretoria cancelou a vinda. O motivo: tweets do atleta entre 2010 e 2012 com citações ao clube do Morumbi como “bambi”, apelido em tom pejorativo e homofóbico utilizado por rivais do São Paulo.
Em entrevista exclusiva ao Estadão.com, o jogador contou nesta quinta-feira que lamenta ter sido punido por algo que escreveu quando era mais novo e lamentou não ter tido a chance de mostrar à torcida o seu potencial.
Como está se sentindo depois do desfecho?
Estou voltando para Curitiba. Pelo que aconteceu, como já disse para algumas pessoas, foi um brincadeira que fiz com um amigo meu lá por 2010, 2011, quando tinha Twitter. Não tenho acesso mais à conta, perdi o Twitter, perdi a senha, não sei o que aconteceu. Aquilo lá passou e acabou acontecendo.
Então você não conseguiu recuperar a senha?
Perdi. Não mexo nele mais há uns três anos. Para mim nem existia mais, eu nem me lembrava que existia. Foi uma brincadeira que fiz com um amigo. Conversei com a diretoria do São Paulo, decidimos não dar continuidade para me preservar e ao clube também. O torcedor não conseguiu ver que hoje sou uma outra pessoa. Eu era menino, solteiro, jogava em clube pequeno. Hoje sou casado, tenho filho, sou um profissional de verdade. Naquela época eu estava começando, tinha acabado de subir da base. Então não tinha noção do que estava fazendo, apesar de ter sido uma brincadeira. Agora vou tentar recuperar a chance perdida, perdi uma oportunidade na minha vida.
Não tinha como ser evitado. Eu fiz um Twitter com um e-mail que nem tenho mais, perdi a senha de acesso. Impossível excluir o perfil. Não tinha o que fazer. É claro que tenho arrependimento, mas quando se é menino a gente erra
Você ficou muito frustrado?
Com certeza. Fiquei muito triste. Se alguém me visse, ia tomar um susto. Abalou muito. É uma coisa muito diferente. Então a proporção que tomou foi muito grande, me assustei demais com a repercussão. Mas o que mais me preocupou foi não dar sequência ao trabalho no São Paulo. O clube estava me contratando pelo futebol, não pelo que fui no meu passado. Hoje sou profissional, estava louco para vestir a camisa do São Paulo, mostrar meu trabalho. Infelizmente, nem tive oportunidade de mostrar isso, de mostrar para o torcedor quem sou eu de verdade, independentemente de qualquer coisa.
O que pretende fazer agora?
Vou voltar para minha casa, em Curitiba, para o J. Malucelli. Vou sentar com o pessoal para ver o que vai acontecer. Provavelmente vou ficar por lá, continuar treinando. Tenho contrato de mais dois anos ainda.
Getterson, 'bambi' e o erro do São Paulo
Leia a matéria completaFaz tempo que o São Paulo tinha te procurado?
A negociação já rolava há algum tempo. Eles me acompanharam no Paranaense, me viram de perto, não foi uma decisão rápida. Acabou dando certo, mas infelizmente aconteceu esse imprevisto, esse fato no passado que me prejudicou agora.
Você recebeu ameaças?
Não. Eu nem quis acompanhar muito. Fiquei tão abalado com a notícia que eu nem quis ver. Minha mulher acompanhou, ficou muito preocupada comigo, com medo de acontecer alguma coisa. Deu tudo certo. Não teve nada. Não fiquei com medo porque não tive acesso às redes sociais para não gerar nenhum tipo de constrangimento maior. Agora vou pensar no futuro e outra oportunidade vai aparecer.
Você tentou argumentar para ficar no clube?
Foi um consenso de todos. Lógico que eu queria ficar, de tentar esquecer. Creio eu que se fosse estrear, a torcida não ia gostar, não ia agradar. Eu acabaria prejudicando o clube e a mim também. Não queria que acontecesse nada de pior.
Está arrependido?
Não tinha como ser evitado. Eu fiz um Twitter com um e-mail que nem tenho mais, perdi a senha de acesso. Impossível excluir o perfil. Não tinha o que fazer. É claro que tenho arrependimento, mas quando se é menino a gente erra. Na época eu nem pensava em passar pelo São Paulo. Nem no meu melhor sonho eu cogitava isso.
Conversei com a diretoria do São Paulo, decidimos não dar continuidade para me preservar e ao clube também. O torcedor não conseguiu ver que hoje sou uma outra pessoa. Eu era menino, solteiro, jogava em clube pequeno. Hoje sou casado, tenho filho, sou um profissional de verdade. Naquela época eu estava começando, tinha acabado de subir da base. Então não tinha noção do que estava fazendo
Segundo o São Paulo, você informou a eles que não tinha Twitter
Eles me perguntaram se eu tinha rede social. Falei que tinha o Instagram e o Snapchat. Eu nem lembrei que um dia tive Twitter, até porque não mexia há anos. Nem tinha mais acesso. Foi um erro meu de não ter lembrado. Mas acontece.
A torcida reforçou nas redes sociais umas declarações de que você é corintiano. Sonha em jogar lá?
Como objetivo na carreira eu tenho de jogar em um grande clube. Assim como o São Paulo é enorme, o Corinthians é também. Eu estava realizando um sonho de jogar no São Paulo. Mas o Twitter foi em momento em que eu era menino. O Ronaldo Fenômeno era meu ídolo, estava no Corinthians e eu gostava muito do futebol dele. Aí eu falava disso para meus amigos.
Acha que de tudo de ruim que aconteceu para você, pode aparecer como positivo a chance em algum outro clube?
Eu espero que sim. Apesar de ter sido absurdo o que se passou, tomara que Deus abra a porta para algo de bom. Minha mulher ficou chateada também, chorou muito. Agora todos nós estamos tranquilos, nos falamos bastante.
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