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Thicolor mostra parte da coleção de objetos oficiais do Paraná: sempre que vai ao clube, volta com um novo item para casa | Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Thicolor mostra parte da coleção de objetos oficiais do Paraná: sempre que vai ao clube, volta com um novo item para casa| Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Choro, euforia e consolo de adversários

De todas as memórias acumuladas por Thicolor no período em que acompanhou de perto o Paraná, uma delas se destaca na mente do torcedor: a segunda partida da semifinal do estadual de 2001, contra o rival Coritiba.

Após vencer o primeiro duelo em casa, por 3 a 1, o Tricolor viu o rival abrir 2 a 0 logo no primeiro tempo da partida de volta, no Couto Pereira. Ainda no intervalo, Thicolor já chorava desconsolado no setor das arquibancadas destinado aos visitantes.

Nos minutos finais, a aflição era quase insuportável. A torcida alviverde fazia a festa e comemorava a classificação.

Um lance despretensioso, no entanto, calou a maioria do Alto da Glória: nos minutos derradeiros, falta cobrada por Lúcio Flávio da direita, desvio de cabeça de Fernando Miguel para as redes. O gol da classificação. O choro de tristeza dos paranistas logo se transformou em euforia.

Para ir embora, porém, Thicolor pegaria carona com o pai de um amigo, que os aguardava justamente na saída da torcida rival.

Com a camisa do Paraná escondida, os amigos cruzaram o choroso mar alviverde, desconsolado pela eliminação nos minutos finais. Neste cenário, as lágrimas de Thicolor misturaram-se às da torcida rival. Sem saber se tratar de um paranista, os alviverdes vinham em grande número consolar o "companheiro".

"Eu quase fui embora antes do fim do jogo. Mas, justamente por precisar da carona de um amigo, resolvi esperar. Ao final da partida, passei ‘camuflado’ pela torcida do Coxa, chorando de alegria. E todos os coxa-brancas vieram me consolar, achando que eu lamentava a derrota", se diverte Thicolor, rememorando o fato.

Em junho de 2014, o carro do contador Thiago Gabriel Oliveira foi roubado em Curitiba. A má sorte levou o rapaz de 30 anos ao desespero. Não por causa do veículo, mas sim devido à perda de uma camisa do Paraná que estava dentro do automóvel.

"Tinha uma camiseta e uma jaqueta do clube que eu nem sequer havia tirado do plástico. Mas o pior foi a camiseta. Como fui um dos primeiros a comprar, vinha com o símbolo de colecionador. O carro tinha seguro, mas a camiseta era irrecuperável", diz Thicolor, como é popularmente conhecido por causa do fanatismo pelo time da Vila.

"Liguei desesperado para a moça da loja oficial e implorei para ela conseguir outra para mim. Dias depois, alguém devolveu uma igual à que perdi, por causa de um defeito de fabricação. Aceitei na hora", relembra, aliviado.

A relação com a loja do Paraná, aliás, é de fidelidade. Toda vez que vai ao clube, Thicolor compra pelo menos um produto oficial. Camisetas, calções, jaquetas, chaveiros, canetas, bandeiras, e o que mais se puder imaginar, constam na coleção do paranista. Inclusive um capacete de motociclista nas cores tricolores, que custou R$ 180. Detalhe: Thicolor anda apenas de carro.

"Quando minha mãe me viu com o capacete em mãos, quase enlouqueceu. Achou que eu tinha comprado uma moto", recorda. "Mas só comprei para ajudar o clube. Serve de enfeite. Nem pensei em moto nenhuma."

A mãe, Lígia de Oliveira, inclusive está proibida de tocar no acervo tricolor. Veto que veio depois que, ao lavar alguns panos velhos do filho, acabou jogando fora uma camisa antiga do time, já em farrapos, sem dar bola para o apelo sentimental que o uniforme tinha para o filho.Agora, a responsabilidade pela lavagem do fardamento paranista recai exclusivamente sobre a avó, dona Teresinha da Cruz.

Mas Lígia foi substituída à altura na "pegação de pé". Hoje é a namorada – e atleticana –, Manoella Marchesini que incomoda. "Por ser atleticana, não vê com bons olhos. Além de tudo é um dinheiro que a gente podia guardar para outro investimento, algo para o nosso futuro", diz Thicolor. "Mas nada disso importa. Para mim, vale cada centavo."

Além da compra de produtos oficiais, ele colabora com o pagamento de dois títulos de sócio. Um para a reta do relógio, outro para as sociais, locais em que se alterna para assistir aos jogos na Vila Capanema.

Chateado com a situação vivida pela equipe nos últimos anos, Thicolor se apega à esperança de que dias melhores virão. Caso contrário, teme que seu maior medo se concretize: que o futuro filho não possa vivenciar a mesma paixão que o pai nutre pelo Paraná.

"Se eu não me esforçar e ajudar de todas as formas agora, pode ser que meu filho não tenha a possibilidade de torcer no futuro. Quero que ele tenha a possibilidade de sentir o que sinto. Talvez o Paraná não reviva a fase gloriosa dos anos 90, mas precisamos pelo menos de um norte, para que essas crianças possam ter felicidades com o clube", fecha o apaixonado Thicolor, na véspera do aniversário de 25 anos do clube do coração.

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